O E-agro, marketplace do Bradesco voltado aos produtores rurais, deve passar por uma fase de "consolidação" em seu volume de originação de crédito ao longo de 2026, após crescimento acelerado desde o lançamento da plataforma, em 2023.
"No ano que vem, a gente não dobra de tamanho. É uma fase mais de consolidação, na qual a gente está colhendo os frutos do que produzimos ao longo dos últimos anos", afirmou Nadege Saad, head do E-agro, em entrevista ao AgFeed, nos bastidores do evento Innovation Experience 2025, realizado pelo Bradesco nesta quarta-feira, dia 1º de outubro, em Osasco (SP).
Parte desse movimento também está associado às condições de crédito mais restritivas enfrentadas pelos produtores rurais na hora de tomar os financiamentos, diz Saad, em tempos de taxa Selic a 15%.
‘“Isso afeta porque passamos a exigir mais garantias, e não só nós, mas todos os bancos. Há uma restrição maior na originação, no perfil de clientes que conseguimos atingir e também nos ratings”, explica a executiva.
“Além disso, há muita rolagem de dívida no mercado, o que reduz o horizonte de um marketplace como o nosso, que depende tanto de novos clientes quanto de renovações. Ainda assim, isso não significa que não vamos crescer: já estava previsto no nosso plano que 2026, seria um ano de consolidação.”
O E-agro teve um rápido crescimento em termos de originação de crédito dentro da plataforma, passando de cerca de R$ 500 milhões ao fim de 2023 para R$ 2,4 bilhões em 2024, com a expectativa de dobrar o volume total concedido neste ano, o que faria a carteira chegar a uma marca de R$ 4,8 bilhões.
Saad prefere não revelar o número exato por enquanto, mas diz que os resultados estão sendo positivos. "A gente está indo bem, é o que posso adiantar", afirma. "Estamos nos encaminhando para fazermos este resultado (o dobro do ano passado) em dezembro."
Ainda que sem citar números, a executiva destaca o bom desempenho de originação de crédito de produtores enquadrados no Pronamp, linha do Plano Safra destinada aos produtores médios.
No Plano Safra 2024/2025, o volume concedido, considerando Pronamp e Pronaf, a linha de agricultura familiar, foi de pouco mais de R$ 100 milhões, segundo Saad.
"Agora, a gente acabou de passar por esse "teste de fogo" e fizemos um recorde de recursos obrigatórios", comemora.
O carro-chefe das operações do E-agro continua sendo, no entanto, as CPRs (Cédula de Produto Rural), que representam a maior parte da originação pelas facilidades de dimensionamento de custos e taxas que trazem em comparação com os recursos do Plano Safra.
Assim como o volume de crédito, a base de clientes como um todo também está crescendo ao longo deste ano, chegando a mais de 100 mil clientes - há pouco mais de seis meses, quando havia conversado pela última vez com o AgFeed, Saad contabilizava 52 mil clientes. "O crescimento tem sido vertiginoso, em progressão geométrica.”
O aumento do número de clientes no marketplace se explica por alguns fatores, de acordo com Saad. Um deles, segundo a executiva, é o fato de que a equipe do E-agro tem aumentado convênios com concessionárias, o que faz com que a base de clientes aumente.
"O agricultor vem procurar a taxa que ele tem diferenciada em um concessionário, por exemplo, da New Holland, da John Deere, e que pelo E-agro eu consigo fazer mais barato pra ele.”
A executiva menciona também como outro vetor de crescimento o apoio de assessores técnicos. "Esses assessores técnicos têm carteiras deles e acaba sendo uma estratégia "figital": o assessor apresenta o E-agro, o cliente vai lá, se cadastra, e conhece outras coisas além do projeto que já ia fazer com o assessor", explica.
Alguns produtos continuam no forno e devem chegar ao marketplace no ano que vem, como o atendimento de produtores PJ dentro da plataforma, iniciativa que ainda não saiu do papel. “Devemos começar a desenvolver neste mês para que ele esteja pronto até janeiro”, diz Saad.
O produto, segundo a executiva, vai atender produtores que buscam utilizar tanto recursos obrigatórios quanto recursos livres e a ideia é que possa ser usado já na próxima safra.
Dessa forma, o E-agro conseguirá acessar tickets maiores e também fazer operações de maior porte, uma vez que tradicionalmente os produtores PJs são maiores.
Saad diz que também está no pipeline de projetos a possibilidade de que os produtores façam a utilização de contratos barter de forma digital na plataforma. A ideia é que essa funcionalidade chegue aos produtores no ano que vem.
Por enquanto, o desenvolvimento está sendo feito em parceria com uma das “principais techs de barter”, diz Saad, sem citar o nome da empresa parceira do Bradesco neste projeto.
O E-agro também pretende fazer a aplicação de uso de inteligência artificial generativa na plataforma.
Saad diz que a ideia é que o marketplace tenha também um “concierge”, um assistente digital hiper personalizado capaz de analisar o histórico do produtor, incluindo perfil de crédito, as compras realizadas e o tipo de atividade (pecuária, grãos, hortifruti, entre outras), para então sugerir soluções financeiras completas, com condições competitivas.
“É o sonho de toda empresa: pegar na mão do agricultor e entregar exatamente o que ele precisa, no momento certo e com uma boa taxa”, avalia a head do E-agro.
Resumo
- Plataforma digital do Bradesco, o E-agro deve fechar 2025 com quase R$ 5 bilhões em crédito originado após dois anos de forte expansão.
- Tendência para o ano que vem é de consolidação no marketplace, ainda com aumento de crédito, mas de forma menos acelerada.
- E-agro deve ter novidades em 2026 com funcionalidades como crédito para produtores PJ, barter digital e “concierge” com IA generativa.