O ano de 2024 pode ser muito favorável para a emissão de títulos de crédito no agro relacionados à agenda ESG. Esses produtos, chamados de títulos verdes, devem continuar a chamar a atenção dos investidores e financiar novos tipos de produção agrícola com uma escala cada vez maior.
A percepção é de Carlos Takahashi, vice-presidente da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) e atual CEO da gestora BlackRock no Brasil.
O executivo conversou com o AgFeed nesta semana durante o evento AgroCapitais, que aconteceu na sede da Fiesp, em São Paulo.
O evento, organizado por entidades como a própria Anbima, a CVM, o IBDA e a FPA, encerrou o tour de 2023 que as entidades fizeram por várias regiões do Brasil para promover a inclusão do agro no mercado de capitais.
Ao AgFeed, Takahashi disse que o setor pode contribuir na agenda ESG global e que instrumentos como o CRAs, LCAs e os Fiagros podem ter um apelo interessante para investidores interessados no assunto.
“Esse é um tema que deve crescer muito no Brasil. O País cada vez mais está tendo consciência do protagonismo que tem e vendo que pode gerar uma série de oportunidades de trazer investimentos para cá através da agenda ESG. O agronegócio está muito conectado com isso”, avalia Takahashi.
Ele ainda diz que os órgãos reguladores estão trabalhando para fomentar essa agenda e que toda essa orquestração pode ajudar no desenvolvimento dos títulos.”O Brasil tem que se apropriar dessa agenda e ter protagonismo”, afirma.
Flavia Palacios, coordenadora da Comissão de Securitização da Anbima, concorda. Para ela, o agro tem a capacidade de atrair muito capital estrangeiro para o Brasil, principalmente se tratando dos chamados green bonds.
“O potencial de oferta dos green bonds que atraem o estrangeiro é quase infinita e ainda temos uma oportunidade enorme de diversas outras gestoras e bancos abrirem áreas de foco no agro”, afirma.
Para 2024, Takahashi acredita que os Fiagros devem apresentar um crescimento ainda maior que outros instrumentos de crédito, repetindo o que já tem sido visto em 2023.
Segundo o boletim trimestral da CVM publicado nesta semana, entre junho e setembro de 2023 o patrimônio líquido total dos Fiagros subiu de R$ 14,7 bilhões para R$ 18,7 bilhões, o que representa um avanço de 27%. Na comparação com dezembro de 2022, quando foi divulgado o primeiro boletim CVM de agronegócio, os Fiagros cresceram 78%.
O relatório da autarquia traz também números dos fundos como um todo, para efeito de comparação e análise da evolução do agro no mercado de capitais. A soma de fundos de investimento, renda fixa e renda variável chegou a R$ 13,71 trilhões em setembro, um aumento de apenas 7%, desempenho bem inferior aos Fiagros.
"O que mais nos chamou a atenção foi o crescimento do Fiagro, que subiu de R$ 10 bilhões para R$ 18 num mercado que cresceu em media 7%, quer dizer, o mercado teve só uma correção monetária praticamente, enquanto o Fiagro realmente cresceu", destacou o superintendente de agronegócio e securitização da CVM, Bruno Gomes, em entrevista ao AgFeed também durante o evento AgroCapitais.
Espaço para IPOs
Carlos Takahashi vê que o movimento de queda na taxa de juros pode aquecer o mercado também de renda variável e abrir espaço para novas aberturas de capital.
Mesmo não citando se o agro deve ter algum representante nas aberturas de capital quando a janela se abrir novamente, ele vislumbra um “aprendizado silencioso do setor”, que pode render novas empresas na B3 no futuro.
“O agronegócio cresceu muito através do empreendedorismo, famílias, pequenos produtores e virou esse segmento absurdamente relevante no país. Por essas características, o agro demandou um grande olhar nos aspectos de governança”, diz.
Essa governança mais robusta pode dar, segundo Takahashi, mais força para as empresas abrirem capital. No segmento, ele afirmou, sem citar nomes, que empresas processadoras de grãos viram a importância dessa governança uma vez que elas dialogam diretamente com o mercado externo.
“Quando você abre o capital na bolsa, existem os desafios de uma empresa listada, mas tem essa outra avenida de crescimento”, comenta.
CEO da operação brasileira da BlackRock, uma das maiores gestoras do mundo, Takahashi não comenta eventuais interesses da empresa no setor. Questionado sobre oportunidades para a gestora no segmento, ele disse apenas que “o agronegócio, sem dúvida nenhuma, é uma atividade de extrema relevância, e alvo dos analistas da empresa”.
As oportunidades estão, segundo ele, nas empresas que atuam na transição para uma economia de baixo carbono, e relembrou que a BlackRock investiu recentemente na Brasol, uma empresa especializada em fornecer infraestrutura para a transição energética, com foco em energia solar.
A BlackRock não divulgou os valores do investimento, mas declarou que sua fatia do negócio fica entre 40% e 50%.
O acordo foi concretizado por meio do Climate Finance Partnership (CFP), um braço da BlackRock dedicado ao financiamento público-privado e que investe em infraestrutura climática em mercados emergentes.
Esse foi o primeiro investimento do CFP na América Latina. “Não tenho dúvida que os portfolio manager da BlackRock lá fora olham para o agro brasileiro. Eventualmente, podemos ter alguma novidade de alguém que olhou algo aqui e gostou” declarou.