Setor em expansão, relacionamento próximo dos agricultores e disposição para acessar o mercado de capitais. Essa receita vem garantindo à Cresol, cooperativa de crédito nascida no coração da principal região produtora do Paraná, um crescimento que representa o dobro da média do setor.
Em 2022 os ativos do grupo totalizaram R$ 24,8 bilhões, crescimento de 44% em relação ao ano anterior – no mesmo período o segmento avançou 22%. A meta da Cresol é alcançar R$ 45 bilhões em ativos daqui a 2 anos e R$ 115 bilhões em 2030.
A Cresol planeja agora a emissão de um CRA verde, iniciativa que faz parte de uma parceria com o BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento - e que já está estruturada, porém, ainda depende de autorização do Banco Central.
Se aprovada, será a terceira iniciativa do grupo no mercado de capitais. No ano passado, captou R$ 250 milhões por meio da emissão de dois CRAs.
A autorização especial, no caso da Cresol, é necessária porque o sistema, ao contrário dos dois principais concorrentes, não possui banco próprio, atua apenas como cooperativa de crédito.
O grupo também prepara uma iniciativa inédita: lançar um Fiagro ou um Fdic voltado para o financiamento da compra de máquinas e equipamentos usados.
“É um mercado que movimenta R$ 60 bilhões por ano no Brasil, por isso estamos estudando um instrumento, um mecanismo de crédito que possa atender essa necessidade”, afirmou o CEO da Cresol, Cledir Magri, em entrevista ao AgFeed.
A cooperativa foi fundada em 1995 por um grupo de 27 agricultores em uma pequena cidade do sudoeste do Paraná chamada Dois Vizinhos.
Na época, o financiamento para pequenas propriedades era escasso e, por pressão de movimentos sociais, os governos começaram a viabilizar iniciativas de microcrédito.
Neste cenário, surgiu o Sistema de Cooperativas de Crédito Rural com Interação Solidária, o sistema Cresol, que atualmente tem mais de 800 mil cooperados, em 18 estados brasileiros. O sistema engloba 70 cooperativas e tem 640 agências.
Considerada uma das maiores operadoras de crédito rural com recursos do BNDES, a Cresol estava em 6º no ranking das cooperativas do ramo há 5 anos e hoje já é o terceiro maior sistema em número de clientes e valor dos ativos, perdendo apenas para Sicoob e Sicredi.
Finanças com dimensão afetiva
O líder desse crescimento tem um perfil peculiar: Cledir Magri formou-se em filosofia na região de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, onde também se preparava para seguir a carreira religiosa, matriculado no seminário.
Mas a vocação para ser gestor falou mais alto e ele acabou optando por um MBA em administração, assumindo a posição de CEO da Cresol com 33 anos de idade (está no cargo há 7 anos).
O gaúcho de Frederico Westphalen conta que sempre procurou frequentar encontros internacionais de cooperativas e que certa vez, durante a Cúpula Cooperativista em 2019, ouviu dirigentes de grandes grupos europeus do setor, como Rabobank e Crédit Agricole, falando sobre o desafio de equilibrar a máquina com gente, o mundo digital com o ser humano e a “necessidade de resgatar a dimensão afetiva” deste segmento.
“Percebi que com isso não precisávamos nos preocupar. Este era o nosso maior valor, a manutenção desta dimensão afetiva e o contato direto, relação de confiança com os cooperados”, afirma.
Mas era preciso buscar mais eficiência na gestão e seguir acessando o que houvesse de mais moderno no mercado financeiro e do agronegócio.
Magri lembra que os dois pinheiros que representam o logotipo do setor cooperativista representam dois pilares, o econômico e a dimensão social.
O executivo afirma que na cooperativa de crédito o produtor rural “não é cliente e sim o dono”, portanto, participa de resultados.
Além disso, segundo ele, as pesquisas recentes revelam que, nas cooperativas de crédito, as taxas de juros são mais baixas se comparadas aos bancos tradicionais e os rendimentos de aplicações mais remuneradores.
Afinal, no cooperativismo é preciso lucrar, mas sem jamais perder a ternura.