Não é novidade para ninguém que o avanço de recuperações judiciais no agro fez com que muitas instituições financeiras e investidores desavisados tirassem o pé do acelerador.

Claro, a situação atual da taxa de juros elevada, que pressiona toda a economia, somada a casos emblemáticos como o aumento da inadimplência da carteira agro no Banco do Brasil, maior responsável pelo financiamento do setor, jogam contra o cenário.

Há, contudo, quem esteja invertendo essa lógica. No Banco Pine, os primeiros seis meses de 2025 mostraram que a exposição do setor na carteira de crédito avançou frente a outros segmentos.

Ao final de junho, a carteira de crédito ampliada do Pine somava R$ 16 bilhões. Desse total, cerca de R$ 10 bilhões são destinados ao varejo, conforme explicou ao AgFeed o diretor comercial do banco, Odilardo Guerreiro.

A maior parte desses R$ 10 bilhões está em crédito colateralizado em operações de consignado público, como INSS e FGTS. Os R$ 6 bilhões restantes correspondem à carteira de crédito corporativo e, dentro disso, 34% atualmente corresponde ao agro.

No fechamento de 2024, a carteira total do banco estava com o mesmo tamanho, mas tinha uma exposição de 23% no agro. Na prática, o crédito para o setor saiu de R$ 1,36 bilhão para R$ 2 bilhões em seis meses.

Para se ter uma ideia, a carteira de empresas ao final de 2023 somava R$ 4,3 bilhões, com 26%, ou R$ 1,1 bilhão só para o setor agro.

Odilardo Guerreiro explica que esse avanço constante foi motivado por uma série de fatores: um entendimento e presença no setor que já viria de décadas, presença física com escritórios espalhados em “capitais do agro” e clientes selecionados a dedo.

“A gente está no agro há muito tempo, desde o começo do Pine. Então entendemos que é um setor cíclico. Enxergamos isso em qualquer indústria e no agro já aconteceu com açúcar e álcool nos anos 2000, mas voltou, e o mesmo pode acontecer para soja, milho e algodão”, comentou Guerreiro.

Fernando Ricciarelli, superintendente agro do banco, cita que os últimos meses têm sido o “melhor momento para o agro”. “Mesmo o setor passando por duas safras ‘diferentes’, como falamos, estamos crescendo, trazendo novos clientes e somando nosso escopo de crédito com a parte de derivativos”, conta.

“Isso ajuda muito o produtor, que hoje trabalha não só com o tempo, mas com várias frentes: câmbio, commodities, juros, Brasil, Estados Unidos… Aprendemos diariamente a trabalhar com ele”, acrescenta Ricciarelli.

O banco foi criado no final dos anos 1990 por Norberto Pinheiro, carregando uma tradição da família que atua no mercado financeiro desde meados dos anos 1940. Nos primórdios, a atuação se deu, pela sede na capital paulista, com o setor sucroenergético.

O diretor conta que a área ainda é bem representativa na carteira, mas que perdeu espaço para novas culturas, principalmente os grãos. A carteira ainda conta com clientes de setores como madeira, proteína, café e fumo.

Essa diversificação setorial obrigou o Pine a diversificar também regionalmente sua presença. A empresa conta com escritórios em pólos agrícolas como Sinop (MT), Cuiabá (MT), Campo Grande (MS), Rio Verde (GO) e Luiz Eduardo Magalhães (BA). “Devemos abrir mais três escritórios no interior do País até o fim do semestre”.

No estado de São Paulo, ainda conta com representantes em Campinas e São José do Rio Preto.

Ricciarelli acrescenta que parte dessa expansão na carteira vista nos últimos anos está relacionada com outra estratégia do banco: passar a atender não só empresas do setor, mas produtores rurais que atuam como pessoas jurídicas.

De janeiro de 2024 para cá, a carteira que envolve esses produtores rurais triplicou de tamanho. Hoje, dos R$ 2 bilhões de carteira agro, pouco mais da metade está nesta vertente.

Desse portfólio, cerca de 90% dos produtores são grandes fazendeiros que plantam soja, milho e algodão, e com áreas plantadas acima dos 10 mil hectares de primeira safra.

“A gente acaba tendo uma espécie de hedge natural, não só pelo tamanho do cliente, mas pela diversidade de regiões”, diz Guerreiro. Segundo ele, esse produtor é um empresário que juntou muito patrimônio, o que acaba facilitando as garantias reais, tanto a terra quanto a produção.

Odilardo Guerreiro acrescenta que os produtores-alvo do Pine não são “aventureiros” que, vislumbrando uma diversificação de negócios e um “boom da soja” compraram terras e passaram a produzir.

“Queremos aquele produtor que saiu do Sul e foi para o Centro-Oeste e Nordeste, abriu a terra e até hoje está no negócio. É com esse cliente que estamos apertando a mão e fazendo negócio”.

Olhando para crescer a carteira, tanto Guerreiro quanto Ricciarelli citam boas oportunidades no setor de proteínas e também no cacau. “Vemos a pecuária como um negócio que faz, cada vez mais, parte da rotação da soja, milho e algodão”, acrescenta o superintendente agro.

O “aprendizado” citado por Ricciarelli se junta à presença dos bankers do Pine no interior para a carteira avançar.

A inadimplência da carteira geral do Pine está em 1,2%, um leve avanço frente aos 0,9% registrados em junho de 2024. O banco não entra no detalhe em relação aos setores, mas Odilardo Guerreiro cita que a inadimplência no setor é “muito baixa” e “super controlada”.

O único caso que fugiu da regra foi a recuperação judicial do grupo cafeeiro Montesanto Tavares. O caso, conhecido pelo mercado no início do ano, engloba um passivo total de R$ 2,13 bilhões. Desse total, a dívida com o Pine era de R$ 154 milhões.

“Foi um outlier que já está no passado e incorporado ao balanço do banco. Não vislumbramos nenhum aumento de calotes”, acrescentou Guerreiro. O executivo admitiu que podem haver “desvios” que demandem ajustes no fluxo de pagamento, algo que, segundo ele, é do jogo do mercado de crédito.

Na parte da carteira focada em empresas do agro, a busca é por companhias com faturamento anual acima dos R$ 300 milhões. Dos segmentos, Ricciarelli conta que a empresa tem como clientes todas as grandes do mercado de fertilizantes, e que “nem olha” para o mercado de revendas. “Não é nosso perfil”, cita.

Hedge e outros produtos

Se na originação o Pine tem avançado sobre grandes grupos e produtores mais robustos, na prateleira de produtos a lógica é ampliar o leque para além do crédito simples.

Guerreiro lembra que a instituição atua “desde sempre” no agro oferecendo instrumentos como CPRs, capital de giro rotativo, cessões, além de linhas ligadas a comércio exterior, como ACCs, Finimp, cartas de crédito e operações estruturadas em CRAs.

A oferta se estende à mesa de derivativos, que ganhou protagonismo à medida que o produtor se sofisticou, segundo João Gabriel Theodoro, superintendente da mesa de Agro do Banco Pine.

“Aquela ideia do produtor rural que tinha um trator e um sonho acabou há muito tempo. Hoje eles estão 100% conectados, sabem o preço de tudo na palma da mão”, disse.

Segundo ele, o banco acompanha de perto os momentos de fixação de dólar ou de soja, para não deixar o cliente refém apenas das tradings.

Essa estrutura permite ao Pine entregar soluções de hedge sob medida — não apenas para moedas e commodities, mas também para juros.

“Grande parte dos produtores trabalha 100% em dólar. Então por que esse cara vai tomar dívida em reais?”, provocou Theodoro, explicando que o banco oferece swaps que casam o fluxo de pagamentos com os recebimentos dolarizados da safra.

O escopo da mesa inclui desde operações tradicionais de câmbio até proteções contra custos de diesel, um item que pesa no caixa de produtores e agroindústrias.

Esse acompanhamento se traduz em volume. Hoje, a maior parte das operações de mesa no agro é cambial, refletindo justamente esse perfil dolarizado dos clientes atendidos. Logo depois vêm as proteções ligadas à soja, onde o Pine também tem presença relevante, além de contratos de hedge para o diesel.

A lógica é parecida com a de uma corretora, mas com uma diferença central, segundo os executivos. No Pine, o produtor não precisa lidar com margens diárias de bolsa, pois o banco assume esse risco e ampara a operação em limite de crédito e garantias reais, preservando o caixa do cliente.

“Se tem algum índice na bolsa, eu dou preço para tudo que o produtor precisar”, resumiu Theodoro.

A vantagem em relação a corretoras, segundo ele, é que o banco assume as margens diárias, preservando o caixa do cliente. “O produtor busca isso: a tranquilidade de deitar a cabeça no travesseiro sabendo que 30% da produção está travada e a margem garantida”.

Esse nível de customização e expertise com riscos inerentes à produção acaba aparecendo no crédito e talvez seja mais um motivo que explique o crescimento da carteira. Odilardo Guerreiro conta que as aprovações são feitas considerando o ciclo de cada commodity.

“Se o faturamento do cliente é 70% soja e 30% milho, vamos estruturar o pagamento exatamente nessa proporção, casado com os recebimentos”, diz. Para isso, o banco trabalha com garantias robustas, normalmente 150% do valor emprestado, amparadas por ativos reais, penhor e recebíveis.

A proximidade no dia a dia fecha o ciclo, segundo Theodoro. “A gente não é um banco de fazer uma operação e ir embora, é relacionamento. Visitamos constantemente o produtor, acompanhamos o fluxo e entendemos quando há algum aperto”, explicou.

Resumo

  • Banco Pine vai na contramão do mercado e amplia aposta no agro: em seis meses, a carteira do setor cresceu de R$ 1,36 bi para R$ 2 bi.
  • Expansão se apoia em clientes de grande porte de soja, milho e algodão, além de uma presença com escritórios em polos agrícolas regionais.
  • Apesar de estar entre os credores de uma RJ do agro, banco garante que a inadimplência está controlada, atualmente em 1,2% na carteira geral.