Esteio (RS) - Para muitas empresas e bancos, a Expointer, que terminou domingo em Esteio-RS, estava cercada de incertezas, com foco absoluto na reconstrução, inclusive nas estruturas do parque, que também foi alagado durante as enchentes.

Já a central Sicoob que atende Santa Catarina e Rio Grande do Sul aproveitou o momento para inaugurar uma “casa própria”, de dois andares, na parte alta do Parque de Exposições Assis Brasil.

Em entrevista ao AgFeed, o presidente do Sicoob Central SC/RS, Rui Schneider da Silva, disse que em Santa Catarina faltam apenas 8 municípios para que a totalidade do estado conte com agências e pontos de atendimento do banco. Já no Rio Grande do Sul, dos 495 municípios, cerca de 140 estão atendidos.

Estima-se que 40% do PIB gaúcho venha do agronegócio, por isso é onde o Sicoob está vendo as maiores oportunidades de crescimento.

O sistema está investindo R$ 40 milhões para que já em 2025 sejam abertas 41 novas agências no Rio Grande do Sul, somando-se ao total de 162 pontos de atendimento que já possui no estado, informou o coordenador de agronegócio do Sicoob no estado, Felipe Amorim.

A carteira do Sicoob em nível nacional hoje é estimada em R$ 60 bilhões, envolvendo não apenas agronegócio, mas também outros segmentos da economia. E somente na central que engloba Santa Catarina (sede é em Florianópolis) e Rio Grande do Sul são R$ 42 bilhões. Pelo menos um terço desse volume tem relação com o agronegócio.

Apesar das dificuldades climáticas da região, a central dos dois estados prevê liberar em crédito rural no atual Plano Safra um total de R$ 8,5 bilhões, acima dos R$ 7,5 bilhões concedidos na safra passada. A maior parte foi tomada pelos catarinenses, por isso a expectativa de ampliar o alcance no Rio Grande do Sul, que, somente na soja, por exemplo, chegou ao segundo lugar no ranking nacional de produção na última safra.

“No custeio não falta recurso, nós sempre conseguimos atender, mas a maior necessidade do nosso agricultor é investimento”, afirmou Schneider.

O foco principal do sistema cooperativo são pequenos e médios produtores, mas também são atendidas grandes propriedades, além de empresas e cerealistas.

“Se a demanda for maior do que a meta (de R$ 8,5 bi) nós também temos recursos, porque o banco Sicoob (nacional) disponibiliza para as centrais e as cooperativas. Se precisar de R$ 10 bilhões, por exemplo, teremos recursos”, disse ao AgFeed o coordenador de estratégia de negócios agro do Sicoob SC/RS, Paulo Vitor Sangaletti.

Um dos diferenciais do Sicoob, reforçam os executivos, é a presença no interior. São 4,6 mil pontos de atendimento no País, “é o maior número entre todas as instituições financeiras”, afirmou o presidente. Os serviços são também oferecidos via plataformas digitais. “Mas é muito diferente, em banco digital, o agricultor precisa falar com um robô, conosco não”.

Do total liberado na safra passada nos dois estados, 60% foram linhas de custeio e 40% investimento. Nos dois estados do Sul são 1,5 milhão de associados, sendo que 120 mil são produtores rurais.

Expointer surpreende

Na conversa com o AgFeed, os dirigentes comentaram que poucas casas abaixo da inaugurada pelo Sicoob já se encontrava a área que ficou debaixo d’agua na enchente. Por isso, disseram ter sido uma surpresa “positiva” os primeiros resultados de visitas e de fechamento de propostas durante o evento.

Até terça-feira já haviam sido negociados R$ 80 milhões. Já no último final de semana, o valor chegava a R$ 195 milhões. Em 2023, o Sicoob esteve presente na Expointer com estande alugado e chegou a contabilizar R$ 220 milhões em propostas. Os números exatos dessa edição ainda não foram fechados, mas há um otimismo de pelo menos “empatar”, o que, considerando o cenário de crise climática e endividamento do produtor, já seria um ótimo resultado.

Sangaletti explica que o aumento da inadimplência não chegou a preocupar, como ocorreu com outras instituições, porque a maioria dos empréstimos faz parte das linhas subsidiadas pelo governo e está sendo contemplada na renegociação anunciada pelo Ministério da Agricultura.

O coordenador não revela quanto está a inadimplência do agro na carteira da central, mas diz que com certeza é mais baixa do que os concorrentes porque “praticamente não usa mercado de capitais”

“Nos bancos privados e até cooperativos, que usam muito CPR, por exemplo, não existe renegociação. Venceu, vai ter que fazer outra operação para pagar ou vai deixar vencer. Como para as nossas operações, principalmente de recurso equalizado, controlado, saíram vários decretos do governo federal dando essa possibilidade de prorrogar, quando prorroga, não é uma inadimplência, porque ele ganhou mais tempo para pagar. Ele não está inadimplente conosco”, explicou.

Ainda assim, o Sicoob SC/PR tem feito algumas operações com ferramentas ligadas ao mercado de capitais, principalmente por uma demanda de parte do Paraná, onde também atua.

O uso da CPR não é maior em função do perfil da maior parte dos produtores que acessam o Siccob, atualmente. “Em uma operação de custeio, ele paga 6% (de juros, ao ano). A CPR vai partir de 13%. Ele tem que estar muito necessitado para não esperar vir um novo Plano Safra, pagando o dobro da taxa de juros”, disse Sangaletti.

O coordenador do Sicoob diz que tem observado uma demanda aquecida mês a mês, embora ainda não tenha números fechados. Mas durante a conversa ele acessou o sistema nacional que mostra as contratações do Moderfrota Pronamp, principal crédito subsidiado para que médios produtores comprem máquinas e equipamentos.

“Tinha R$ 1 bilhão no início do Plano Safra, mas o recurso já acabou, foi todo contratado”, disse. Ele admite, porém, que no Rio Grande do Sul algumas indefinições sobre a prorrogação das dívidas ainda impactam o mercado, com o produtor postergando compras e a tomada do crédito.

Na Expointer como um todo houve um acréscimo de 0,5% nas vendas de máquinas agrícolas na edição de 2024. O presidente do Sicoob diz que uma das constatações é que, em propriedades onde maquinário e estruturas foram perdidos, os produtores estão tomando crédito para comprar novas e seguir produzindo. “Não está aumentando o negócio dele, está só repondo. Então, tem essa demanda também”.