Mesmo atravessando um ano difícil, com margens mais apertadas em função dos baixos preços das commodities agrícolas, o produtor rural buscou colocar em dia suas contas no último trimestre.
Segundo a primeira edição do Boletim Agro da Serasa Experian, que analisou a situação do crédito de mais da população envolvida com a produção agropecuária, a inadimplência – que vinha em alta – caiu mais de um ponto percentual no terceiro trimestre deste ano e ficou em 6,7%, retrocedendo a índices pouco acima dos que se verificava há dois anos, no auge da rentabilidade do setor.
“Temos verificado uma tendência de queda de inadimplência nos mesmos períodos em anos anteriores, provavelmente em função da necessidade de os produtores regularizarem suas situações para obterem novos créditos para custear a safra”, afirmou Frederico Poleto, Head de Ciência de Dados Agro da Serasa Experian. “Mas este ano ela caiu de forma mais abrupta e em todos as faixas”, completou.
O levantamento foi divulgado pela empresa nesta segunda-feira, 4 de dezembro. Foram analisados mais de 9,5 milhões de CPFs relacionados a atividades agropecuárias, o que corresponde, segundo a Serasa, a 63% de uma população total de 15,1 milhões de brasileiros considerados pelo IBGE com esse perfil.
Essa base de CPFs obteve, entre outubro de 2022 e setembro de 2023, um montante de crédito de R$ 386 bilhões. Somente no terceiro trimestre de 2023 foram analisados, segundo a Serasa, cerca de 343 mil novos contratos de crédito rural e agroindustrial, totalizando quase R$ 65 bilhões. O volume é 11% suuperior ao mesmo período do ano passado.
Segundo o estudo, mesmo com a inadimplência menor a média do escore de crédito da “população agro” caiu em relação aos anos anteriores. Ficou em 653 no trimestre – em uma escala que vai até 1000, sendo que o número mais alto indica menor risco de inadimplência – enquanto nos anos anteriores estava acima de 720.
Pelos critérios da Serasa, pessoas do agro com o escore superior a 650 tem menos de 3,3% de probabilidade de se tornarem inadimplentes. No segmento, a empresa considera como tal aqueles com dívidas vencidas com prazo superior a 180 dias.
Essa redução, segundo análise da Serasa, deveu-se sobretudo ao escore de um segmento classificado pela empresa como “sem registro de cadastro rural”. Trata-se de uma parte da população agro que, embor tenha atividade no setor, não possui propriedae rural vinculada a seus CPFs. Isso indicaria, por exemplo, arrendatários ou pessoas participantes de grupos economicos ou familiares.
“Vemos uma pressão maior sobre os arrendatários nesse período de margens menores, pois além dos custos da produção ainda precisam pagar o aluguel de suas terras”, explicou Marcelo Pimenta.
De acordo com a empresa, esse grupo corresponde a cerca de 14% da base analisada e tem taxa de inadimplência de 10%. O maior grupo é o de pequenos produtores (com propriedades inferiores a 4 módulos fiscais), com 72,4% do total. São justamente estes os com menor índice de inadimplência, 5,9%.
Os grandes produtores (mais de 15 módulos), formam 8,1% do total e tem inadimplência de 8,8%, enquanto os médios (de 5 a 15 módulos) são 5,5% do total e taxa de 6,2%.
Alguns dos dados destacados nessa primeira edição apontam outras diferenças no perfil de crédito conforme as regiões em que se localizam. Foi surpreendente verificar, por exemplo, que a região com menor índice de inadimplência foi o Sul, a despeito de terem enfrentado dois anos de dificuldades em função dos impactos de eventos climáticos desfavoráveis.
Na região, o índice de maus pagadores ficou em 4,7%. A maior proporção de inadimplentes está na região denominada pela Serasa como Norte Agro, que abrange os estados da região, com exceção de Rondônia (incluído na região Centro Oeste Agro, na classificação a empresa). Ali, a taxa é de 10,6%. No Sudeste, o índice ficou em 5,96%. Centro Oeste Agro, Nordeste Agro e Matopiba tiveram a mesma taxa: 7,4%.
O levantamento da empresa apontou que, no terceiro trimestre de 2023, foram verificados 1,6 milhões de CPFs negativados no público agro, com mais de 3,1 milhões de contas consideradas inadimplentes.
Dessas, apenas 1,9% eram devidas a empresas do próprio agro, o que confirma estudo anterior, divulgado pelo AgFeed, que indicava uma tendência dos produtores em priorizar dívidas com fornecedores diretos, mantendo as operações nas fazendas.
O maior volume de contas não pagas estão na categoria “outros setores”, que englobam produtos e serviços diversos, com 56,7% do total. A inadimplência junto às instituições financeiras representou 41,4%.
A Serasa informou que, a partir de agora, o boletim terá periodicidade trimestral e será distribuído gratuitamente entre agentes financeiros e estabelecimentos comerciais das cadeias do agro.
“Queremos transformá-lo em um termômetro para apontar, através de dados de crédito, tendências de expansão de produção e de oportunidades no setor”, afirma Marcelo Pimenta, Head de Agronegócios da empresa.