Após 15 anos certificando a produção de soja sustentável no Brasil, a associação suíça RTRS (sigla em inglês para Mesa Redonda de Soja Responsável) inicia, na safra 2025/2026, um projeto-piloto para avaliar também a adoção de práticas de agricultura regenerativa por produtores brasileiros da oleaginosa.
Para obter a certificação RTRS, uma das mais conceituadas globalmente, os produtores precisam atender a cinco princípios, que são cumprimento legal e boas práticas empresariais, condições de trabalho responsáveis, relações comunitárias responsáveis, responsabilidade ambiental e boas práticas agrícolas, e 108 indicadores relacionados a esses princípios.
Na prática, com essa certificação, os produtores atestam que não estão desmatando florestas e nem fazendo a conversão do uso da terra para suas agrícolas, que deram condições de trabalho dignas aos trabalhadores do campo e que sua produção segue práticas agrícolas sustentáveis.
A nova certificação de agricultura regenerativa será oferecida como um módulo complementar à RTRS. Para acessá-la, os produtores precisam, obrigatoriamente, já possuir a certificação principal da produção de soja responsável.
Hoje, a RTRS já tem essas certificações complementares, que a organização chama de “add-ons”, para garantir que a produção de biocombustíveis em linha com os padrões do mercado europeu, para a soja não geneticamente modificada (OGM) e para a produção de milho responsável.
A principal diferença em relação ao novo padrão regenerativo está na forma de avaliação. Enquanto o modelo atual verifica se o produtor realiza ou não determinada prática, o novo módulo atribui pontuações com base na proporção de aplicação de cada técnica.
“Hoje, a gente pergunta para o produtor: ‘Você realiza tal prática ou não realiza?’. Já no padrão regenerativo, a gente vai ter um cálculo de score, com uma pontuação que o produtor vai receber dependendo do indicador”, explica Luiza Bruscato, diretora executiva global da RTRS, em entrevista ao AgFeed.
Bruscato ilustra a diferença com um exemplo concreto: no modelo tradicional, o produtor informa se utiliza plantio direto, sem detalhar a área abrangida. Já no padrão regenerativo, a pontuação será proporcional à extensão da área onde o plantio direto está sendo adotado.
Outros indicadores também vão entrar na conta. “Vamos mensurar emissões de carbono, sequestro de carbono, vamos mensurar a qualidade da água, vamos mensurar a biodiversidade, todos os outros aspectos vão funcionar da mesma fora”, adianta a diretora executiva global da RTRS.
O piloto vem sendo desenvolvido desde o ano passado pela RTRS, que vai colocar suas equipes técnicas a campo a partir do mês que vem em cinco fazendas de Mato Grosso, somando 15 mil hectares no total. Os resultados finais serão colhidos em março do ano que vem, ao término da safra.
Como a RTRS funciona em um processo de mesa redonda, os padrões precisam ser decididos em conjunto, explica Bruscato, de forma que a certificação só deve ser lançada oficialmente no fim de 2026.
A certificação de agricultura regenerativa começa no Brasil, mas a RTRS planeja adaptar o modelo para outros países em que atua, como Argentina, Paraguai, Índia e nações do continente africano. “A ideia é que depois desse piloto, possamos fazer uma adaptação à outras realidades nacionais”, explica Bruscato.
Desde 2011, quando foi feita a primeira certificação de uma fazenda no Brasil, a RTRS já certificou 350 fazendas no país, totalizando 6 milhões de toneladas de soja certificadas. No mundo, a associação soma 1,6 milhão de hectares com produção certificada.
Com sede em Zurique, a associação possui mais de 210 membros, reunindo grandes tradings como Louis-Dreyfus Company (LDC) e Bunge, bancos como BTG Pactual e Rabobank, produtores de grande porte como Amaggi e SLC Agrícola, além de grandes companhias de alimentos como BRF e Unilever e organizações como WWF e The Natural Conservancy (TNC).
Resumo
- RTRS inicia projeto-piloto de certificação de agricultura regenerativa em cinco fazendas de soja no Mato Grosso com aplicação em 15 mil hectares
- Novo modelo adota sistema de pontuação proporcional ao uso de práticas como plantio direto, sequestro de carbono e preservação da biodiversidade
- Certificação regenerativa será complementar à RTRS e estará disponível apenas para produtores com certificação principal de soja responsável