Rio Verde (GO) - Na operação brasileira da Nufarm, é o momento de estrear em um novo mercado. Talvez estreia não seja o melhor termo – mas, sim, reestreia.

Depois de vender seus ativos de crop protection no Brasil, Argentina, Colômbia e Chile em 2019 para a Sumitomo, numa transação de US$ 800 milhões pela cotação da época, a australiana Nufarm decidiu focar a operação latina no mercado de sementes.

Com isso, manteve sua operação no Brasil com o nome de Nuseed, subsidiária focada no mercado de sementes e que é líder nas culturas de sorgo e canola.

Passados seis anos, a companhia deu meia volta. Segundo confirmou ao AgFeed Ronan Moreira, diretor comercial da Nufarm Seeds para Brasil e Paraguai, a Nufarm decidiu voltar a ter produtos de crop protection no Brasil.

“Teremos, de forma separada, as operações da Nufarm Crop Protection e Nufarm Seeds”, afirmou.

A reestreia está marcada para a safra 2025/2026, com o lançamento de um nematicida biológico e um inseticida químico. Diferente das culturas alvo nas sementes, os produtos também atenderão culturas como soja, milho, algodão e cana.

De acordo com Lucas da Mata, gerente comercial Brasil da Nufarm para a divisão de Crop Protection, a empresa mudou sua visão de mercado e focará em produtos inéditos nos defensivos.

“A empresa notou que era momento de unir estratégias. Observamos demandas e necessidades das culturas e vamos atuar em sinergia com a operação de sementes, mas também com foco em soja, milho, algodão e cana”, explicou da Mata.

Antes da compra dos ativos pela Sumitomo, a estratégia de defensivos da Nufarm era composta por “produtos com preço, volume e disponibilidade”, afirma o gerente, como genéricos. Agora, a empresa entra com tecnologias próprias.

Lucas da Mata conversou com o AgFeed durante a Tecnoshow Comigo 2025, feira em que a empresa estava fazendo o pré-lançamento do bionematicida. O inseticida químico que será lançado junto ao biológico na próxima safra atua no controle do percevejo e da cigarrinha.

A ideia é que o portfólio da Nufarm nos defensivos cresça nos próximos anos, tudo a depender do rito de aprovação junto às autoridades competentes. “A Nufarm tem uma linha gigante de produtos fora do Brasil, com possibilidades de misturarmos por aqui”.

Hoje, com a operação nos últimos anos focada nas sementes, a Nufarm conseguiu se consolidar em alguns mercados que o diretor comercial Ronan Moreira considera “de nicho”.

A cultura carro-chefe é sorgo, para a qual a empresa possui 11 híbridos no portfólio. “Somos líderes desse mercado com um market share próximo dos 30%”, estima Moreira.

Na canola, a liderança é maior, com 90% do mercado. Nos cálculos de Moreira, enquanto o sorgo deve atingir 2,2 milhões de hectares nesta safra, uma alta de 20% ao ano, a canola ainda figura em 300 mil hectares, mas com avanço de quase 50%.

A questão é que essas são duas culturas que têm ganhado muito espaço dentro das lavouras como uma alternativa de cobertura e terceira safra e, em partes, substituindo até a segunda safra de milho.

A canola está basicamente no Sul e muito vinculada ao biodiesel, segundo Moreira. Na mesma medida, o sorgo tem ganhado espaço em regiões próximas a usinas de etanol de cereais, que utilizam tanto o milho quanto o sorgo.

No ano passado, a empresa ainda entrou em uma terceira cultura: a carinata. “Adquirimos um grande banco de germoplasma e esse é um negócio para revolucionar. Além dos benefícios da rotação de culturas, é um cultivo que pode virar SAF”, afirma o diretor.

O ano fiscal da empresa começa em outubro e se encerra em setembro. No ano de 2024 (que se iniciou em outubro de 2023 e terminou em setembro de 2024), a receita líquida global da empresa foi de 3,3 bilhões de dólares australianos, cerca de US$ 2 bilhões pela cotação atual.

O balanço global não menciona os números específicos por país, mas segundo ranking publicado pela revista Globo Rural em dezembro, a receita líquida do grupo foi de R$ 246 milhões no Brasil neste ano, equivalente a 2024, uma alta de 53,4% e com uma margem líquida de 11%.

Segundo Ronan Moreira, a operação brasileira da parte de sementes deve ocupar a liderança na representatividade da Nufarm global. No balanço divulgado pela empresa australiana no final do ano passado, 87% das receitas totais vieram da linha de crop protection e o restante, das tecnologias de sementes.

Fora dessas três categorias, a Nufarm ainda possui sementes para forrageiras, silagem, mix de coberturas e girassol, em que também é líder de mercado nas estimativas de Ronan Moreira.

O diretor conta que o sorgo, principal cultura atendida hoje pela Nufarm Seeds, ficou fora do radar durante muito tempo. “O mercado passa por uma quebra de paradigma no sorgo, com produtores em Minas Gerais e em Goiás que já são especialistas”, diz.

Segundo ele, o sorgo não vem para substituir o milho e, por ser uma cultura com maior resistência à seca, pode atuar como uma terceira cultura também rentável.

Por muito tempo a cultura não teve cotação oficial, mas hoje temos grandes players como usinas e empresas da pecuária que fazem contratos futuros. Moreira cita que hoje a Inpasa e a JBS são grandes compradores dessa cultura.

“A relação sempre se baseou no preço do milho. Chegou a se pagar 60% do preço do milho no sorgo. Hoje, está no mínimo 85%, em alguns lugares 94% e em outros chega ao preço integral do milho”, afirmou o diretor.