Ao final de 2023, o Fiagro da gestora Kinea, o KNCA11, era o maior da B3 em volume de recursos, segundo dados da Anbima. Com R$ 2,3 bilhões de patrimônio líquido, 40% a mais do que o segundo do ranking, e 59 mil cotistas, a empresa finalizou a quarta emissão de cotas ao longo do segundo semestre de 2023, e está prestes a finalizar a alocação desses recursos.
São mais R$ 770 milhões levantados com essa emissão, de acordo com o co-gestor do fundo, tornando-se assim a maior série do fundo. Os recursos foram alocados em ativos nos últimos meses, e na reta final, já em dezembro, foram colocados em três investimentos: em uma empresa esmagadora e trading de soja, uma companhia da indústria têxtil e outra de proteína animal.
“Essa estratégia intensifica a diversificação do nosso portfólio com novos setores”, pontuou o Alexandre Marco, gerente agro da Kinea e co-gestor do Fiagro KNCA11. A alocação final, que não foi revelada, deve acontecer agora em janeiro.
Passado esse momento, a Kinea já vira os olhos para 2024 e, de olho na regulamentação dos Fiagros proposta pela CVM que deve ser finalizada no primeiro trimestre, já vê oportunidades de criar novos fundos na casa.
“Temos um pipeline robusto para novas captações justamente para poder continuar entregar crescimento, trazer operações interessantes e diferenciadas. Nosso intuito é crescer, desde que o mercado permita, e originar operações com diferenciais”, afirmou.
A palavra de ordem na gestora é diversificação. Para tanto, a Kinea lançou no ano passado o KOPA11, o segundo Fiagro da empresa. Esse, segundo o gestor, tem um perfil mais robusto de operações, com empresas mais high yield. O fundo finalizou sua primeira captação em dezembro, levantando R$ 350 milhões.
A Kinea também se vê preparada para atuar na nova avenida de crescimento dos Fiagros, de olho na regulamentação definitiva, que devem possibilitar novos arranjos na composição de fundos, a possibilidade de incluir CPRs e até mesmo trazer investimentos de venture capital para o investidor pessoa física.
“Estamos sempre buscando alternativas de novos produtos que fazem sentido para o mercado. Olhamos para outros fundos e alternativas que devemos explorar ao longo de 2024. Não vamos ficar nos dois atuais, pois queremos diferenciar os produtos e atender a base de investidores que temos”, afirmou.
Assim, além de novos fundos, a empresa também avalia a possibilidade de atuar com CRAs em dólar.
Além disso, o próprio KNCA11 deve passar por novas captações, segundo Marco, mas só se as “condições de mercado permitirem”. A empresa vê, com atenção, os efeitos do El Niño na safra 2023/24, que deve trazer uma temporada mais turbulenta pelas questões climáticas.
Além da diversificação de ativos dentro da carteira do fundo, a Kinea aposta em diversificar a remuneração para os investidores.
Marco contou que, depois da terceira emissão, realizada no começo de 2023, o stress no mercado de crédito por conta dos episódios de Americanas, Light e CVC, trouxe oportunidades para a empresa.
Com recurso em caixa, eles viram espaço para comprar, no mercado secundário, operações com spread maior que a emissão original, algo que agilizou a alocação da terceira emissão.
“Nesse momento, trouxemos o IPCA para a carteira. Hoje, 70% dos ativos do Fiagro possuem remunerações atreladas ao CDI e o restante, ao IPCA. Isso trouxe um balanço interessante, pois o CDI tem caído, mas deve se estabilizar num patamar ainda atrativo. Na inflação, que altera o IPCA, a questão fiscal do País ainda é incerta”, afirma.
De acordo com Alexandre Marco, o KNCA11 da empresa possui 26 contrapartes, ou seja, os tomadores de crédito, e a maior parte do portfólio está exposto em empresas de açúcar e etanol. No portfólio atual, o fundo conta com a Zilor, Usina Itamarati, Rio Amanbai, Bahia Etanol, Cocal e Raízen.
Segundo ele, essa dinâmica sucroalcooleira tem origem na primeira emissão do Fiagro, lá em 2021. “Desde o começo, esse setor tem um peso maior no fundo, algo que vem sido reduzido ao longo dos anos”.
Marco afirma que o Brasil tem uma competitividade grande no setor e que as empresas do ramo encarteiradas conseguiram travar “preços interessantes”.
Hoje, 10% do patrimônio do fundo está em caixa. Segundo o gestor, isso deve trazer, em 2024, um “fluxo de pagamento maior” para os acionistas.
Mitigando os riscos
De olho nos problemas que a safra 2023/2024 pode trazer aos produtores, Alexandre Marco garante que a empresa tem feito o dever de casa para evitar pedras no caminho.
Segundo o gestor, a empresa optou, desde o princípio, por não correr riscos com produtores rurais. Para isso, só encarteira papéis de empresas com balanços e números auditados.
“Hoje, a carteira está 100% adimplente. Os casos que tivemos de carência estão sendo pagos pontualmente, com juros em dia”, diz.
Outro aspecto anti-risco que a empresa faz é, de acordo com o executivo, tentar originar, sempre que possível, operações proprietárias, onde o fundo tenha acima de 50% dos papéis comprados. Em alguns casos, ele conta que essa porcentagem bate os 100%.
“É uma filosofia da casa. Até pelo tamanho do fundo e da nossa condição de dar cheques maiores, gostamos de ter controle dos papéis que compramos”. Ele acredita que isso é importante no gerenciamento de risco.
Dessa forma, Marco vê que, num momento de quebra de safra e precificação mal feita de vendas, uma decisão para mitigar risco tem que ser feita de forma rápida e ter o controle da operação é importante para isso.