Se o agro brasileiro já é alvo dos países de maior população do globo há algumas décadas, chegou a vez de países que representam grande parte do PIB global começarem a se movimentar com mais intensidade por aqui.
Em meio às iniciativas de países árabes em garantir a segurança alimentar regional e também de se posicionar como um polo logístico de alimentos, a Market Securities Dubai, braço local da corretora de investimentos internacional, está estruturando um veículo de US$ 50 milhões para investir no agro braisleiro.
Segundo revelou ao AgFeed o executivo de projetos especiais da empresa, Celso Filho, a ideia é criar oportunidades de originação de soja, milho, café e carnes do Brasil para exportação aos países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG).
A Market Securities é uma asset que funciona como uma “corretora de corretoras”, explica Filho. Dessa forma, seus clientes são bancos de diversos países.
O grupo movimenta cerca de US$ 1,1 trilhão entre seus clientes anualmente em todo globo, e possui escritórios em cidades como Nova Iorque, Londres, Genebra, Paris, Hong Kong e Madrid.
Celso Filho é um executivo brasileiro que fez carreira no mercado financeiro nacional, com passagens pelo Itaú BBA, B3, Citi e Credit Suisse. Há alguns meses, assumiu a função de tocar projetos especiais na Market Securities em Dubai.
O veículo possui um foco comercial e não funcionará apenas como um meio de investimento. “O compasso da interação é sobre o produto e como financiar sua produção e não sobre a taxa de retorno financeiro do aporte”, explica Filho.
Ele ressalta que, por questões culturais, os investidores do CCG preferem investir capital como acionistas ou parceiros estratégicos de longo prazo.
“Um aporte desse tipo de capital pode ser uma boa solução para negócios rurais que se alavancaram com dívidas bancárias ou aquelas atreladas a estruturas de títulos de crédito rural”, acredita o executivo.
Celso Filho explica que dentre os investidores do fundo de US$ 50 milhões, o apetite maior fica pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos, mas por motivos diferentes.
O primeiro tem uma demanda forte por importação de produtos para consumo próprio, como soja, carne, café e açúcar. Nos Emirados, ele explica que o governo local tem uma perspectiva de se tornar um hub logístico regional e exportar produtos para a região do “Measa”, que engloba, além do Oriente Médio, o norte da África e o sudeste asiático.
“Nos Emirados, o principal produto em que eles estão interessados é o açúcar, com uma atenção para crescer bastante no café. Existe um projeto, que ainda não decolou, de tornar a região um centro internacional do grão feito pela DMCC, a bolsa de commodities de Dubai”, conta.
Segundo Celso Filho, Dubai quer bater de frente com mercados conhecidos por sediar empresas de trading de café, como Suíça, Alemanha e Holanda.
Dessa forma, o veículo que a Market Securities está estruturando tem dois focos: segurança alimentar e exportações regionais.
O agro brasileiro tem visto um movimento de players do Oriente Médio em algumas empresas nos últimos anos, principalmente por meio de fundos soberanos, como o PIF e o Mubadala, que inclusive possui escritório no Rio de Janeiro.
Os dois fundos, que gerem US$ 700 bilhões e US$ 300 bilhões, respectivamente, possuem participações na BRF, Minerva e na Atvos.
A ideia da Market Securities é conectar os empresários do agronegócio brasileiro com investidores de famílias que compõem o CCG, que incluem os Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Qatar, Kuwait, Omã e Bahrein.
Dados do Sovereign Wealth Fund Institute estimam que esses conglomerados privados controlam 42% do total de ativos financeiros da região, cerca de US$ 2,9 trilhões, enquanto outros US$ 4,1 trilhões estão com fundos soberanos.