A soma de custos de produção elevados, variação nos preços das commodities e crédito mais caro resulta em um novo aumento da inadimplência dos produtores rurais.
A análise é do Serasa Experian, que divulgou um estudo sobre o tema nesta quarta-feira, 12 de novembro. Segundo a empresa, 8,1% da população rural estava inadimplente no segundo trimestre.
O dado mostra uma alta de 0,3 ponto percentual frente ao primeiro trimestre deste ano, apontando um “viés de alta”, e uma alta de 1,1 ponto percentual na comparação com o mesmo período do ano anterior.
“Os indicadores apontam uma piora lenta, porém contínua, na capacidade da população rural de manter-se adimplente. O agronegócio enfrenta desafios de fluxo de caixa e endividamento acumulados nos últimos 3 a 4 anos, exigindo atenção e reestruturação”, comenta Marcelo Pimenta, head de agronegócio da Serasa Experian, em nota.
No levantamento, a empresa constatou que produtores sem registro de cadastro rural, ou seja, os arrendatários, são maioria entre os inadimplentes, com 10,5% com pagamentos em atraso. Na sequência está a segmentação de grandes proprietários, com 9,2% do total.
“Produtores que precisam arrendar terras, por exemplo, costumam lidar com margens mais apertadas pelo custo extra. Em relação aos grandes produtores, o maior apetite ao risco pode gerar desequilíbrio”, acrescenta Pimenta. Médios proprietários têm participação de 7,8% e os pequenos, de 7,6%.
Por região, os produtores do Rio Grande do Sul, mesmo afetados por anos de quebras de safras e desastres climáticos, possuem o menor índice entre as unidades federativas, com 4,9% apenas de inadimplentes. Já o Amapá registrou a maior taxa, de 19,5%.
Em relação aos credores, o levantamento mostra que as instituições financeiras concentram a maior parte das dívidas em atraso, com os valores devidos representando 7,2% dos créditos.
Logo em seguida aparecem as empresas do “Setor Agro”, como revendas, agroindústrias e fornecedores de insumos, que respondem por 0,3% do total, e os “setores relacionados”, como transportes, armazenagem e seguradoras, com 0,1%.
Segundo a Serasa Experian, esses números indicam que a inadimplência no campo está mais associada a financiamentos e operações de crédito tradicionais, e não ao fornecimento direto de produtos e serviços do agronegócio.
“A cadeia agro tem um cenário positivo em relação à inadimplência. Embora o percentual geral de produtores inadimplentes seja de 8,1%, quando se observa apenas o recorte do setor agroindustrial e suas conexões, o índice é muito menor”, conclui Pimenta.
O “Indicador de Inadimplência do Agronegócio da Serasa Experian”, considera dívidas acima de R$ 1 mil vencidas há mais de 180 dias, e no máximo, há cinco anos.
O cálculo do percentual de inadimplência baseia-se em uma amostra de 10,5 milhões de pessoas físicas identificadas na população rural.
São considerados produtores com registros no Cadastro Ambiental Rural (CAR) ou no Cadastro Federal de Imóveis Rurais (CAFIR), aqueles que tiveram financiamentos rurais ou agroindustriais no Cadastro Positivo no último ano, e ainda produtores com atividade registrada no Sintegra (Sistema Integrado de Informações sobre Operações Interestaduais com Mercadorias e Serviços).
Resumo
- Inadimplência rural sube 0,3 ponto percentual frente ao trimestre anterior e 1,1 ponto em um ano, indica estudo do Serasa
- Arrendatários lideram os atrasos, com 10,5% inadimplentes, seguidos por grandes produtores (9,2%) e médios (7,8%)
- Nas instituições financeiras, inadimplência atinge 7,2%, muito acima das empresas do setor agro (0,3%)