Entre agricultura comercial e familiar, o Plano Safra anunciado no final de junho pelo governo federal estima um desembolso na faixa de R$ 450 bilhões. O volume é recorde, cerca de 30% superior ao efetuado no período 2022/2023.

Com essa indicação do setor público, a movimentação nos bancos é grande para dar conta do aumento de demanda por crédito rural. Sejam públicas ou privadas, as instituições esperam um forte crescimento na procura dos produtores por financiamento e já começam a anunciar previsões que, proporcionalmente, superam as oficiais.

Apenas quatro deles, que já divulgaram suas projeções para a safra 2023/2024, devem colocar R$ 363 bilhões em recursos voltados para financiar a produção agropecuária. No total, Banco do Brasil, Banrisul, Sicoob e Sicredi vão oferecer ao agronegócio brasileiro R$ 77 bilhões a mais que o realizado na safra passada.

O mais recente anúncio foi do sistema cooperativo Sicoob. Nesta segunda-feira, 10, a instituição divulgou seu plano com um valor de R$ 52 bilhões para o setor, o que representa um avanço de 33% em relação aos R$ 39 bilhões oferecidos em 2022/2023.

Para suportar seu crescimento, o Sicoob quer aumentar o número de produtores que contratam financiamento no banco.

“Dos 430 mil produtores que temos na nossa base hoje, somente 30% tomam crédito conosco. Os outros recorrem a outros bancos, ou não fazem qualquer operação”, conta Raphael Silva de Santana, gerente nacional de Agronegócios do Sicoob.

A instituição tem como meta, segundo ele, chegar a 600 mil produtores na base de clientes até o final da safra 2024/2025. “E queremos também aumentar a proporção de clientes que tomam crédito com o Sicoob para 40%”, conta.

No Sicoob, uma das maiores apostas é a Cédula de Produto Rural, CPR, que o banco começou a operar em janeiro deste ano. “Nestes seis meses, fizemos R$ 5,5 bilhões. Esperamos fazer R$ 13 bilhões na próxima safra”, diz Santana.

Para atingir estas metas, Santana terá que contar com a “complexa” estrutura do Sicoob. São 14 centrais regionais, que englobam 340 cooperativas de crédito independentes.

Santana afirma que o montante poderia ser maior, mas os menores custos de produção, principalmente com a queda nos preços dos insumos, vão resultar em uma necessidade menor de crédito na safra 2023/2024.

Do montante total, R$ 240 bilhões são do BB, maior operador de crédito rural do país. Na apresentação do seu Plano Safra, o vice-presidente de Agronegócios do banco, Luiz Gustavo Lage, ressaltou que este é o maior orçamento da história da instituição.

A maior parte dos recursos do BB será destinada às empresas do setor, com R$ 139 bilhões. O segmento classificado como “Cadeia de Valor do agro” ficará com R$ 53 bilhões, enquanto a agricultura familiar e médios produtores, com R$ 48 bilhões.

O segundo maior orçamento para a safra 23/24, entre os quatro bancos, é do Sicredi, com R$ 60 bilhões, crescimento de 16% na comparação com o volume contratado no período anterior.

Já o Banrisul, que tem uma atuação concentrada no Rio Grande do Sul, tem o menor volume, R$ 11 bilhões. Por outro lado, é o maior crescimento entre seus concorrentes, de 57% em relação aos R$ 7 bilhões contratados em 22/23.

Segundo o presidente do Banrisul, Cláudio Coutinho, serão R$ 5,2 bilhões para grandes produtores, R$ 3,8 bilhões para aqueles de médio porte e R$ 2 bilhões para os pequenos.

“Seguiremos com a prioridade em atender um maior número de clientes da agricultura familiar, assim como médios produtores. Acreditamos que, muito maior do que o impacto econômico que geram, é o impacto social e a segurança alimentar que esse público traz com a sua força motriz”, disse Coutinho ao apresentar o plano do Banrisul.