Não Me Toque (RS) - Se o ano está mais complicado para o agricultor na maior parte das regiões brasileiras, no Rio Grande do Sul a sensação é de que o pior já passou. Depois de duas safras de secas severas, a temporada 2023/2024 trouxe chuvas melhores e a sensação de alívio com colheitas mais fartas, apesar de os preços das commodities ainda estarem longe do desejado pelos agricultores.

É diante dessa realidade agrícola diferente de anos anteriores que a Expodireto Cotrijal, em sua 24ª Edição, abre seus portões nesta segunda-feira, 4 de março, em Não Me Toque, município do planalto médio do Estado.

O clima é de recuperação da agricultura gaúcha. Segundo as projeções da Conab, os produtores do estado devem colher cerca de 40,82 milhões de toneladas no ciclo 2023/24, o que representa um aumento de 48% sobre a safra anterior.

Mesmo que os números finais não sejam estes por conta de alguns problemas climáticos ocorridos entre o plantio e a colheita, só o fato de terem colhido melhor que anos anteriores já deu mais ânimo aos agricultores, o que pode se refletir nos resultados comerciais da feira.

Para Nei Mânica, presidente da Cotrijal Cooperativa Agroindustrial Ltda, organizadora do evento e uma das maiores do Rio Grande do Sul, com faturamento de R$ 5,41 bilhões em 2023, a expectativa para a edição deste ano são as melhores possíveis.

Com todos os espaços comercializados e tendo muitas empresas na fila de espera para conseguirem expor seus produtos, ele acredita na superação dos números do ano passado que foram de R$ 7,041 bilhões. Isso, apesar de uma certa reserva quando ao cenário agroeconômico atual.

“Mesmo que as cotações das commodities como soja e milho não estejam tão favoráveis, os preços dos insumos e das taxas de juros caíram, o que dá um certo equilíbrio nas contas do produtor e que permite a ele pensar em investimentos para a sua propriedade”, acredita Mânica.

Ele assinala que, por ser um evento de transmissão de tecnologias, ao longo dos 24 anos da Expodireto sempre houve um upgrade naquilo que foi apresentado pelas empresas, de um ano para o outro.  “Isto trouxe ganhos significativos na produtividade das lavouras e no conhecimento do produtor rural”, afirma Mânica.

De fato, a feira gaúcha – segundo grande evento do ano no calendário brasileiro – é tradicionalmente usada pelas indústrias de máquinas e implementos agrícolas e de insumos e serviços para o agronegócio dentro da porteira para apresentar novidades.

No setor de defensivos, por exemplo, todas as grandes companhia montam estandes na Expodireto e promovem lançamentos de produtos que devem comercializar nas próximas safras.

A empresa de capital japonês Ihara, por exemplo, apresenta três novos produtos, um fungicida, um inseticida e um herbicida, aplicáveis nas culturas de soja e milho.

A Bayer mostra novos híbridos de milho adaptados à região e destaca o pré-lançamento do fungicida Attila, com uma molécula inédita para controle de mofo branco.

A Basf, por sua vez, traz um produto para tratamento de sementes de trigo que, segundo seus técnicos protege o potencial produtivo e auxilia no alcance do melhor estabelecimento, vigor e desenvolvimento inicial das plantas.

“Também temos produtos para soja e outras culturas, comenta o gerente sênior de Marketing Soja da Divisão de Soluções para Agricultura da empresa, Vitor Bernardes.

A identificação, nas lavouras gaúchas, da chamada anomalia da soja - quebramento de haste e podridão de grãos da soja - levou a Syngenta a apresentar soluções para o manejo do problema.

A Corteva, além dos produtos, optou por trabalhar a divulgação do seu programa de Boas Práticas Agrícolas, apresentado em. Em um ambiente de realidade virtual, onde apresentará temas sobre condições climáticas adequadas para aplicação de defensivos agrícolas, entre outros.

Já a UPL destaca soluções na área de biológicos, com o lançamento de Tackler, para o controle das pragas que afetam diversos cultivos. E a israelense ICL, de fertilizantes, aposta em soluções para nutrição e fisiologia de plantas.

“Os grãos estão com preços menores e é preciso avaliar a melhor estratégia para se ter mais rentabilidade. Produzir mais com tecnologia de nutrição para todas as fases da cultura é, sem dúvida, um caminho”, afirma Andersom Einhardt, consultor de Desenvolvimento de Mercado da ICL.

Mais máquinas e espaço

Para a indústria de máquinas, o cenário mais positivo no Sul do que em regiões como o Mato Grosso, é uma motivação para manter o investimento na feira. No Centro-Oeste, a redução na safra – que por conta de estiagem, deve ficar em 35,75 milhões de toneladas – deixou os produtores daquele estado bastante arredios à compra de novos equipamentos.

A decisão traz reflexos na indústria como um todo, mas ainda assim, na Expodireto Cotrijal, a área de máquinas agrícolas é uma das mais disputadas para a aquisição de espaço e na presença dos visitantes.

Para disputar a atenção dos produtores que passam na feira, as fábricas procuram apresentar suas novidades. A Case expõe a colheitadeira de grãos Axial-Flow Série 250 Automation, que traz tecnologia avançada com um sistema que se autorregula e aprende enquanto trabalha.

Segundo o fabricante, os 16 sensores espalhados pela máquina permitem realizar até 1.800 intervenções diárias durante a operação de colheita, assumindo até 90% das operações sem a necessidade de ações do operador, graças às tecnologias de inteligência artificial e machine learning.

A concorrente Massey Ferguson divulga um novo modelo de pulverizador, o MF 8225HD, que possui transmissão paralela aos eixos, proporcionando maior aderência das rodas e 34% de capacidade de rampa, especialmente em áreas com altos relevos, comuns na região Sul.

O coordenador de marketing de produto da empresa, João Dombroski, afirma que o equipamento foi desenvolvido para atender pequenos, médios e grandes produtores de diferentes culturas.

A LS Tractor, por sua vez, promove a nova série de tratores MT7, cujo foco de mercado são aquelas culturas adensadas, como citros, olivais e café, por exemplo. Astor Kilpp, gerente de marketing e produto, gosta de ressaltar que os diferenciais encontrados no trator, saem de fábrica e que são produtos criados pela engenharia brasileira, sob supervisão da indústria coreana, atendendo a demanda de produtores destas culturas.

Iniciado como um dia de demonstração de tecnologias para os cooperados da Cotrijal, a Expodireto foi gradativamente foi tomando corpo. Já há algum tempo virou um novo negócio dentro da cooperativa.

A vontade de muitas empresas em participar é tão grande que dificilmente alguém desiste do seu lugar, pois para entrar novamente, pode levar anos.

Na edição passada, a feira chegou a ganhar um aumento de espaço, permitindo a entrada de novos expositores e a readequação de outros. E a cooperativa já pensa, para 2025, uma área ainda maior.