Sorocaba (SP) - A Case IH, marca de máquinas e implementos agrícolas da CNH Industrial, está redobrando sua aposta no que chama de “ecossistema de produção” para enfrentar um ano que, se não promete tirar o sono das fabricantes de máquina, também não deve ser motivo de maiores comemorações.
A ideia da marca é oferecer não apenas tratores, colheitadeiras e plantadeiras como sempre fez, mas também soluções digitais e serviços adicionais que integrem todo o maquinário tornando a operação mais conectada e produtiva.
“Cada vez menos a gente vai falar de produto e cada vez mais a gente vai falar em ecossistema”, afirmou Christian Gonzalez, vice-presidente da Case IH, em entrevista coletiva na segunda-feira, dia 14 de abril, na planta da CNH em Sorocaba, no interior de São Paulo.
“As empresas não podem se dar ao luxo de ser somente o que eram. Não podem ser mais somente um produtor de máquinas a diesel, tem que agregar mais tecnologia.”
A jornalistas, a marca apresentou 16 lançamentos, entre máquinas novas, aprimoramentos de produtos já existentes e ferramentas digitais, que serão levados para a Agrishow, a maior feira de máquinas agrícolas do país, que será realizada entre os dias 28 de abril e 2 de maio em Ribeirão Preto (SP).
A ideia da companhia é de que toda a frota esteja renovada até 2028. “Quem for ao estande da Case em 2028 na Agrishow vai ver que todos os produtos estão diferentes do que eram em 2024”, afirma Gonzalez.
Os lançamentos vão desde novas linhas de tratores e pulverizadores, além de melhorias nos produtos já existentes, a produtos menos óbvios quando se pensa em uma fabricante de máquinas agrícolas.
São o caso, por exemplo, de dois drones de pulverização que a Case vai lançar na Agrishow, importados da empresa XAG, da China.
Os produtos serão oferecidos nos modelos P50, com capacidade de pulverização de 30 litros de defensivos, e P150, capaz de pulverizar 70 litros de defensivos. Os drones serão comercializados na faixa de R$ 160 mil a R$ 300 mil.
Para Gonzalez, a ideia de “ecossistema” é essencial para a adoção eficiente de equipamentos como os drones. “Posso até usar um drone, mas, sem um sistema de mapeamento integrado, ele não executa bem o processo”, exemplifica.
Questionado pelos jornalistas se a Case não teria demorado para iniciar a comercialização de drones no mercado, Gregory Riordan, diretor de tecnologias digitais da CNH para América Latina, disse que a marca preferiu ter mais cautela na hora de oferecer o produto aos seus clientes.
"Temos um processo de validação, teste e adequação do equipamento que levamos muito a sério para fazer um trabalho sério, e não um voo de galinha. Preferimos ter esse timing e fazer de uma forma que tenha longevidade do que tentar fazer rápido. Queriamos ter feito mais rápido? Provavelmente sim. Deveriamos ter feito mais rápido? Entendo que não."
A Case também levará para a feira soluções tecnológicas como uma tecnologia chamada SaveFarm, de pulverização localizada em tempo real a ser utilizada junto com os pulverizadores.
A partir de câmeras instaladas na barra dos pulverizadores e com utilização de inteligência artificial, é possível identificar ervas daninhas nas culturas agrícolas. A Case promete uma potencial redução de mais de 80% na aplicação de herbicidas a partir do uso dessa tecnologia.
A marca também está lançando o que chama de Case IH Smart Services, que são pacotes de serviços personalizados conforme a necessidade do produtor rural, e incluem planos de manutenção preditiva, suporte remoto, consultorias de performance, treinamentos e outros recursos complementares.
Já os tratores com motores movidos a etanol – tendência que é perseguida por todo o setor de máquinas – ainda não serão lançados nesta Agrishow.
Os produtos continuam em fase de testes e, como parte dessa etapa de desenvolvimento, a Case vai exibir na feira um trator médio movido a etanol e uma colhedora de cana, que vem sendo desenvolvida em conjunto com a companhia sucroalcooleira São Martinho.
A colhedora vem apresentando “resultados promissores”, segundo a Case, com 5 mil toneladas de cana colhidas na safra 2024. Novos testes serão feitos na temporada de cana que está se iniciando.
O lançamento de máquinas comerciais movidas a etanol, no entanto, ainda não tem data para acontecer.
Gonzalez diz que a companhia ainda precisa ter mais maturidade em relação ao potencial produto que vai oferecer ao mercado.
“Como é a questão de confiabilidade e durabilidade de um motor de etanol trabalhando numa máquina de etanol quando eu colocar 10 mil horas, 20 mil horas de uso? Se eu não testar isso, como vou levar isso para o mercado?”, questiona o executivo.
“Se você perguntar para mim quando eu quero lançar, quero depois de amanhã. Mas a gente tem que fazer o nosso ciclo de desenvolvimento”, emenda.
Setor “de lado” e efeito Trump
A movimentação da Case chama a atenção por acontecer mesmo em um ano em que o próprio setor acredita que o desempenho das vendas ainda seja fraco.
A tendência é de que a comercialização de máquinas agrícolas pare de cair, mas também não há um crescimento no radar.
A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) projeta uma alta de 8,5% para o setor em 2025, mas alerta para a possibilidade de que o volume de comercialização seja mais baixo do que a estimativa inicial em função do aumento da taxa Selic, que atingiu 14,25% no mês passado.
Já a Anfavea projeta crescimento zero, com o setor repetindo neste ano o nível de 48,9 mil unidades comercializadas no ano passado.
Gonzalez faz coro ao discurso do setor. “A nossa expectativa para esse ano é que fique ‘andando de lado’. Não vai ser dois passinhos para cima e dois para baixo. O mercado vai ficar estável”, diz.
Para embasar sua decisão, o vice-presidente da Case explica que as melhores condições de produtividade e preços de milho e soja no campo estão trazendo mais segurança ao produtor na hora de investir em tecnologias.
“Se você fala com o produtor, o mundo dele agora é diferente de 12 meses atrás. Se você falasse há 12 meses com ele, parecia que o mundo ia acabar.”
De qualquer forma, Gonzalez aponta que o custo de capital continuará sendo um contrapeso importante, com a alta da taxa Selic.
A Case IH, segundo o executivo, tem adotado medidas para diluir a alta dos juros na hora de financiar suas máquinas.
As estratégias envolvem o aumento de utilização de consórcios – que hoje representam entre 6% a 7% das vendas e deve chegar a 10% de todo o faturamento da marca deste ano, segundo disse Denny Perez, diretor comercial da marca, ao AgFeed – e de TFBD (Taxa Fixa BNDES em Dólar).
A marca também não descarta a utilização dos recursos do Fiagro recém lançado pelo governo do Paraná, adiantou Perez – isso é possível porque, além das unidades de Sorocaba e de Piracicaba, em São Paulo, a CNH tem uma fábrica em Curitiba.
“Mas [a Selic] ainda vai ser a grande trava do mercado. Para isso se resolver, tem uma série de coisas macroeconômicas e políticas que precisam se resolver. Mas, na hora em que isso resolver, com certeza vai trazer uma acelerada ao mercado”, afirma Gonzalez.
Pertencente à uma multinacional CNH Industrial, que tem ações listadadas na Bolsa de Nova York, a operação brasileira da Case também não está imune às mudanças na política comercial dos Estados Unidos promovidas pelo presidente Donald Trump nos últimos meses.
A Case IH exporta colheitadeiras de médio porte do Brasil para os Estados Unidos e não vai deixar de enviar remessas para o país, pelo menos nesse primeiro momento, segundo Gonzalez.
Por enquanto, a marca prefere adotar a cautela antes de dar novos passos. “Continua tudo normal, até termos uma clareza do cenário. Obviamente, dependendo de como o cenário se estabilizar, a gente pode ter que tomar algumas decisões como CNH. Mas agora vamos observar”, diz Gonzalez.
O executivo compara a incerteza do momento atual à crise da pandemia do coronavírus. “As piores decisões tomadas na pandemia foram tomadas instantaneamente com pouca informação. É um quebra-cabeça super complexo. A gente não quer se precipitar”, afirma.
O repórter viajou a convite da Case IH.