A operação industrial até tentou pressionar com margens mais apertadas, mas não impediu mais um trimestre de alta nos resultados da gaúcha 3tentos, o 27º consecutivo de crescimento.

A empresa da família Dumoncel divulgou nesta quinta-feira, 13 de novembro, seus resultados referentes ao terceiro trimestre de 2025 e encerrou o período com uma receita operacional líquida de R$ 4,99 bilhões, uma alta de 42,9% na comparação anual.

No acumulado dos nove primeiros meses do ano, a companhia já soma R$ 12 bilhões de faturamento, praticamente igualando a receita de todo o ano de 2024.

Apesar da alta na receita, o lucro líquido recuou 36,2% na comparação anual e atingiu R$ 203 mihões. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) ajustado ficou em R$ 166 milhões, uma queda de 51% em um ano.

Ao AgFeed, o CEO da companhia, João Marcelo Dumoncel, ressaltou que esse número não mostra a totalidade do desempenho operacional. Isso porque parte relevante da rentabilidade vem das operações de hedge, que funcionam como instrumento de proteção e são tratadas contabilmente de forma separada.

“Se olharmos o Ebitda combinado com os efeitos dos contratos de hedge, tivemos até um ligeiro aumento. Esse é o Ebitda real, porque o hedge faz parte das operações comerciais: ele protege a margem e funcionou de forma eficiente neste trimestre”, diz o executivo.

No balanço, a companhia pontua que o Ebitda somado a esses contratos atingiu R$ 368 milhões, uma alta de 3,6% na comparação anual.

“Tivemos quase R$ 200 milhões de receita de hedge, resultado das operações de soja, farelo e biodiesel. Pelas regras contábeis, preciso reconhecer isso de forma financeira, e não no Ebitda, mas na prática isso é resultado operacional. É o que protege a nossa margem e garante a previsibilidade”, explica.

Percentualmente, contudo, a margem caiu de 10% para 7,4%, reflexo, segundo ele, de uma queda na rentabilidade do segmento industrial.

A principal pressão, de acordo com Dumoncel, veio do atraso na entrada em vigor do B15 (mistura obrigatória de biodiesel ao diesel comum), que estava prevista para iniciar em março, mas só entrou efetivamente em vigor no fim de agosto.

“Dois terços do trimestre foram com preços pressionados pela ausência do B15. Quando ele entrou em vigor, já era o final do trimestre, então o efeito positivo só será sentido de forma mais clara agora no quarto trimestre”, disse o CEO..

Outro fator que pesou foi a combinação atípica de preços no mercado internacional de soja e farelo. A guerra comercial entre Estados Unidos e China levou os prêmios de soja no Brasil a patamares elevados, enquanto o farelo permaneceu com preços baixos em Chicago.

“Isso gerou um descasamento. A soja ficou cara e o farelo, barato. A margem da indústria foi comprimida, e esse foi um movimento que afetou o setor como um todo”, diz o CEO.

Segundo ele, o cenário já mudou. A normalização das relações comerciais entre os dois países e a recomposição das compras chinesas da oleaginosa americana voltaram a alinhar os preços, trazendo melhora imediata para as margens.

“Os dois fatores que mais pressionaram o trimestre já foram superados. O quarto trimestre começa com um ambiente mais equilibrado, com o B15 vigente e preços do farelo voltando a subir”, comentou.

Na composição da receita, os três segmentos de negócio - insumos, grãos e indústria - mostraram avanço e sustentaram a alta no faturamento da companhia.

Nos insumos, a empresa aproveitou o momento favorável da safra, no qual o agricultor faz compra sua cesta de sementes, adubos e defensivos, e registrou alta de 42% na receita e de 73% no lucro, com avanço em todos os produtos.

A receita foi de R$ 1,08 bilhão e o lucro bruto da operação, de R$ 197,7 milhões, trazendo uma margem de 18,3%. O volume também subiu, segundo a 3tentos, nos três produtos. O avanço mais representativo foi nas vendas de sementes, que somaram 3,6 mil toneladas, alta de 28%.

Nos defensivos e nos fertilizantes, altas de 23% e 28% nos volumes, respectivamente. “O preço até cresceu, mas os volumes demonstram que estamos ganhando market share”.

Dumoncel ainda destacou que os números mostram esse aumento de participação de mercado especialmente no Mato Grosso, onde a companhia segue ampliando presença.

“Ganhamos participação nas lojas do MT, enquanto o Rio Grande do Sul manteve estabilidade em um mercado já consolidado. Essa diversificação geográfica tem sido essencial”, explica.

A companhia encerrou o trimestre com 72 lojas, sendo 59 no Rio Grande do Sul e 13 no Mato Grosso. No período, ainda abriu duas novas unidades, uma em São Vicente do Sul (RS) e outra em Água Boa (MT).

Além disso, Dumoncel contou que a 3tentos abriu três novos escritórios regionais de originação em Uberlândia (MG), Rio Verde (GO) e outro em Redenção (PA)

No segmento de grãos, o desempenho também foi forte, impulsionado pela safra recorde também no Mato Grosso.

O volume comercializado de soja e milho atingiu recordes, sustentando o crescimento da receita líquida, que subiu 93% na comparação com o terceiro trimestre de 2024, para R$ 1,71 bilhão. O lucro bruto da operação de grãos bateu R$ 203,9 milhões, crescimento de 81% em um ano.

Foram 269,8 mil toneladas de soja (alta de 91%), 231,1 mil toneladas de milho (alta de 95%) e 32,3 mil toneladas de outros grãos, como trigo (uma alta de 13% nos volumes).

Por fim, a operação industrial trouxe R$ 2,21 bilhões ao faturamento, uma alta de 19% em um ano. Apesar disso, teve um lucro bruto de R$ 275,8 milhões, cerca de 28% abaixo dos R$ 380 milhões do terceiro trimestre de 2024. O volume até cresceu e a produção de biodiesel somou 153,6 mil metros cúbicos (avanço de 9%), e a produção de farelo de soja atingiu 477 mil toneladas (59% superior a um ano antes).

Ainda na frente industrial, a empresa segue avançando no plano de expansão anunciado em 2024. A nova unidade produtora de biodiesel e de etanol de milho no Vale do Araguaia já recebeu R$ 1,2 bilhão em investimentos e deve iniciar as operações no primeiro trimestre de 2026.

“Uma vez operando, nossa capacidade de esmagamento de soja e produção de biodiesel será mais de 60% maior do que no início de 2024. O cronograma segue dentro do previsto”, diz Dumoncel.

A companhia ainda informou que a TentosCap, braço financero da empresa, dobrou de tamanho em um ano, e atingiu R$ 333,2 milhões de carteira de crédito.

Mesmo diante de um cenário macroeconômico desafiador, o executivo mantém otimismo, e ressaltou a importância de olhar o cenário mais amplo. Apesar do aperto nas margens nesse trimestre, o lucro líquido da 3tentos no acumulado de 2025 é de R$ 726 milhões, uma alta de 17% em relação aos mesmos nove meses de 2024.

“Tivemos um crescimento forte de receita e um resultado operacional muito bom para o trimestre. O hedge cumpriu seu papel e protegeu a margem. Agricultura não é trimestral, por isso é importante olhar o acumulado”, disse.

Resumo

  • A 3tentos manteve o 27º trimestre consecutivo de crescimento, com avanço de 43% na receita e faturamento de R$ 4,99 bilhões entre julho e setembro
  • O lucro líquido recuou 36%, para R$ 203 milhões, com margem pressionada pela operação industrial e efeitos do atraso do B15
  • Incluindo os contratos de hedge, o Ebitda ajustado sobe para R$ 368 milhões. Companhia segue expansão no Vale do Araguaia, com investimento de R$ 1,2 bilhão.