Luis Stuhlberg é uma referência do mercado financeiro brasileiro. À frente da Verde Asset, com R$ 26 bilhões sob gestão, seus movimentos e suas análises são sempre acompanhados com atenção por investidores, em função de um histórico de decisões acertadas que renderam retornos relevantes nas últimas décadas.

E ele está atento ao agronegócio. Para Stuhlberger, os títulos vinculados ao setor, como CRAs (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), as LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), além de Fiagros e debêntures incentivadas, fazem parte de um mercado que veio para ficar, e bater de frente com as assets.

Em entrevista ao jornalista Carlos Sambrana, publicada no NeoFeed nesta semana, o gestor pontuou que parte dos R$ 260 bilhões de saídas dos fundos do mercado de assets neste ano acabaram indo para esse tipo de investimento que possui incentivo.

Na ponta do investidor, a possibilidade de ter um rendimento isento de imposto de renda atraiu esse capital.

“Na última vez que eu vi, as emissões disso neste ano montavam uns R$ 800 bilhões. Você tem, por semana, praticamente de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões de emissão de debêntures de infraestrutura isentas de impostos. Eu não acho que isso vai acabar porque os lobbys para não acabar com isso foram muito fortes”, disse ao NeoFeed.

Além dos CRAs, LCAs e Fiagros, seus irmãos do mundo imobiliário também entram na jogada: os CRIs, os LCIs e os FIIs. “É aquilo que o Haddad chama de uma parte das jabuticabas brasileiras. Só que essa jabuticaba é muito forte, muito sólida”, acrescenta.

O agro brasileiro é uma jabuticaba tipo exportação. Ao avaliar a posição dos investidores estrangeiros e o olhar que eles têm do mercado de ações local, Stuhlberg vê pouco dinheiro de fora indo para as ações, mas sim buscando alternativas em outras vertentes da economia brasileira.

“Eles estão olhando o Brasil e o interesse é maior no setor de agribusiness”, afirmou. “O Brasil é o pulmão do mundo, o lugar onde a produção de alimentos e seus componentes como soja, milho, etc. geram investimentos”.

Demais setores como serviços, consumo, indústria, também recebem investimento vindo de fora, mas, segundo o gestor “muito aquém do que a gente imaginava”. O que pode travar esse dinheiro, segundo ele, é a insegurança jurídica do País.

“O Brasil é um país complicado. Temos o nosso inferno particular, fiscal e trabalhista. Quando você investe em um país, você quer segurança jurídica. E isso está piorando, não melhorando. Quando isso piora, afasta o investidor”, comenta.

Stuhlberg comentou, ainda, sobre os avanços econômicos de China e Índia, que segundo ele, podem mudar a dinâmica global. Os dois países são grandes importadores do agro brasileiro.

Ele se mostrou otimista com a economia indiana e disse que tem apostado na moeda do país ante a chinesa. Apesar disso, não vê esses países, junto com a Rússia, tirando um domínio econômico global dos Estados Unidos.

Durante a entrevista ao NeoFeed, Luis Stuhlberg deu sua opinião, sempre muito ouvida pelo mercado, sobre diversos temas que perpassam a economia brasileira.

Sobre a Verde Asset, o gestor disse ao NeoFeed que está “fazendo o que sempre fez” e com um goal nos fundos que existem há tempos. “O time da Verde está mais robusto, nas capabilities que a gente trouxe recentemente, tanto em crédito, em ações e em alguns books menores, mais significativos”, diz.

Ele também prevê no horizonte uma troca no sócio minoritário, que hoje é o UBS Credit Suisse, para a Lumina, de Daniel Goldberg. Segundo Stuhlberg, Goldberg tem experiência em crédito em situações complexas, mas que sua expertise será mais usada para contratar novos talentos.

Sobre a baixa do mercado de assets, o gestor pontuou que esse é “um mercado curioso” e que existe uma percepção no setor de que todos os players têm de performar bem para que o setor continue bem.

“A gente aqui tem que torcer para os outros gestores de multimercado irem bem, porque, se eles vão mal, afeta todo o sistema. É uma coisa curiosa, porque o resgate vem em todo o sistema. Não posso dizer que está sendo uma fase fácil para a gente, mas, de fato, estamos vendo um tamanho da indústria, coletivamente, diminuindo também”, disse.