O banco de câmbio Travelex Bank garante que vem dobrando o lucro líquido, ano após ano, saindo de R$ 9 milhões em 2019 para R$ 57 milhões, 2022. Parte desse lucro acompanha a evolução nas transações, que bateram US$ 15 bilhões no ano passado.
Com ajuda do campo, diga-se. Esse volume transacionado ano passado foi impulsionado pelo agronegócio, principalmente nas operações de hedge, em que o produtor busca travar um preço, geralmente em dólar, para se proteger de quedas futuras na cotação da commodity.
Para os próximos anos, a empresa vê um futuro promissor em operações envolvendo o agro. Especialmente após a criação do DREX, a moeda digital do Brasil que já está sendo testada pelo Banco Central e poderá fortalecer o real enquanto moeda, na avaliação do banco.
Isso acontecerá, segundo disse o vice-presidente executivo do Travelex Bank, João Manuel Campanelli Freitas, ao AgFeed porque a tendência é a de que o câmbio, em dois anos, não seja mais como conhecemos hoje.
“Teremos um real negociado ao redor do mundo e isso será uma grande fronteira a administrar com as moedas digitais”, prevê. “O real já é uma moeda importante e, na hora que se tornar digital, viabilizará muitas operações. Vejo muitos bancos de fora já se estruturando para operar em real”.
Isso, na visão de Freitas, traz uma oportunidade para produtores brasileiros aumentarem ainda mais as negociações, principalmente com países latino-americanos.
Ele cita que já existem pequenos produtores que, por exemplo, exportam para o Uruguai e recebem em real por aqui. O importador uruguaio paga na moeda local, mas por aqui, o valor é recebido no nosso dinheiro.
“No Uruguai já temos uma zona franca que traz mercadorias da China, e via Mercosul, acaba vindo para o Brasil, com tudo sendo feito em real. Já viabilizamos operações que saíram de Cuiabá em real para a Bolívia, sem ter que mandar câmbio para Nova York”, conta.
O executivo acredita que será um mercado em expansão, com perspectivas de muito volume de exportação regional, algo que pode modernizar a economia brasileira. “Novos produtos chegarão ano que vem. Estamos inteirados no assunto e olhando com cautela as oportunidades”.
Com esse cenário de uma moeda que ultrapasse fronteiras, ele acredita que a operação de frigoríficos brasileiros, que possuem plantas em países vizinhos, por exemplo, possa ficar simplificada.
“Tive uma conversa com executivos de um dos grandes frigoríficos brasileiros e eles possuem um projeto de centralizar a operação financeira no Brasil. Com essas iniciativas, podem tirar o projeto da gaveta já no ano que vem”, comentou.
Apesar disso, ele não vê uma total independência do dólar, mas diz que o Travelex está preparado para esse novo momento do real digital.
Freitas também cita a iniciativa do Banco Central de, por exemplo, estudar abrir o Pix para o restante do continente, algo que vê como uma “expansão natural do real”.No banco, o atendimento a clientes do agro é feito, geralmente, para pequenos e médios produtores.
Dentre os serviços, o banco consegue ajudar desde o pequeno que precisa comprar um produto em dólar ou fazer uma troca de moeda em operações de crédito até um produtor mais robusto, com operações mais complexas.
“Hoje o agro é importantíssimo na nossa balança comercial e esse cara lida com questões de câmbio diariamente. Não temos como ficar de fora desse universo”, declarou o executivo.
No caso do médio produtor, o Travelex diz atuar além do hedge de câmbio, operando também na Bolsa de Chicago e ajudando a controlar o fluxo de caixa.
O executivo descreve ainda uma atuação como uma espécie de ajudante de comércio exterior. Se um produtor de amendoim, por exemplo, precisa vender seu produto para um país africano como a Argélia, a instituição financeira atua com todo o suporte de comércio exterior.
“Às vezes o produtor tem um comprador, mas não possui a estrutura financeira para terminar o negócio. Ajudamos esse cliente a viabilizar e tirar do papel essa compra e venda. Num banco grande, essas operações, que podem ficar em torno de US$ 50 mil, nem sempre tem um suporte tão preciso”, comentou o executivo.
Segundo Freitas, o Travelex Bank tem uma rede de bancos correspondentes ao redor do mundo, o que ajuda nesse tipo de negócio. Além disso, ele ressalta que esse tipo de serviço geralmente acaba trazendo o produtor para outras linhas do banco.
“Vemos uma fidelização desse cliente que atendo ajudando na importação e exportação, virando, muitas vezes cliente na corretora de câmbio. Com isso, a PJ acaba trazendo a PF, e acabamos atendendo famílias inteiras que às vezes possuem aviões para manutenção ou uma casa fora do país”, diz.
Nesse segmento de exportação, o agro representou 16,8% de todo o volume operado neste ano até agosto, segundo o vice-presidente. No adiantamento cambial, os chamados ACC e ACE, o agro já respondeu por 54% do volume.
Ao mesmo tempo, dos clientes totais do Travelex Bank, menos de 1% são do segmento do agro, tanto em pessoas físicas quanto pessoas jurídicas.