O BTG Pactual enlouqueceu? É a primeira pergunta que vem a cabeça de quem observa o movimento feito, na semana passada, pelos gestores do BTAG11, o Fiagro listado do banco.
Para os investidores que tinha cotas do fundo, foi uma grata surpresa. A instituição informou que decidiu amortizar 85% do patrimônio total (dinheiro em caixa e alguns ativos) do seu fundo e, com isso, irá “devolver” R$ 85 por cota aos acionistas.
Isso, na prática, fez o patrimônio cair de R$ 301 milhões para R$ 45 milhões, mas no entender do banco, pode gerar frutos no futuro.
A decisão veio em um momento complexo para fundos listados. Desde o ano passado, Fiagros negociados na B3 observam suas cotas caírem em uníssono, refletindo um mau humor do mercado, cenário macroeconômico de alta de juros e diversas notícias de recuperações judiciais e inadimplências no agro.
Mesmo os fundos que não registraram nenhum caso de atraso no pagamento, como é o caso do BTG, sentiram esse movimento.
O banco de André Esteves optou por esse movimento em um momento em que cotas do fundo, com valor patrimonial de R$ 100,30, estavam sendo negociadas a um patamar próximo dos R$ 80.
Em dezembro de 2024, a cota do BTAG11 atingiu sua mínima histórica, e atingiu R$ 73. Para os cotistas, o anúncio, feito durante o relatório gerencial divulgado na semana passada, foi um alívio imediato. Para quem vendeu antes, um choque.
Octaciano Neto, co-fundador da Avra.Ag e especialista em mercado de capitais, elogiou a ação do banco em seu perfil na rede social Linkedin. Em um post, ele disse que “o BTG Pactual deu aula de gestão”.
“O que mais me chama atenção é a questão didática: mostrar para o cotista que tem que ter paciência e mostrar que a cota no mercado não significa que o ativo está ruim. Nesse caso, por exemplo, estava com zero inadimplência. A estratégia do BTG é muito importante para que o investidor não ‘morra com o barulho da bala”, afirmou o especialista, se referindo a quem preferiu vender cotas no momento de queda generalizada no mercado.
O movimento do BTG não é comum nem no mercado de fundos imobiliários, nem no de Fiagros. Tanto que Octaciano Neto não vê outros bancos e gestoras repetindo a dose. Usualmente, gestores mantêm o patrimônio investido, pois conseguem garantir uma receita recorrente com taxas de administração e performance.
Mas, nesse caso, o banco preferiu devolver boa parte do dinheiro aos investidores, mesmo que isso demandasse uma redução drástica no tamanho do fundo. Agentes de mercado ouvidos pelo AgFeed acreditam que esse é mais um passo do BTG em sua ambição de se tornar um banco referência quando o assunto é agro e mercado de capitais.
No relatório gerencial do BTG, o time de gestão do Fiagro justificou a decisão usando o conceito de “Second-Level Thinking” (pensamento de segundo nível), do investidor Howard Marks.
“Enquanto o pensamento comum (first-level thinking) leva a conclusões já refletidas no mercado, o second-level thinking exige uma análise mais cuidadosa. Isso significa considerar diferentes cenários, entender as reações dos outros investidores e identificar oportunidades onde o consenso pode não representar o correto valor do investimento”, justificou o banco.
De acordo com o BTG, o mercado não estava precificando corretamente os ativos do BTAG11 e a amortização foi a melhor forma de “capturar o valor real para os investidores”.
"Ao invés de esperar uma correção natural do mercado, que poderia levar tempo e incertezas, optamos por uma estratégia que maximizasse o retorno imediato para os investidores”, disse o banco no relatório gerencial.
Essa distorção era evidente. O fundo vinha de mais de dois anos de operação pagando 138% do CDI, o benchmark quando o assunto é investimentos, e distribuindo mais de R$ 42,71 por cota em dividendos. Ainda assim, o deságio era visto no mercado.
"Quando uma nota de R$ 100,00 está sendo vendida por R$ 76, algum erro parece existir", comentou Octaciano Neto. Felipe Tadewald, analista da Suno Research acrescentou: "Um tapa na cara de quem vendia tudo com deságio de 20%".
Após a amortização, o fundo passou por um grupamento de cotas na proporção de 7 para 1. Desta forma, o Fundo que contava com 3 milhões de cotas passou a contar, desde o início desta semana, com 429 mil cotas.
No curto prazo, ruim para o BTG, que na prática “perde dinheiro” com a decisão. Só que, assim como nos investimentos, o banco está de olho no longo prazo e deve reforçar sua aposta em outros fundos do agro, atraindo novos investidores.
O Fiagro listado é apenas uma das vertentes do banco para atuar no setor. Em janeiro deste ano, o banco captou R$ 500 milhões para dois Fiagros do tipo FIDC. A oferta inicial era de R$ 400 milhões, mas a demanda extrapolou o previsto.
Os dois fundos fazem parte da emissão chamada de "BTG Pactual Crédito Agrícola BTAG II-DC", fazendo uma referência ao primeiro Fiagro da casa, o BTAG11, que seria o primeiro, e serão divididos em um chamado de "BTAG II Pré" e o outro de "BTAG II CDI".
De acordo com o banco, o portfólio dos Fundos poderá ser composto por ativos de crédito em múltiplos setores de toda cadeia produtiva do agronegócio como CPR, CRA, CCE, CDCA e CDA/WA.
O banco ainda acrescenta, em seu prospecto, que poderá comprar também "cotas de Fiagros, cotas de fundos de investimento que apliquem mais de 50% do seu patrimônio em direitos creditórios do agronegócio ou direitos creditórios imobiliários e outros títulos de crédito relativos a imóveis rurais."
Essa vontade de se posicionar como um banco que protege os interesses dos investidores já pode ser notada no próprio balcão da B3.
A ação, que era negociada por R$ 83 na quinta passada, hoje vale R$ 92,50 na Bolsa brasileira. Logo após o anúncio, na sexta-feira, dia 7 de fevereiro, a cota chegou a R$ 99, praticamente em linha com o valor patrimonial.
A amortização será paga no dia 19 de fevereiro de 2025. O BTG ainda não informou quais ativos do patrimônio serão vendidos.
Mas até o momento em que a soma do caixa com os investimentos estava em R$ 300 milhões, o portfólio contava com R$ 81 milhões em caixa, R$ 39 milhões no FIDC da FarmTech, outros R$ 39 milhões para “produtores de grande porte”, R$ 50 milhões em um CRA da Rio Amambaí e o restante divididos em operações menores, como CRAs do Grupo Moreno, Ruiz Coffees e Grupo Pluma.
Em janeiro, houve ainda o vencimento de uma operação com a Sinova no valor de R$ 10 milhões.