Cascavel (PR) - O Banco do Brasil prevê, para os próximos anos, uma nova corrida entre as instituições financeiras na liberação de créditos dentro do Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), lançado pelo governo brasileiro no fim do ano passado, durante a COP 28 em Dubai.
E já posicionou para liderar esse mercado. Em entrevista ao AgFeed neste segunbda-feira, 5 de fevereiro, no Show Rural Coopavel, em Cascavel, o vice-presidente da Garonegócios do BB, Luiz Gustavo Lage, disse que o banco se estruturou nos últimos meses para sair na frente nessa área.
Parte da estratégia do banco foi oficializada em evento na feira, com a assinatura de parcerias com as agtechs iRancho, Traive e MyCarbon (subsidiária da da Minerva Foods voltada ao crédito de carbono) para desenvolver um modelo de negócio tendo como foco a modernização da pecuária de corte e o aumento da lucratividade, além de oferecer mais sustentabilidade ao setor.
Chamada de Pecuária do Futuro, a iniciativa criada na esteira do PNCPD, mas já vinha sendpo desenhada há algum tempo.
“Estamos dentro de um programa do governo com uma abrangência de aproximadamente 40 milhões de hectares, em um prazo de 10 a 12 anos. Já que é necessário aumentar área, nós evitamos o desmatamento com essa iniciativa”, afirma Luiz Gustavo Lage, vice-presidente de Agronegócios do BB.
Segundo o executivo, o banco já liberou cerca de R$ 600 milhões dentro do programa Renova Agro na safra 2023/2024, destinado à recuperação de 125 mil hectares degradados. “Isso ainda é pouco dentro do que queremos”, diz Lage.
A chegada das agtechs, segundo o executivo, “muda a forma de atuação, com um novo modelo de negócio, que agrega tecnologia e parceiros, inclusive com pegada digital e consultoria em termos de pegada de carbono”.
Nos últimos meses, com ajuda das startups, o Banco do Brasil largou na frente e começou a se organizar para liderar os desembolsos para dentro do PNCPD, já desenhando os modelos específicos de financiamento a serem aplicados nesse segmento.
Em reportagem publicada no início de janeiro, o AgFeed revelou que a Traive vem trabalhando desde junho de 2022 na modelagem da análise de risco para operações de financiamentos para conversão de pastagens. “Isso não é trivial. Afinal, é um investimento de pelo menos sete anos, com dois de carência”, afirmou, na ocasião, o diretor de Risco da Traive, Luís Lapo.
“Com visão integrada de uso de tecnologias mais avançadas e de sustentabilidade, vamos conseguir avançar de forma mais estruturada e mais moderna, para alavancar mais essa atuação”.
Lage lembra que o BB anunciou o maior orçamento da sua história para o Plano Safra 2023/2024, no valor de R$ 240 bilhões. “Essa semana, nós atingimos a marca de R$ 135 bilhões liberados, superando o volume nesse mesmo período no ano passado”.
Para firmar a parceria, foi lançado em outubro de 2023 um projeto piloto em Araguaína, no Tocantins. Além da linha de crédito, foram testadas soluções de gestão, rastreabilidade e geração de crédito de carbono.
A iRancho, por exemplo, vai entrar com ferramentas de gestão e rastreabilidade para os pecuaristas atendidos pelo programa. A startup tem 4 milhões de animais monitorados pelo seu sistema.
Segundo Thiago Parente, a ideia é oferecer os serviços da iRancho para os pecuaristas que aderirem ao programa de crédito do BB. “Depois, o produtor pode aderir à nossa ferramenta de forma separada. Mas no primeiro momento, vamos atender aqueles que estão na base do banco”.
O fundador da iRancho afirma que com a iniciativa, espera dobrar o número de clientes em um ano. “Hoje nós temos 800 produtores, e esperamos chegar a 1.600 somente com esta iniciativa”.
Parente afirma que ainda não há conversas com outros bancos para esse tipo de modelo de atuação. “Mas estamos sempre abertos para conversar, pois é algo que beneficia o produtor. Sustentabilidade é sempre mais lucrativa, só tem uma conta de entrada nas práticas. E nós queremos ajudar nisso”.