O spoiler dado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva se concretizou. Os juros para o financiamento no Plano Agrícola e Pecuário 2025/2026 terão teto de 14% ao ano e o produtor terá de pagar mais caro para financiar a safra que começa oficialmente nesta terça-feira, 1º de julho.

No lançamento do programa, em cerimônia no Palácio do Planalto, coube ao ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, as missões de confirmar o que Lula tinha falado no dia anterior, no evento para a agricultura familiar, e de assumir as críticas ao Banco Central (BC) e ao Comitê de Política Monetária (Copom) .

Com a Selic em 15% ao ano, as taxas para os médios e grandes agricultores vão variar entre 8,5% e 14% em 2025/2026. Para 2024/2025 o plano trouxe juros de 7% a 12%, ou seja, a variação foi de 1,5 ponto porcentual no piso e de 2 pontos porcentuais no teto dos juros.

Fávaro admitiu que foi muito difícil chegar aos valores do plano safra e iniciou o discurso com críticas ao BC e ao Copom sobre os juros considerados por ele como “indutores de recessão”.

“Com todo respeito ao (Gabriel) Galípolo e à equipe do BC, não consigo compreender como com inflação controlada, gastos públicos controlados, crescimento da economia, renda crescendo, desemprego caindo, temos uma Selic de 15%”, afirmou o ministro no discurso de apresentação do Plano Safra.

De acordo com ele, com a Selic o Brasil “virou um país de rentistas” e afastou o investidor da poupança, fonte de captação dos recursos para o financiamento agropecuário.

“A Selic era de 10,5% ao ano no mesmo dia do ano passado, ou seja são 4,5 pontos porcentuais a mais e, ainda assim, com todas as dificuldades, o aumento nas taxas de juros (para o Plano Safra) foi de 2%, e o governo absorveu o aumento da Selic com equalização”, ponderou o ministro.

No pronunciamento, Fávaro citou vários antecessores seus no cargo, mas criticou a senadora Teresa Cristina, que foi ministra durante quase todo o governo anterior, deixando o posto apenas para se candidatar.

“Uma grande ministra, mas que tentou cair no mundo da fake news dizendo que não era recorde e os números estão aí”, uma referência às críticas da parlamentar sobre o atual Plano Safra ofertar menos recursos que o anterior.

De fato, mesmo com os juros mais altos, os números do Plano Safra são recordes nominais, como aponta o governo. Mas, se descontada a inflação, o crescimento é negativo, como apontou a ex-ministra e a oposição.

Como noticiado mais cedo, o total de recursos destinado à agricultura empresarial é de R$ 516,2 bilhões em 2025/2026, alta de 1,5% sobre os R$ 508,6 bilhões de 2024/2025 para uma inflação de 5,3% no período.

No pronunciamento final, o presidente Lula até criticou os juros e citou o R$ 1,2 trilhão pagos pelo financiamento da dívida em crescimento com a Selic, mas voltou a minimizar a atuação do presidente do BC, Gabriel Galípolo, escolhido por ele para o cargo.

Segundo o presidente, a Selic em 15% ao ano mostra que “Galípolo está comendo o prato que recebeu e não teve tempo de trocar de comida, mas vai trocar”, sinalizando novamente para uma queda na taxa básica de juros.

Assim como Fávaro, Lula atrelou a possível queda nos juros às baixas do dólar, da inflação e do desemprego e a economia em crescimento. Mas nem o ministro escapou do presidente em novas críticas feitas aos reajustes nos preços da carne e dos ovos.

“Pecuaristas como você, Fávaro, estão vendendo carne no exterior e o povo não comendo carne porque o preço está muito caro. E os ovos, a caixa de 30 dúzias saiu de R$ 140 para R$ 240 e estou até agora sem explicação”.

Lula também comparou os recursos anunciados para a agricultura e pecuária durante o atual mandato com o do governo anterior, de R$ 885 bilhões para R$ 1,722 trilhão. “É um pouco mais que o dobro e é importante mostrar os números para que as pessoas compreendam que não estamos fazendo política de favor para esse ou aquele setor”.

Detalhamento

Dos R$ 516,2 bilhões anunciados para o financiamento do Plano Safra 2025/2026, R$ 414,7 bilhões serão para custeio e comercialização e R$ 101,5 bilhões para investimentos. Na safra passada, os valores foram de, respectivamente, R$ 401,3 bilhões e R$ 107,3 bilhões.

Os valores destinados ao Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) sairão de R$ 65,2 bilhões para R$ 69,1 bilhões entre os períodos e para cooperativas e demais produtores vão crescer de R$ 443,4 bilhões para R$ 447 bilhões, de acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária´.

Resumo

  • Plano Safra 2025/2026 terá taxas entre 8,5% e 14% ao ano, impactadas pela Selic em 15%; governo absorveu parte do aumento via equalização
  • Ministro Carlos Fávaro e Lula criticaram o BC e a Selic alta, classificando os juros como entrave ao investimento produtivo
  • Plano destina valor recorde de R$ 516,2 bilhões à agricultura empresarial, mas crescimento real é negativo quando descontada a inflação