As distribuidoras de produtos agrícolas lidam com um momento de desgaste desde o ano passado. Com excesso de estoques a queda nas cotações dos grãos, que pressiona os preços e as margens dos insumos, algumas grandes empresas do segmento sofreram problemas financeiros.
O cenário começa a se estabilizar e o setor vislumbra um período de maior calmaria, trazendo de volta à mesa planos que estavam temporariamente suspensos.
Na Leste Group, plataforma de investimentos e gestora fundada há 10 anos pelo ex-sócio do BTG Pactual Emmanuel Hermann, por exemplo, a ideia é recolocar no mercado o projeto de uma nova rodada de captação para um Fiagro de R$ 100 milhões, composto justamente por ativos de revendas agrícolas.
“Com todas as incertezas que trouxeram turbulências para o mercado, resolvemos adiar e voltar à carga em junho”, conta Arnaldo Braga, sócio e chefe de Gestão de Créditos Estruturados da Leste Group e responsável pelo Fiagro.
O objetivo é captar até R$ 150 milhões nessa nova oferta. Hoje a Leste tem seis empresas já aguardando para receber esses recursos. “Nós direcionamos entre R$ 10 milhões e R$ 15 milhões para cada empresa”, afirma o gestor.
A estratégia do grupo no agronegócio tem passado, nos últimos anos, pela proximidade com as revendas. “Não chegamos ao produtor, por ser mais complexo, já tem muita concorrência para financiar. Também não fazemos nenhuma operação sem garantia, e evitamos aquelas que são muito difíceis de executar”, afirma Braga.
O grupo resolveu montar o fundo para antecipar recebíveis de revendas e cerealistas, que também carregam risco de inadimplência. Por isso, Braga conta que o segredo está na escolha das distribuidoras.
O Fiagro Leste tem atualmente, na sua carteira, ativos de 13 empresas com faturamentos que variam entre R$ 100 milhões e R$ 1 bilhão por ano.
“O empresário que tem uma revenda de pequeno para médio porte, com atuação regional, é o melhor analista de crédito dos produtores daquele local. Porque as relações são próximas, o atendimento é personalizado, ele sabe quem é bom pagador, quais as condições de cada agricultor”, explica o gestor.
“O risco é muito baixo, porque exatamente essa relação tão próxima leva os produtores a priorizar o pagamento dos insumos comprados na revenda, até para não ter o risco de precisar comprar à vista na próxima safra”, diz Braga.
A garantia para a gestora é o próprio recebível e o sócio da Leste afirma que até agora, o Fiagro não teve qualquer problema de inadimplência.
“Importante também que esses recebíveis ficam fora de uma eventual Recuperação Judicial. Diferente de terras, que têm sido consideradas parte essencial da atividade em alguns processos, e por isso, ficam invalidadas como garantia”.
Ele afirma que a grande vantagem para as revendas é que o Fiagro consegue oferecer ao empresário todo o recurso necessário para montar seu portfólio em cada safra.
“Se ele for ao banco, ele consegue dinheiro para 10%, 15% das necessidades. Aqui, como ele consegue pegar todo o dinheiro necessário, consegue comprar os itens à vista, com desconto”.
Outro ponto importante é a análise da própria revenda. Braga afirma que margens muito altas são um mau sinal.
“Se eu pego o balanço de uma revenda e aparece uma margem de 25%, tem alguma coisa errada. A conta vai aparecer ali na frente. Nesse negócio, uma margem de 12% já é espetacular. O mais comum é ter uma margem de 8%, 9%, que sinaliza uma consistência de longo prazo”, explica.
Também muito observado na hora da análise das empresas é o nível de endividamento. “Uma empresa que apresenta alavancagem acima de 3 vezes o Ebitda vai ter problema. Nós sabemos de casas que colocaram em fundos empresas com 2 vezes a relação dívida/Ebitda e enfrentaram dificuldades. Aqui, se tiver entre 1,5 vez e 2 vezes, passa na análise”.
Em termos de desempenho, Braga destaca o alto patamar de dividendos pagos pelo fundo. Apesar de acumular uma queda superior a 17% em 12 meses, segundo informações da plataforma Status Invest, a taxa de dividendos (dividend yield, que é a proporção do patrimônio paga em dividendos aos investidores) chega perto de 19%, isento de impostos.
A maioria dos Fiagros do mercado paga uma taxa de dividendos que fica entre 15% e 16% do patrimônio. Poucos conseguem atingir patamar acima de 18%.
A gestora, que começou como um escritório de Family Office e aos poucos foi se tornando uma plataforma voltada para investidores, tem R$ 11 bilhões sob gestão. Cerca de 75% deste montante está alocado nos Estados Unidos, já que a sede da Leste fica em Miami.
No Brasil, a gestora faz operações de crédito e também tem fundos que compram precatórios e ativos judiciais.
Em crédito, segundo Braga, a Leste tem cerca de R$ 600 milhões no Brasil. “Somente no agronegócio, nós temos esse fundo de R$ 100 milhões e mais R$ 50 milhões em outras operações”.