Uma das lições básicas para quem investe em ações é não levar muito em consideração o que aconteceu até ontem, e olhar para o potencial das empresas ao tomar uma decisão. Essa máxima se encaixa bem no desempenho de companhias do setor listadas na Bolsa.

Levantamento feito pela empresa de tecnologia de investimentos Grana Capital mostra quatro empresas do agronegócio entre as sete ações com melhores desempenhos dentro do Ibovespa nos 12 meses encerrados até junho.

Das quatro primeiras posições nesse ranking, três pertencem a gigantes do segmento de proteína animal. O maior destaque ficou com BRF, com valorização de 64% no período.

A Embraer, com mais de 60% de valorização, impediu um pódio totalmente dominado pela indústria de carnes. JBS e Marfrig ficaram com as terceira e quarta posições, subindo 30% e 27%, respectivamente.

A sétima maior alta dentro do principal índice da Bolsa de Valores brasileira ficou com a ação da São Martinho, com valorização próxima a 12%.

Apesar desta forte valorização em um ano, os analistas se mostram otimistas com a BRF. Eles afirmam que a injeção de capital liderada pela Marfrig, feita no ano passado, permitiu a diminuição nos níveis de endividamento e o destravamento do potencial de retorno da companhia.

O analista Leonardo Alencar, da XP Investimentos, decidiu revisar as estimativas para a BRF após os resultados apresentados no primeiro trimestre de 2024.

Em relatório, ele afirma que a XP revisou as projeções de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado de 2024 e 2025 para cima, ficando 21% e 12% acima do consenso de mercado, respectivamente.

“Projetamos que o segundo trimestre provavelmente servirá como outro catalisador para revisões de lucros, continuando o momentum que sustentou o forte desempenho das ações da BRF desde o quarto trimestre de 2023”, diz o analista da XP.

Os números mostram que o ciclo de valorização das ações da BRF é bastante recente. A alta acumulada em 2024 até esta quarta-feira, dia 10, é de 66%.

Para a Marfrig, controladora da BRF, as perspectivas também são positivas. Os analistas Guilherme Palhares e Laura Hirata, do Santander, acreditam inclusive que as estimativas e recomendações para a companhia podem ser melhoradas após os resultados de 2024.

Eles apontam principalmente o desempenho da subsidiária dos Estados Unidos, a National Beef, classificado como “robusto” mesmo em um momento mais complicado no mercado de carne bovina norte-americano, com o bom posicionamento da empresa em mercados mais premium.

“Desde 2015, o mercado de carnes mais nobres saiu de 4% para 10% de participação na indústria dos Estados Unidos, e a National Beef é uma concorrente forte neste nicho”, diz o Santander.

Na América do Sul, o plano de expansão de abate e o maior foco em produtos processados devem trazer melhores resultados para as operações da Marfrig na região. O Santander acredita que os números do quarto trimestre de 2024 serão cruciais para a companhia mostrar sua resiliência às tendências do mercado.

Ao tratar de JBS, os analistas têm mais dúvidas sobre o potencial de valorização da ação, principalmente a partir de 2025. Isso porque, segundo Leonardo Alencar, da XP, “a recuperação dos lucros está em grande parte precificada”.

Mas em termos de mercado, os horizontes são favoráveis também para a JBS. As analistas Isabella Simonato e Julia Zaniolo, do Bank of America, afirmam que, especialmente nos Estados Unidos, o ciclo para carne bovina começa a se tornar mais favorável para as empresas em 2026.

“A JBS é a empresa mais diversificada dentro da nossa cobertura, em termos de produtos e regiões de atuação. Mesmo com o cenário ainda desafiador nos Estados Unidos no período 2024-25, esperamos lucros sólidos sustentados por boas margens na Pilgrim’s Pride e na Seara, enquanto as margens da JBS Brasil e Austrália continuam firmes”, diz o BofA.

São Martinho

A questão do potencial de valorização é o ponto principal da cautela demonstrada pelos analistas quando o assunto é São Martinho.

Quanto ao mercado, a situação permanece favorável. “A São Martinho segue sendo beneficiada pelos preços do açúcar no mercado internacional e leve melhoria nos preços de venda do etanol, com isso a lucratividade vem subindo para todas as empresas desse segmento”, afirma João Abdouni, analista da Levante Inside Corp.

No entanto, todo esse bom momento já está capturado pelo preço atual da ação, segundo os analistas do Citi. Recentemente, o banco rebaixou a recomendação para o papel da São Martinho para Neutra, mesmo listando boas perspectivas para a companhia.

“Os preços do açúcar ainda estão bons, e a empresa continua com a opção de ter um mix mais açucareiro. Os preços do etanol devem melhorar na safra 24/25, e a empresa deve ter menores custos de produção”, afirma o Citi em relatório.

No entanto, a geração de caixa da São Martinho em relação ao atual valor de mercado deve ficar mais apertada, o que limita o potencial de valorização da ação. Neste ano, até esta terça-feira, dia 10, o papel da empresa acumula alta de quase 14%.