Enquanto multinacionais da produção de insumos e fertilizantes para o agro patinam em um cenário de baixa no preço das commodities e estoques elevados, uma companhia do interior de São Paulo nada contra a corrente e vê seus números crescerem em 2024.

A BRQ Brasilquímica, companhia com sede em Batatais (SP) que atua no mercado de insumos e fertilizantes especiais, faturou R$ 150 milhões no ano passado, e revelou ao AgFeed que a meta é ultrapassar os R$ 210 milhões neste ano, um avanço de 40%.

De acordo com o CEO da empresa, Renan Cardoso, o faturamento sobe enquanto as margens e Ebitda seguem positivos.
Para alcançar esses números e conseguir andar na contramão do mercado, a empresa se transformou há alguns anos, e nos últimos três, cresce entre 35% e 40% ao ano.

Marcelo Fernandes, presidente do conselho da empresa, explica que a BRQ, que foi fundada pelo seu pai há 30 anos, focou suas atividades na produção e venda de insumos para outras empresas produzirem seus fertilizantes durante os primeiros 20 anos.

Porém, há alguns anos muita coisa mudou dentro de casa e agora a empresa aposta na expansão da capilaridade das vendas e na adição de novos produtos ao seu portfólio, investindo em adjuvantes, produtos biológicos e bioestimulantes próprios. Antes focada somente no B2B, hoje a empresa atua também no B2C.

“Passamos a ser uma empresa de multicanais, com biológicos, fertilizantes especiais e insumos. Em 2015 vislumbramos o mercado de biológicos e montamos um reator com recurso próprio. Na época, nem se debatia sobre o fim dos agroquímicos”, diz Marcelo Fernandes.

No setor de insumos, o ano de 2023 foi considerado “morno” por conta da baixa da soja, que, segundo Fernandes, é um fator muito potente para definir os negócios do segmento. Porém, o cenário já era algo mapeado pela diretoria da BRQ.

Enquanto empresas como a Vittia mostram um avanço nos biológicos mas uma baixa em outros produtos, a BRQ afirma que todas as linhas vêm crescendo.

“Fizemos a lição de casa e, com planejamento estratégico, saímos para outros negócios e outras culturas, fazendo a lição de casa”, diz Fernandes.

Renan Cardoso, CEO, explica que a empresa realizou há cinco anos uma mudança na estrutura interna, que foi intensificada nos últimos dois anos. Em 2018, ele assumiu o posto máximo de liderança na companhia, numa reestruturação societária.

Cardoso entrou na BRQ Brasilquímica em 2010 com a missão de estruturar a área contábil da empresa. Após isso, passou pela controladoria e pela diretoria financeira até atingir o posto de CEO.

Avaliando a receita que deve bater os R$ 200 milhões, 40% correspondem às vendas para o B2C e o restante para outras empresas.

O presidente do conselho avalia que quase metade das vendas em geral está concentrada nas matérias primas (como zinco, boro e magnésio), que podem ser utilizadas tanto como insumos para outras indústrias, quanto por produtores mais conservadores que utilizam como produto acabado.

No B2B, a empresa atende a Cofco, Raízen, Usina Batatais e a Cooxupé. No B2C, atende o Grupo Amaggi, do Mato Grosso, e o Grupo Catelan, do oeste baiano. “Se perguntar hoje para qualquer indústria que fabrica fertilizantes, todos conhecem a BRQ”.

Em termos de culturas, a soja é o grande destaque nas vendas. Cardoso afirma que 70% do faturamento se concentra na venda de produtos para as culturas de grãos (soja e milho), cana e algodão, com forte atuação no Centro-Oeste e no Paraná. “Onde tem soja nós estamos presentes”.

A empresa também tem forte atuação na cultura do café e em hortifruti do interior de São Paulo. “Por mais que não sejam grandes produções, a rentabilidade permite usar um produto tecnificado numa cultura do morango ou do tomate, por exemplo”, conta Marcelo Fernandes.

Hoje, o portfólio da empresa inclui adjuvantes, inoculantes, controle biológico, fertilizantes foliares, fertilizantes organominerais, bioestimulantes e sais para a agricultura e pecuária.

A fábrica de Batatais possui uma capacidade de produção de 25 milhões de doses de inoculantes por ano. Nos insumos, são 150 mil toneladas e nos produtos líquidos como foliares e adjuvantes, algo em torno de 700 mil litros por mês, segundo Cardoso, o que daria 8,4 milhões de litros por ano.

Quando passou a atuar com biológicos, a empresa investiu R$ 7 milhões para montar o reator. Hoje, a BRQ não opera com sua capacidade máxima e, segundo Fernandes, quando essa capacidade atingir os 75% a empresa “voltará para a linha de investimentos”.

Apesar da meta de crescer 40% este ano, Fernandes revelou que, pelo ritmo das vendas, tudo caminha para anotar um crescimento ainda maior em 2024.

“O que faturamos no segundo semestre é o dobro do primeiro semestre. Então, o ano está só começando. Julho e agosto mostram que está tudo no caminho e internamente já avaliamos superar os 40% de crescimento. É totalmente possível”, afirmou.

“Essa contramão que andamos hoje é reflexo do planejamento feito lá atrás. Vimos que precisávamos crescer em insumos e entrar no mercado de biológicos e fertilizantes especiais”, conta Marcelo Fernandes.

O CEO da empresa disse que a BRQ lançou 7 novos produtos esse ano, com destaque para o primeiro biodefensivo da empresa. Trata-se de um nematicida que contém quatro cepas de bactérias diferentes.

Segundo Fernandes, o produto é inovador do mercado. Ele explica que cada bactéria tem uma função específica na planta. O nematicida consegue, de uma vez, promover o crescimento, combater o nematóide, matar os ovos e proteger a raíz. “Cada cepa atua de um jeito”. Esse produto atende as culturas de soja, algodão, milho e cana.

Nos cálculos do presidente do conselho, toda empresa do setor precisa lançar no mínimo três produtos novos por ano para acompanhar o mercado.

Por que se lançar no mercado de nematóides? Segundo Cardoso, a cada 10 safras uma é perdida por esse tipo de praga. “Esse é o primeiro produto lançado e nos próximos meses lançaremos o segundo também com registro. Esse é feito com fermentação líquida. Dessa forma vamos aumentando nossa cadeia”, afirmou o CEO.

“Nosso portfólio é completo e atende B2B e B2C. Hoje temos um foco de ir mais para o controle biológico apostando no crescimento desse mercado. Nascemos dos insumos, então somos muito competitivos nesse segmento, e agora estamos com os dois pés nos biológicos”, afirmou o CEO da BRQ Brasilquímica.