Bebedouro (SP) - Basileia é a terceira maior cidade suíça. No Brasil, ela é famosa para um grupo específico de pessoas. Aquelas que, de alguma forma, trabalham com o sistema financeiro, mais especificamente com bancos.
Ou melhor, nos últimos anos, não só bancos. As cooperativas de crédito também seguem as regras do chamado Índice de Basileia, que estabelece um limite para quanto uma instituição financeira pode alavancar seu capital para conceder empréstimos.
No Brasil, os bancos devem manter um índice mínimo de 11%. Na prática, o índice garante que um banco não faça operações de crédito em um volume que coloque em risco sua própria saúde financeira.
A Credicitrus, maior cooperativa de crédito singular do país em ativos, está com um índice de Basileia de 23%. Isso quer dizer que a instituição poderia impulsionar de forma rápida sua carteira, já que tem uma sobra de capital bastante saudável.
Mas esse não é o plano da cooperativa. O CEO da Credicitrus, Walmir Segatto, afirma que a opção é manter o índice nesta faixa. “Não temos essa ambição de crescimento muito rápido. Preferimos manter a estratégia de ir com calma, sem perder nossas características”.
A carteira de crédito da Credicitrus cresceu 32,5% em 2023, em um ritmo muito maior que o visto em grandes bancos, chegando a R$ 6,9 bilhões. Ao final do primeiro trimestre, a carteira chegou a R$ 7,2 bilhões, com avanço de 4,5% em três meses.
A instituição apresentou os números durante coletiva de imprensa realizada na sua sede, em Bebedouro, interior de São Paulo, na região de Ribeirão Preto.
O agronegócio hoje representa mais de 40% desta carteira, segundo Fábio Fernandes, diretor de Negócios da Credicitrus. “Nós começamos a operar CPR (Cédula de Produtor Rural) no ano passado, o que impulsionou bastante as operações com os produtores”, conta o executivo.
A cooperativa está próxima de atingir R$ 10,5 bilhões em depósitos, principalmente a prazo, com emissão de Letras do Crédito do Agronegócio (LCA) e dos Recibos de Depósito Cooperativo (RDC), que são equivalentes aos CDBs dos bancos.
“É mais um indicador que mostra como temos espaço para emprestar mais. Mas vamos manter essa política de crescer em um ritmo que nos permita manter o nível de relacionamento que temos com os cooperados hoje”, diz Fernandes.
Atualmente, a Credicitrus conta com quase 170 mil cooperados. A cooperativa de crédito está próxima de atingir R$ 15 bilhões em ativos totais e planeja uma expansão de seus pontos físicos, que hoje somam mais de 100, concentrados em São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.
Questionado sobre essa estratégia de abrir mais pontos de atendimento físicos, na contramão da tendência de grandes bancos, que têm fechado agências, Fernandes afirma que o negócio da Credicitrus é baseado em relacionamento.
“Nós sabemos que o olho no olho ainda é muito importante. Esse é o nosso diferencial, e nos esforçamos para não perder isso”, afirma.
Ao mesmo tempo, a Credicitrus tem uma espécie de agência digital, que já gerou R$ 100 milhões em operações de crédito. “Temos inclusive o Market Club, que é a nossa plataforma de compra e venda de produtos. Achamos que o importante é atender os cooperados, da melhor forma para eles”, afirma Fernandes.
O plano de abrir novas agências ainda está em fases iniciais de discussão e não há planos sobre quantas unidades (ou onde) serão abertas, segundo Segatto.
Os executivos também preferem não tratar de metas para crescimento da carteira de crédito e de número de cooperados. Mas eles falaram sobre os planos para a Agrishow, maior feira de tecnologia agrícola da América Latina que acontece entre os dias 29 de abril e 3 de maio em Ribeirão Preto.
Segundo Fernandes, a expectativa da Credicitrus é fechar R$ 400 milhões em negócios durante a feira. “Nós, da diretoria, e todo o conselho vamos transferir nossos trabalhos para a Agrishow, exatamente para conseguir ter toda a estrutura de aprovação das operações na feira”.
O stand da Credicitrus na Agrishow terá cerca de 500 metros quadrados, o dobro do espaço que a cooperativa tinha na feira em 2023.
“Nós temos R$ 700 milhões em crédito pré-aprovado, que já podem ser utilizados pelos cooperados. Mas é muito difícil que tudo seja realizado”, afirma Fernandes.
Um dos focos na Agrishow será o crédito agrícola, especialmente para custeio da produção. A Credicitrus oferece a operação com taxa de juros de 12% ao ano. “Nós oferecemos essa taxa diferenciada com recursos próprios”, diz o executivo.
Segatto afirma que, da carteira atual, R$ 1,7 bilhão são de recursos obrigatórios direcionados para os produtores rurais. Mas a cooperativa tem quase o mesmo montante em operações agro com recursos próprios.
Duplo benefício
Se por um lado os cooperados são beneficiados pelas taxas mais baixas nas operações de crédito que a média dos bancos privados, por outro eles conseguem se beneficiar dos resultados da cooperativa.
A Credicitrus apresentou sobras de R$ 493 milhões em 2023, contra pouco mais de R$ 470 milhões em 2022.
Desse valor, as cooperativas de crédito precisam direcionar 7% para fins sociais, que segundo Segatto, a Credicitrus utiliza para fins educacionais e culturais. O restante é distribuído entre os associados.
“Nos últimos seis anos, a participação do cooperativismo no crédito saiu de algo entre 2% e 3% para chegar perto de 12% hoje. Tem muito a ver com esse tratamento diferenciado que o cooperado recebe, tanto em termos financeiros quanto em atendimento”, diz Segatto.
Ele afirma que, somando as sobras da operação da Credicitrus mais a economia com juros, o retorno sócio-econômico para os cooperados chega a R$ 1,3 bilhão.