A Asset Bank, gestora de Araraquara (SP) que tem mais de R$ 1 bilhão de ativos sob gestão, está a pleno vapor para expandir seu FIDC-Fiagro multisacado, o Campo Arado, voltado à concessão de crédito para produtores rurais e empresas do agronegócio.

A gestora agora está abrindo o fundo para a entrada de investidores profissionais e qualificados, aqueles com aplicações a partir de R$ 1 milhão e R$ 10 milhões, respectivamente.

O valor mínimo para cada investidor entrar é de R$ 10 mil e o fundo está sendo oferecido para clientes do ambiente de wealth services do banco BTG Pactual.

O veículo iniciou suas operações em 2023 e vinha rodando com recursos da própria gestora e de alguns investidores específicos até aqui.

Com a chegada dos novos investidores, o objetivo da Asset é de que o fundo, que hoje tem um patrimônio líquido de R$ 90 milhões, atinja um PL de R$ 200 milhões já no início de 2026.

"Eu vou trazer investidores qualificados e profissionais que já conhecem a tese e vão alocar direto na cota sênior desse fundo", explica Gustavo Alves, CEO da Asset Bank, em entrevista ao AgFeed.

O fundo concede crédito principalmente a produtores rurais e, em menor escala, a indústrias de fertilizantes, insumos, sementes, máquinas e implementos agrícolas do interior paulista.

O foco principal são mesmo os produtores médios – em geral, famílias organizadas em grupos ou condomínios rurais já estruturados – com ticket médio de R$ 2,5 milhões por financiamento.

Segundo Alves, esse grupo conseguiu formar caixa quando a soja estava a R$ 200, no início da década, e por isso não se alavancou tanto quanto os menores. Ainda assim, o gestor avalia que, mesmo esses produtores, que teoricamente teriam mais facilidade de acesso ao crédito, vêm enfrentando obstáculos para obter recursos junto aos bancos.

"Esse produtor que continuou saudável, que não se alavancou, que continuou dentro do seu ciclo de produção, não tem acesso ao crédito no volume que ele tomava lá atrás. Santander, Banco do Brasil, cooperativas... todos diminuíram a oferta de crédito", afirma. "Mas é necessário frisar que não não somos banqueiros de nenhum produtor, não é a nossa ideia. A ideia é complementar."

Alves calcula que, atualmente, os produtores recebem – quando recebem – ofertas de crédito com juros muito acima da taxa Selic, hoje em 15% ao ano.

"A taxa média de um produtor rural hoje, em banco, está entre 25% e 28% ao ano. Um PJ Middle, se ele for muito bom, baita de um score, baita de um rating, consegue taxas entre 35% a 40%. Pessoas físicas, então, conseguem 50%", afirma.

Como o fundo acompanha as taxas de juros praticadas no mercado, Alves acredita que o instrumento tende a ser atrativo para investidores.

“O FIDC paga bem porque compra crédito privado e cobra uma taxa alinhada à média de mercado. Hoje, o produtor está tomando comigo a 30%, 28%, 27% ao ano, e eu repasso 18% ao investidor”, explica.

A Asset promete uma remuneração de CDI + 4% ao ano para os entrantes no fundo, que ao longo dos últimos 12 meses apresentou rentabilidade acumulada de 17,44%, maior que a da taxa CDI do mesmo período (12,88%).

A diferença entre o juro pago pelo tomador e o rendimento entregue ao investidor fica dentro do fundo, na cota júnior, o que, segundo Alves, ajuda a mitigar eventuais inadimplências. “Se amanhã, por algum motivo, o produtor rural não conseguir honrar seus compromissos, a inadimplência é absorvida pela cota júnior, não pela sênior”, ressalta.

Para reforçar a solidez do fundo, a Asset Bank mantém sob seu controle todo o processo de originação de crédito. “Já vieram me oferecer operações de terceiros, mas eu disse que não. Preciso diligenciar 100% das operações que o fundo adquire para garantir liquidez. Se é um terceiro que traz, posso ficar refém de um default sem ter relacionamento com esse produtor”, afirma Alves.

A entrada de novos investidores está sendo feita em tranches. A primeira, de R$ 50 milhões, está em fase final de conclusão; a segunda, também de R$ 50 milhões, já está em andamento. As próximas seguirão o mesmo padrão, mas poderão variar conforme as condições de mercado, segundo Alves.

“Tenho pipeline para consumir R$ 200 milhões em quatro meses, mas prefiro avançar com cautela, acompanhando o mercado e avaliando se faz sentido ou não abrir novas tranches”, diz o CEO da Asset Bank.

Não há um teto para o fundo, mas a ideia de Alves é, que se os planos transcorrerem como o esperado, o fundo atinja um patrimônio líquido de R$ 500 milhões e R$ 600 milhões ao fim de 2026. "Se a Selic melhorar e a gente conseguir estabilizar a moeda, é bem provável que terminemos nessa faixa", diz.

Hoje, o patrimônio líquido de veículos voltados ao agro da Asset é de R$ 400 milhões, mas de acordo com Alves, a intenção da gestora é de que esse valor cresça entre cinco a seis vezes já no ano que vem, chegando a algo como R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões.

"A nossa ideia é que, em 2026, a Asset tenha um patrimônio líquido próximo a R$ 6 bilhões e que agroindústria e agropecuária seja entre 40% e 50% disso", estimou o CEO da Asset, em conversa anterior com o AgFeed, em agosto passado.

Criada há uma década por profissionais que se conheceram em diferentes posições do banco Santander, a Asset começou com um FIDC, de olho nas possibilidades que novas estruturas de crédito foram abrindo para o mercado financeiro ao longo da última década.

Com o tempo, a estratégia evoluiu para atender diferentes setores da economia, e também o agro. Atualmente, a casa administra mais de 40 FIDCs, sendo 12 fundos totalmente dedicados a financiar a cadeia do agro, contemplando principalmente agroindústrias, mas também produtores rurais.

Resumo

  • Gestora de Araraquara (SP) acelera a expansão do Fiagro-FIDC multisacado Campo Arado com a abertura do fundo para invesetidores externos
  • Com a nova estratégia, a Asset planeja elevar seu PL de R$ 90 milhões para R$ 200 milhões no início de 2026
  • O fundo, agora aberto a investidores profissionais e qualificados, tem valor mínimo de entrada de R$ 10 mil