Criptomoeda lastreada em fertilizante, diferentes plataformas de e-commerce, assistente virtual e agora uma “rede social” própria, onde pessoas e mecanismos de inteligência artificial trocam ideias sobre o universo agrícola.
Essas são algumas das apostas da Cibra, empresa de fertilizantes que está entre as cinco maiores do País no segmento e que vem se destacando por implementar inovações na gestão – além dos fortes investimentos para ampliar a produção no Brasil.
A mais recente dessas novidades, segundo controu, em entrevista exclusiva ao AgFeed, o CEO da Cibra, Santiago Franco, foi lançada em agosto: a plataforma “Jarilo”, nome de um deus nórdico da agricultura, que pretende conectar qualquer que pessoa disposta a trocar ideias sobre práticas agrícolas ou mesmo tirar dúvidas sobre o mercado.
A rede social foi criada “in house”, outra marca registrada da empresa, que tem programas de incentivo à inovação entre os seus funcionários.
“No ano passado investimos R$ 2 milhões só para implantar ideias dos colaboradores, foram 400 ideias convertidas em pequenas melhorias”, contou Franco.
Ainda sem grande alarde, na primeira semana a “Jarilo” já contava com mais de 300 usuários e, por meio da Inteligência Artificial, ajudava a responder dúvidas das pessoas desde uso de fertilizantes até cotações da soja na Bolsa de Chicago.
O próprio colaborador, para apresentar uma ideia, começa interagindo com a “Cibele”, assistente virtual da Cibra criada em 2021. Há dois anos ela também já atua como “engenheira agrônoma”, respondendo às dúvidas da equipe e dos clientes.
As investidas digitais da empresa não param por aí. Em 2022, lançou o CibraCoin, considerado “o primeiro criptoativo vinculado a fertilizantes do mundo”. Na prática, é uma ferramenta de hedge onde o cliente pode adquirir tokens e depois usá-los na compra de adubos, caso seja vantajoso financeiramente.
Segundo a companhia, foram negociados mais de 500 mil tokens até agora, desde a implantação do CibraCoin, o que representa um giro de R$ 1,5 milhão.
Também faz parte da estratégia digital a venda em marketplaces, começando pelo próprio e-commerce da empresa, a CibraStore, que existe desde 2020.
No ano passado, segundo a Cibra, o ecossistema digital se expandiu para parceiros como Broto (Banco do Brasil), e-Agro (Bradesco), Clube Agro, Agrotoken e Agrofy, para comercialização dos fertilizantes.
“Hoje são milhões de reais comercializados via digital. É pouco comparado aos bilhões de reais que a gente vende, mas cresceu bastante”, disse o CEO da Cibra.
E fundamental para colocar a companhia em condições de atender a um movimento de mudança no comportamento das novas gerações no campo. Ele diz que cada vez mais tem ouvido das equipes relatos a esse respeito. “Já não se interessam por dias de campo, por exemplo, Quem ainda vai são os mais velhos”, afirmou.
Os diferentes meios digitais de interação buscam justamente estar perto desse público que tende a se informar cada vez mais pela internet.
“A rede Jarilo vai trazer visibilidade para a Cibra, nos ajuda a entender melhor as necessidades dos clientes, vamos ver o que pessoal está perguntando e querendo. Mas é um relacionamento entre pares, é aberto, uma ferramenta de IA para qualquer um usar”, explicou.
A Cibra não revela quanto vem investindo em cada uma das plataformas digitais, só ressalta que todas elas foram desenvolvidas internamente.
Hoje a empresa tem 1,6 mil colaboradores. Cerca de 300 deles, da área corporativa, estão 100% no modelo home office, o que também é algo “inovador” para o tradicional segmento de fertilizantes.
Santiago Franco defende o foco na gestão de pessoas como um dos diferenciais para um crescimento tão acelerado da empresa, que viu sua receita crescer 114 vezes em 12 anos. O CEO é autor de um livro chamado Liderança e Gestão de Pessoas no Agronegócio e a empresa já ganhou alguns reconhecimentos nesse quesito.
“Ficamos mais competitivos porque nosso custo administrativo é baixo em relação aos concorrentes e somos flexíveis, com poucos níveis hierárquicos, dando bastante autonomia para os times”, ressaltou.
Em pesquisa e desenvolvimento, a empresa diz ter investido R$ 1,3 milhão nos últimos 3 anos, além de R$ 100 milhões em sustentabilidade. Mas os aportes mais expressivos vêm sendo feitos na produção, com a compra de fábricas e construção de unidades novas que também trazem aspectos de alta tecnologia nas operações.
“Nas últimas duas fábricas, greenfields, nós investimos R$ 500 milhões”, reforçou Santiago Franco.
O executivo se refere às unidades de Sinop, em Mato Grosso, e São Luís, no Maranhão. Cada uma tem capacidade de produzir 800 mil toneladas de fertilizantes NPK.
Vendas em alta e planos futuros
A história da atual Cibra no Brasil começou com a aquisição da CibraFértil, na Bahia, em 2012. O colombiano Santiago Franco, atual CEO, veio atuar no projeto desde o início, quando se mudou para o Brasil.
“A primeira fábrica que compramos, lá no polo de Camaçari, fazia 200 mil toneladas e faturava R$ 70 milhões. Hoje a Cibra produz quase 4 milhões de toneladas e fatura R$ 8 bilhões”, conta Santiago.
Ao longo dos últimos anos a Cibra foi adquirindo unidades pelo País, como da Fertilizantes Heringer, em Uberaba, Minas Gerais, e cinco fábricas da Agriter.
Atualmente, são 13 fábricas, entre as aquisições e as últimas construídas do zero, com presença nos principais estados agrícolas do País.
Santiago Franco admitiu ao AgFeed que na segunda metade de 2025 já existe a possibilidade de novos investimentos na produção. “Temos projetos, mais de um, mas será escalado”.
“Temos um plano pré-aprovado para investir R$ 1,5 bilhão até 2026”, lembrou o CEO. Ele não revela em qual região deve apostar dessa vez, ressaltando que a prioridade agora é a busca de novos clientes e “colocar para funcionar” as fábricas mais recentes.
Em 2026 a empresa espera estar produzindo 5 milhões de toneladas de fertilizantes. O negócio consiste, principalmente, nas misturadoras e não na produção de elementos que depois dão origem ao NPK.
Para garantir o abastecimento, as matérias-primas são importadas, com diversificação de mercados para evitar percalços da geopolítica mundial. “No ultimo ano compramos de 60 países diferentes”, afirmou Franco.
A última fábrica, inaugurada em junho deste ano no Maranhão, é considerada referência para o grupo, daqui para a frente, em relação a automatização de processos. Um dos destaques tecnológicos da planta é o Erkomat, equipamento de ensacamento automatizado de origem finlandesa, que por enquanto ainda não foi instalado na fábrica de Sinop.
Sobre o momento atual no mercado de fertilizantes, Santiago Franco tem uma certeza: “vamos crescer muito por conta dos investimentos que fizemos e superar um pouco as metas de volumes”.
Segundo ele, o inicialmente previsto era uma produção de 3,8 milhões de toneladas em 2024, um crescimento entre 25% e 30% em relação ao ano passado, mas agora acredita em 3,9 milhões de toneladas comercializadas.
Na visão do executivo, há risco de o mercado brasileiro como um todo registrar um recuo este ano. Segundo os dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), as entregas de fertilizantes no primeiro semestre de 2024 totalizaram 4 milhões de toneladas, o que representaria uma queda de 1,8%.
É consenso de que está havendo uma demora por parte do produtor para comprar os insumos. A dúvida é se as vendas realmente vão ocorrer no volume esperado – o setor imaginava pelo menos repetir o volume de entregas de 2023.
“A safra está muito atrasada, nunca aconteceu, que eu lembre, entrega para safra de soja em outubro”, afirmou Franco.
Ele lembra que a restrição de crédito, com a falta de liquidez entre os produtores e bancos cada vez mais criteriosos para conceder financiamentos, agrava a situação. “O produtor está guardando mais (os grãos) do que vendendo. E quando vende, é menos do que no ano passado”.
Apesar disso, a previsão da Cibra é pelo menos empatar o volume de vendas nas regiões tradicionais em que já atua há mais tempo. Já nas áreas atendidas pelas duas fábricas novas, a estimativa é ajudar a melhorar o desempenho geral da empresa este ano. “Estamos conquistando novos mercados”, disse o CEO.
Em faturamento, a Cibra mantém a previsão de avançar 15% sobre os R$ 8 bilhões de receita alcançados em 2023. O motivo também seria o aumento nas vendas nas novas regiões. Os percentuais não empatam porque os preços de diversos fertilizantes estão em patamares mais baixos se comparados ao ano passado.
Enquanto isso, a Cibra promete seguir utilizando cada vez mais o mercado de capitais como fonte de financiamento.
Segundo o CEO, até hoje a empresa já emitiu pelo menos R$ 1 bilhão em CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegocio) e debêntures. Novas operações estão previstas, mas a empresa não revela os detalhes.
Para seguir crescendo no futuro, a Cibra tem uma outra importante aposta. A empresa é controlada pela americana Omimex, que tem 90% das ações. A Omimex já foi dona da gigante Abocol, da Colômbia (onde Santiago trabalhou), que depois foi adquirida pela Yara. Outros 10% da Cibra pertencem à mineradora Anglo American.
Esta última está construindo uma mina de fertilizantes na Grã Bretanha e deve trazer ao mercado um produto que promete “revolucionar” o segmento. Trata-se do Poly4, extraído de uma rocha, a polihalita, que engloba quatro nutrientes de uma só vez – cálcio, enxofre, magnésio e potássio.
“Será uma linha importante de crescimento para nós. Temos um acordo para ser o distribuidor deles na América do Sul, foi por isso que compraram 10% da Cibra em 2018”, contou Santiago Franco.
O produto é considerado uma inovação e uma “especialidade” ´já que, tradicionalmente, é necessário buscar os nutrientes em diferentes rochas e não todas misturadas como neste caso. A previsão é de que chegue ao mercado em 2026.