Ser a primeira ou a única não é exatamente algo incomum para a produtora rural e empresária, Alessandra Zanotto. Sócia-diretora do Grupo Zanotto, empresa rural na região de Luís Eduardo Magalhães, no Oeste da Bahia, a vice-presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) traz o ineditismo e a fibra impressos no seu currículo.

Suas credenciais ecoam bem longe das fazendas da família. Integrante do Future Farmers Council, fórum internacional de discussões criado pelo banco holandês Rabobank, e única mulher presente no Conselho Oto, da multinacional Syngenta, Alessandra é hoje uma das principais lideranças e referências femininas no agronegócio do País.

Alessandra comanda atualmente um grupo que cultiva anualmente mais de 4 mil hectares, incluindo as diversas culturas. Mas teve de abrir caminho para conquistar um lugar que pertenceu ao seu pai, Dionísio Zanotto.

“Construí uma gestão administrativa”, conta Alessandra. “Na época, meus pais controlavam tudo num caderno e em pastas físicas. Abri um escritório, trabalhei um bom tempo sozinha, depois contratei uma secretária e, assim, as coisas foram acontecendo”, disse em entrevista ao AgFeed.

Foi o algodão que fez com que ela fincasse suas raízes no campo. A cultura não representa a maior área cultivada, mas corresponde a maior parte do faturamento e é a principal responsável pelo crescimento dos negócios.

Além da pluma, o grupo também investe em soja, dona da maioria das áreas plantadas, em plantas de cobertura, como sorgo e milheto, além de pecuária.

A sustentabilidade é uma das principais marcas da sua gestão. Plantio direto, o uso de energia renovável solar em todas as propriedades, coleta seletiva, descarte correto das embalagens de produtos químicos e o manejo controlado da água nas áreas irrigadas, são algumas das boas práticas adotadas nas fazendas.

“Usamos produtos biológicos e fertilizantes naturais na lavoura. Preservamos rigorosamente as nossas áreas de preservação permanentes (APP) e reservas legais (RL), estamos certificados pelos principais programas de sustentabilidade do algodão, ABR e BCI, assim como da soja”, acrescenta ela.

Apesar dos resultados colhidos até agora, as metas seguem ainda mais ambiciosas. Alessandra quer expandir e verticalizar a área, planeja aumentar o uso de práticas sustentáveis e adquirir a certificação de produção regenerativa.

“Queremos ter o algodão e a história do grupo estampados nas roupas de muitas marcas mundo afora, e sermos a melhor empresa do agro para se trabalhar”.

A virada de chave

Baiana de Barreiras, também no Oeste do estado, ela é a segunda filha do casal de produtores Dionísio e Ivone Zanotto. Quando nasceu, a família havia se mudado, há cinco anos, do Paraná.

Apesar de ter vivido a infância na fazenda, o amor pelo campo não nasceu nessa época e nem foi algo voluntário, mas sim uma necessidade. “Por um problema de saúde do meu pai, resolvi largar a faculdade e voltar para casa para ajudá-los na administração da fazenda”, contou ela.

Dessa vez os pais estavam morando em Luis Eduardo Magalhães, também no Oeste da Bahia, onde Alessandra começou a sua jornada no agronegócio, após alguns anos estudando em Goiânia (GO) junto com a irmã mais velha.

“O interesse [pelo campo] surgiu a partir do sentimento de responsabilidade, quando entendi que a saúde do meu pai requeria cuidados. Foi uma verdadeira virada de chave, entender que eles tinham um negócio, não possuíam sócios, contavam apenas comigo e com minha irmã”.

A partir daí ela “colou” no pai, como gosta de destacar, e se tornou uma boa ouvinte para aprender o máximo que podia sobre os negócios.

“Meu pai nunca parou para me ensinar nada, mas me cobrava muito. Eu me estabeleci na cidade, enquanto eles moravam na fazenda. Ele me ligava todos os dias, às 6:30 da manhã, para saber se eu já estava de pé”, lembra Alessandra.

E foi assim, ouvindo, observando e fazendo, que gradativamente ela conquistou espaço à base de muita confiança e trabalho. Entre as mudanças que implementou, abriu um escritório em Luis Eduardo, contratou novos colaboradores, começou a construir processos e implantou um software de gestão.

Os resultados foram chegando, como a compra de novas fazendas, a instalação de uma usina de beneficiamento de algodão e de usinas fotovoltaicas.

Os resultados são sólidos, mas nada foi fácil. “Aprendi com a seca, com a ferrugem, com o bicudo, com a alta e a baixa do câmbio, através de muito networking e com muita perseverança”, destaca ela.

E não foi só isso. Fora da porteira havia mais um desafio: mostrar para a sociedade e parceiros que era capaz, apesar de ser jovem e mulher, dentro de um segmento ainda liderado pelos homens.

“A participação feminina cresce e se destaca no setor, hoje. Mas ainda há um longo caminho a ser trilhado”, reforça.

“Tenho muito ainda a aprender e a contribuir com o setor e espero conquistar novas cadeiras de liderança, e, claro, trazer junto comigo novas pessoas”.