Normalmente associado ao mercado corporativo, o Banco Fator tem um marco específico de sua guinada em direção ao campo. A compra de ativos da Ourinvest, finalizada em agosto de 2022, significou a entrada da instituição financeira, que tem cerca de R$ 600 milhões em ativos, no agronegócio.
De lá para cá, o Fator acumula R$ 1,4 bilhão em emissões de CRAs e opera dois Fiagros com patrimônio somado de cerca de R$ 160 milhões.
Mas a Ourinvest não deixou somente ativos financeiros. Nelson Campos Jr. diretor Executivo, e Sarah Balestero, diretora de Securitização, também chegaram ao banco vindo da gestora. Hoje, são eles os principais porta-vozes sobre os próximos passos do Fator no segmento.
“Neste momento, estamos montando um fundo exclusivo para uma grande empresa do setor, que vai ser composto por recebíveis”, conta Campos ao AgFeed.
Esse tipo de fundo é destinado para investidores qualificados, que já tenham patrimônio investido acima de R$ 1 milhão, e é formado para um único cotista.
“A grande vantagem deste tipo de produto é que o risco dos recebíveis sai do balanço da empresa e passa a ser do fundo, o que permite que ela tenha maior foco naquilo que sabe fazer e deixe de lado a obrigação de fazer uma gestão de crédito”, afirma o diretor do Fator.
Campos não revelou para qual empresa este fundo está sendo montado e nem o valor de patrimônio que pode ser atingido.
“Estamos buscando novas alternativas para atuar nesse setor porque acreditamos que há um potencial enorme nesta relação entre agronegócio e sistema financeiro”, diz Campos.
Outra via de diversificação buscada pelo Fator está nas emissões, especialmente de CRAs. Sarah Balestero afirma que há uma demanda muito grande dos produtores que exportam por emissões em dólar.
“Muitas vezes é complicado ter um descasamento de moeda entre receitas e despesas, especialmente quando se trata de despesas financeiras com crédito”, afirma Balestero.
Para ela, a demanda do lado do produtor já existe, os instrumentos já são viáveis e agora só falta o investidor ter disposição para alocar recursos para o agronegócio.
“Não acredito que seja uma questão relacionada ao câmbio, porque nossos clientes já têm parte de seus portfólios separados para ativos em dólar. O que falta mesmo é direcionar isso para ativos do agronegócio”, diz a executiva do Fator.
Balestero afirma que ainda falta um entendimento mais claro dos investidores sobre a dinâmica e os ciclos do agronegócio.
“E dentro do agronegócio, cada cultura tem sua particularidade. Nem sempre é fácil levar isso ao investidor, assim como muitas vezes é preciso ser bem didático com o produtor para que ele entenda as soluções que ele pode ter conosco”, diz Balestero.
Mesmo com os obstáculos, a diretora do Fator afirma que está nos planos do banco fazer um CRA em dólar no nao que vem. “Acho que este ano, dificilmente teremos ambiente para isso. Os juros precisam cair um pouco mais para que tenhamos mais investidores dispostos a comprar este tipo de emissão. Mas acredito que em 2024 teremos condições melhores para isso”, afirma Balestero.
Crédito via satélite
Para montar estas operações, o Fator tem uma área estruturada para fazer a análise de crédito e o monitoramento de garantias após as emissões.
A Fator Innovation é o resultado de uma joint venture entre a Fator ORE e a Innovation Business e é responsável por toda a tecnologia envolvida nas operações que o banco estrutura no agronegócio.
“Temos planos para criar outras formas de gerar valor, mas no momento estamos muito focados nos processos de análise e acompanhamento de crédito”, afirma Thiago Moreno, head de Inovação do Banco Fator.
Na originação e na estruturação, Moreno afirma que, além da tecnologia, é preciso ter uma equipe próxima dos produtores. “Claro que também usamos dados e informações, mas essa proximidade é fundamental”.
Os maiores ativos tecnológicos da Fator Innovation estão voltados principalmente para o processo após a concessão do crédito, no monitoramento das garantias e da saúde financeira dos produtores.
“Nós temos acompanhamento via satélite das propriedades. Conseguimos antecipar problemas climáticos e até mesmo ter estimativa da produtividade”, conta Moreno.
O executivo conta que o investidor consegue acompanhar informativos e relatórios dentro da área do cliente no portal do Fator. “Nós não ativamos qualquer gatilho de parâmetros financeiros dentro do fundo, por exemplo. Só monitoramos e fornecemos as informações. A partir daí, é uma conversa entre investidor, credor e gestora”, explica Moreno.