O agro sempre esteve no centro das operações do Banco ABC Brasil. Criado em 1989 por uma joint-venture do Arab Banking Corporation (ABC), do Bahrein, e do Grupo Roberto Marinho, fundador da TV Globo, a carteira de crédito já encontrou nos seus primeiros dias, usinas de açúcar e etanol no interior paulista.
Com o crescimento do mercado agro, o banco – hoje controlado apenas pelo grupo árabe – acompanhou o movimento e, de sua carteira atual de R$ 50 bilhões em crédito, cerca de R$ 10 bilhões, algo em torno de 20%, está dividido no setor.
É pouco para as ambições de protagonismo da instituição. Mesmo diante do ano mais complexo que se coloca à frente com restrições no crédito, reflexo de uma ressaca após um 2024 marcado por recuperações judiciais e inadimplências no agro, a ordem no ABC Brasil é acelerar o crescimento da carteira agrícola, fazendo-a ainda mais relevante para os seus negócios.
Para isso, a estratégia já está montada e em execução: ampliar a captação de clientes entre os produtores rurais.
Segundo Anselmo Ribeiro, superintendente de agro que atua com médios produtores no ABC Brasil, o agro “é o principal negócio do banco”. “É um setor que gostamos muito e atuamos há anos”, diz.
Sem dar guidance, Ribeiro afirma que a perspectiva é apresentar um crescimento acima da carteira total. “Nossas ambições são maiores do que a média do banco, e acima da velocidade de crescimento da carteira total”.
Considerando os doze meses encerrados em setembro de 2024, data do último balanço divulgado pela instituição, a carteira expandida cresceu 14,5%.
“Mesmo com o mercado nervoso, quando olho para o tamanho total desse mercado, ainda há muito a crescer. Somando todo o crédito direcionado com CPRs emitidas, falamos de algo próximo de R$ 800 bilhões”, diz.
Sem uma distinção entre o que é agroindústria e o que é produtor, 11% da carteira total de R$ 50 bilhões vem de uma exposição à cadeia de grãos, 5,4% de pecuária, 3% de açúcar e etanol e 2,8% de insumos agrícolas
Desde sua origem no Brasil, o banco atua com pessoas jurídicas e, por isso, sempre teve maior presença em agroindústrias e revendas. Ribeiro não cita os clientes do banco, por uma questão de confidencialidade, mas garante que “todos grandes nomes da cadeia são nossos clientes”, afirmou.
No ano passado, um desses clientes foi revelado em uma situação não tão favorável. O banco figurou na extensa lista de credores da Agrogalaxy, com pouco mais de R$ 1,1 milhão a receber da rede de revendas.
O banco, inclusive, chegou a solicitar o bloqueio das contas da empresa antes mesmo do processo de recuperação judicial ser deflagrado.
Até 2021, o foco do banco era majoritariamente a agroindústria, grandes cooperativas, tradings e revendas. Contudo, o movimento de profissionalização de produtores pessoas físicas que passaram a operar numa escala empresarial, se tornando PJs, chamou a atenção do ABC Brasil.
Entre 2021 e 2022, Anselmo Ribeiro estruturou um projeto piloto no Mato Grosso, principal estado produtor de grãos do País, para testar se o banco teria aderência com esse tipo de produtor.
“Queríamos entender se a prateleira de produtos fazia sentido para esse cliente e se a abordagem seria bem recebida. As hipóteses foram confirmadas”, conta.
O que eram quatro pessoas se tornaram 20 dedicadas em atender produtores rurais. A equipe, segundo Ribeiro, é formada com profissionais que vieram de empresas do setor, como agroindústrias, revendas e até a Embrapa.
“Hoje não uso a esteira do corporate e do middle (que atendem empresas com faturamentos multimilionários e bilionários), mas tenho analistas que entendem do mercado agro. Nós entendemos de banco e precisávamos complementar com quem já viveu o dia a dia do setor”.
Para conceder o crédito a essa faixa, o banco conta com sistemas de sensoriamento remoto que monitoram a produção, quebras, produtividades e diligências socioambientais para conceder crédito.
Ao final do terceiro trimestre, a inadimplência geral do banco atingiu 1,2%, uma queda frente aos 3% que havia registrado no segundo trimestre de 2024. Segundo Ribeiro, o patamar é equivalente também na carteira agro.
“A estratégia (com produtores) tem dado frutos e estamos originando novos clientes dentro de uma carteira de negócios saudável, com poucos problemas, apesar do ano difícil”, afirma.
Ribeiro cita uma “flexibilidade operacional” como chave para atuar no setor agro. O ABC Brasil trabalha tanto com linhas direcionadas, como as do BNDES, quanto com recursos livres via CPRs financeiras, sua principal atuação.
Do ponto de vista geográfico, o banco mantém uma forte presença em São Paulo, mas a carteira agro já reflete o avanço para outras regiões, como o Mato Grosso e na região Sul, que concentram grandes produtores de grãos e cooperativas.
O foco, segundo Ribeiro, está nos sete principais produtos agrícolas que respondem por 80% do valor bruto de produção no Brasil: soja, milho, café, cana, algodão, trigo e laranja.
O banco ainda atua na pecuária, com aves e suínos em cooperativas do Sul e Sudeste.
Anselmo Ribeiro ainda aposta na atuação de longa data com esses players para conquistar mais produtores na recente carteira focada em agricultores PJs.
Uma das abordagens mais usadas pelo banco é apresentar sua relação com outros elos da cadeia. “Quando chegamos a um produtor, mostramos que já trabalhamos com a cooperativa dele, o que nos dá credibilidade”, explica Ribeiro.