O mercado de Fiagros parece já ter um horizonte claro à frente. Depois de um verdadeiro ano de tormenta e provações em 2024, gestoras e casas de investimento de um lado celebram um bom primeiro semestre para as cotações dos fundos do tipo listado ao mesmo tempo que já projetam um mercado reaquecendo entre o final de 2025 e o começo de 2026.

Na avaliação da XP Investimentos, o próximo trecho da montanha russa do setor - que começou com uma alta e foi marcada por uma baixa entre 2023 e 2024 -, é ascendente. José Tibães, head da Plataforma de Fundos da XP, avalia que o mercado de Fiagros deve ter uma “segunda pernada” nos próximos meses.

Em evento da empresa junto a gestores de Fiagros e empresas do setor na terça-feira, 26 de agosto, o executivo mencionou que a companhia se preparou nos últimos 12 meses para essa retomada.

“Investimos em mais tecnologia, em funcionalidades para o cliente investidor mudar sua percepção em termos de produto e passamos a ter mais equipe no nosso research, que trouxe mais informação e educação para esses investidores. Estamos nos preparando para dar essa ‘segunda pernada’ para intensificar e incentivar a distribuição do agro novamente”, citou Tibães.

Recentemente, conforme reportagem do site The Agribiz, a empresa já aprovou a oferta de duas gestoras, que devem levantar, cada uma, entre R$ 300 milhões e R$ 400 milhões já nos próximos meses.

Tibães cita ainda que nos últimos meses, a XP reforçou seu time de assessores e que conta com essa força-tarefa para disseminar a mensagem do setor. “Hoje, uma grande parte da base de investidores não possui alocação em agro. É uma oportunidade de trazer a turma para o jogo”, acrescentou.

Segundo ele, essa aproximação pode se dar tanto em fundos tradicionais quanto em estruturas como FIDCs, personalizadas e com níveis diferentes de risco com cotas subordinadas e sêniores.

Marx Gonçalves, analista da XP que lidera a cobertura nos fundos listados, vê uma dinâmica de inversão nesse mercado ao longo de 2025 e cita 2024 como o pior ano da indústria de Fiagros até agora.

“Nossa leitura era de que o período de prosperidade do agro entre 2020 e 2022 levou muita empresa do setor a se alavancar. Mas entre 2023 e 2024 vimos uma virada de ciclo, quebra de safra, aumento dos custos de produção, queda de margem das empresas, queda da geração de caixa e que, em paralelo, aumentou o custo da dívida e levou ao aumento de RJs”, afirmou o head de fundos listados.

No ano passado, o setor até teve um bom primeiro semestre e, mesmo com o avanço em paralelo da taxa de juros, que diminui o apetite para novos investimentos, fez o mercado projetar uma retomada ainda no segundo semestre do ano passado.

A situação da AgroGalaxy fez tudo mudar. A recuperação judicial deflagrada pela rede de revendas do fundo Aqua Capital criou um efeito cascata no mercado e derrubou cotas de todos os fundos na B3, mesmo aqueles que não possuíam exposição à rede.

Um 2024 para esquecer tem dado lugar a um 2025 para se lembrar - pelo menos até agora. Um levantamento feito pela Quantum Finance mostrou que todos os 10 maiores Fiagros da B3 (levando em consideração o tamanho do patrimônio líquido) viram suas cotas se valorizarem desde o primeiro pregão do ano.

O maior retorno até o dia 13 de agosto (data do levantamento), fica com o Fiagro da JGP, com 44,27% de alta. O fundo tem um patrimônio líquido de R$ 205 milhões, e foi um dos fundos mais afetados com o “efeito AgroGalaxy” por ter CRAs da rede de revendas encarteirados no fundo.

Tanto que, hoje, cada cota do fundo é negociada na faixa dos R$ 70, ainda abaixo do patamar superior aos R$ 85 que era negociado antes da AgroGalaxy entrar em recuperação judicial.

Marx Gonçalves chegou na XP em janeiro deste ano e mostra que, desde o começo, sua atuação junto ao time que analisa o mercado está linkada a desmistificar uma suposta crise no setor agro.

Um dos primeiros pontos de atenção dele e seu time foi o número de recuperações judiciais no setor. Dados da Serasa Experian mostraram que o setor agro fechou 2024 com 1,2 mil RJs.

Apesar de um avanço percentual que assusta, com os pedidos mais que dobrando de um ano para o outro, o número absoluto frente ao universo de produtores rurais ainda é baixo. Indo no detalhe, Gonçalves disse que um dos pontos que ele tenta mostrar aos investidores é que grande parte dessas recuperações judiciais foi deflagrado em produtores rurais que atuam como pessoas físicas, que não são os mesmos players que possuem CRAs em Fiagros.

Dos números de 2024, o Serasa Experian calculou 566 pedidos de janeiro a dezembro entre as PFs do mundo rural.

“Boa parte dos devedores do Fiagros não são PF, ainda que existam produtores que criam gado e grãos que são base desse mercado de crédito. É preciso separar o joio do trigo, porque essas inadimplências levaram a uma remarcação negativa dos CRAs, e vimos o mercado colocando um pessimismo exagerado na conta dos Fiagros”, disse.

Quando chegou na XP, um primeiro relatório setorial assinado por ele projetava um mercado de Fiagros crescendo 14% na média em 2025, patamar já acima do esperado para os FIIs, de 9% de alta. De lá pra cá, contudo, enquanto os FIIs seguem a projeção, os Fiagros já mostram uma performance média de 22% de crescimento, afirmou o analista.

“Estamos promovendo uma agenda de atualização das teses e levar oportunidades com yields atrativos e boas margens de segurança que identificamos aos investidores”.

O executivo acompanha cinco fundos listados no dia a dia: o VGIA11, da gestora Valora, o RZAG11, da Riza Asset, o XPCA11, da XP, o KNCA11, da Kinea, e o FGAA11, da FG/A. Todos acumulam alta desde janeiro.

Projetando os próximos meses, Gonçalves citou que olha a safra com uma visão construtiva e que, mesmo com preços depreciados nos fundos, não vê nenhum risco setorial significativo que traga alguma preocupação com esse mercado.

“Boa parte dos Fiagros possuem operações atreladas ao CDI em um ambiente de Selic a 15% mais o spread. Problemas em fundos estão muito mais relacionados a casos micro, específicos, em devedores específicos com alavancagem elevada”, finaliza.

Resumo

  • Mercado de Fiagros iniciou 2025 com recuperação expressiva, com os 10 maiores fundos da B3 registrando alta nas cotas. Maior avanço fica com Fiagro da JGP, avançando 44,27% até agosto
  • Nos últimos 12 meses, XP cita investimentos em tecnologia, ampliação do time de research, mais assessores e projeta novas ofertas para os próximos meses
  • Recuperações judiciais de 2024 que assustaram o setor se concentraram em produtores rurais pessoas físicas, enquanto Fiagros seguem com risco majoritariamente corporativo, avalia corretora