Belém (PA) – Empolgado, André Savino conversa, na entrada da AgriZone, o espaço do agro na capital paraense, com um visitante estrangeiro sobre o Reverte, programa de agricultura regenerativa que a companhia pertencente à ChemChina mantém em parceria com o Itaú BBA e que já alcança quase 300 mil hectares no Cerrado Brasileiro.

O executivo mostra um vídeo, descreve a metodologia, explica como funciona a transformação das áreas degradadas e arremata: “Esse é o futuro, nós temos que fazer isso.”

Essa situação resume um pouco do espírito com que a Syngenta, que acaba de completar 25 anos, chega à COP 30, a conferência do clima da ONU que está sendo realizada em Belém.

A companhia traz ao evento um discurso objetivo: as práticas regenerativas precisam caminhar junto com a operação – e não ao lado dela. “Sustentabilidade tem que fazer parte do negócio”, resume André Savino, presidente do negócio de Proteção de Cultivos da Syngenta no Brasil, em entrevista ao AgFeed.

A companhia vê o Reverte justamente como exemplo de integração de sustentabilidade ao negócio, explica Savino.

“Quando eu vou lá no agricultor, levo uma proposta de valor para ele transformar a área degradada. Eu vou lá e convido para participar de um projeto, para ele transformar parte dessa área degradada em negócio.Para ele, que já é nosso agricultor, os negócios conversam. O meu engenheiro agrônomo que vai lá também vai olhar pra isso. Ou seja, negócio se conversa, não é acessório”, diz.

A partir dessa base, emenda o executivo, é possível “empilhar” novas frentes, como carbono, agricultura de precisão, otimização de insumos, formando uma plataforma escalável e estruturante.

Assim, Savino diz que a companhia consegue adotar uma estratégia mais prática.

“A gente começa a ver hoje empresas, seja do agro, seja de outros setores, que fazem iniciativas que não necessariamente são entrelaçadas com o negócio, só pra falar que fazem”, afirma.

“Acho que esse é o nosso grande diferencial. Todo mundo tem a mesma agenda. O que muda é o pragmatismo e como a gente endereça tudo isso”.

Como o clima não dá trégua, os produtores rurais precisam participar o quanto antes da transformação de seus ciclos produtivos – e Savino pode falar sobre o assunto com conhecimento de causa.

Afinal, além de comandar a Syngenta, ele também é produtor de café no Sul de Minas Gerais e, na prática, tem visto mudanças na lavoura.

“Julho deixou de ser frio e chuvoso como era quando a gente era mais novo. Agora está quente”, comenta. “Dá até pra ir na praia”, brinca.

“E, nesse contexto, você tem que começar a rever uma série de práticas para que você comece a ser sustentável dentro do processo produtivo e conseguir continuar prosperando na atividade.”

No rumo certo

Ao avaliar o momento do negócio no Brasil, Savino afirma que, mesmo em um ano desafiador, a companhia tem conseguido manter o rumo. “A confiança de que temos as pessoas certas, as inovações corretas e a agenda certa é muito grande”, resume.

No balanço mais recente, as vendas do grupo Syngenta como um todo recuaram 6% no terceiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano anterior, totalizando US$ 6,4 bilhões.

No acumulado de janeiro a setembro, as vendas somaram US$ 20,9 bilhões, queda de 2% na comparação anual, enquanto o Ebitda avançou 25%, para US$ 3,4 bilhões.

No trimestre, o Ebtida do grupo (sigla para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), por sua vez, cresceu 28%, chegando a US$ 900 milhões, ante US$ 700 milhões no terceiro trimestre de 2024.

A operação nacional teve um pequeno incremento de vendas no período, com o resultado mais direcionado por margem do que por vendas, segundo Savino.

“No terceiro trimestre, apesar de não termos tido crescimento de vendas globalmente, tivemos crescimento de lucratividade, e o Brasil foi um grande puxador desse resultado”, explica Savino.

Na avaliação do executivo, a tendência é de que o resultado do quarto trimestre de 2025 repita o que se viu no terceiro trimestre. Segundo Savino, a manutenção do crescimento – ainda que pequeno – está ligada diretamente à estratégia construída nos últimos anos.

“O mercado brasileiro é muito complexo. Para ser relevante, você precisa estar na ponta, entender prioridades, saber o que fazer, o que parar de fazer e quais tecnologias trazer”, afirma.

“A gente está crescendo muito nessa plataforma. Investimos no desenvolvimento local, trouxemos tecnologias de outros países, fizemos alianças e aquisições para ter uma oferta que ajude o agricultor a enfrentar os desafios da agricultura tropical.”

O terceiro vetor do desempenho é o crédito e Savino reconhece as dificuldades que os produtores têm tido.

“A rentabilidade do agricultor está estressada. A equação soja-milho aperta quem tem muito arrendamento. O acesso a crédito está mais restrito e a Selic alta faz o custo do capital explodir. Uma Selic de 15% vira 18% com risco e seguro”, avalia.

Nesse contexto, uma fintech lançada pela Syngenta há dois anos, a Syde, que centraliza ofertas próprias de crédito e de parceiros estratégicos para o financiamento das operações dos produtores clientes da marca, tem ganhado relevância.

“Lançamos a plataforma para suportar agricultor e distribuidor num momento de retração econômica, com limitação de acesso a financiamento”, diz.

Com essas ferramentas, ele afirma que a empresa tem conseguido atravessar o ano com equilíbrio. “Não está fácil para ninguém, mas estamos conseguindo equilibrar porque construímos essa base lá atrás”, afirma.

Para 2025, a expectativa é estabilidade. “Devemos terminar o ano em linha com o que apresentamos no terceiro trimestre. Estamos focando mais na sustentabilidade da parceria com clientes e parceiros do que em vender mais.”

Sem alterações na Synap, por ora

Savino diz que a Syngenta por ora não pretende se desfazer de mais lojas da rede Synap, que hoje tem 51 unidades nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte.

Ao longo de 2025, a companhia repassou operações de 18 lojas no Rio Grande do Sul, em um esquema de arrendamento mercantil, para a empresa gaúcha Olfar, e de outras 19 unidades no Paraná e em Santa Catarina para a cooperativa paranaense Lar.

“(O repasse de outras lojas hoje) não é uma pauta. Hoje o restante das lojas está convivendo de uma maneira harmônica com o restante da rede”, diz Savino.

Nada impede que, em algum momento, a Syngenta volte a fazer esse tipo de movimento, complementa o CEO da companhia.

“A partir do momento que a gente vê que não é mais um risco a sustentabilidade do que a gente acredita que é o nosso core business, que é vender e chegar aos agricultores através das cooperativas e revendas, que tem uma aliança com a gente, podemos voltar a considerar qualquer movimento”, afirma.

No fim da década passada, a Syngenta apostou em um modelo de aquisição de outras empresas e formação de uma rede de varejo própria, explica Savino, comprando distribuidoras de insumos como Agrocerrado, Dipagro, Produtécnica e Jangada.

Savino argumenta que a aquisição das redes foi uma estratégia de “defesa” frente à tese dos fundos de investimentos de consolidação das revendas e distribuidoras de insumos agrícolas para a formação de grandes redes varejistas – que resultou na criação de Lavoro, pelo Patria, e AgroGalaxy, pelo Aqua Capital.

“A tese era copiar o sistema de distribuição dos Estados Unidos. E o que a gente fez naquele momento? Falamos assim: ‘A gente não vai participar desse movimento, não vamos operar com esses grandes private funds, não vamos operar em modelos que vão contra a nossa filosofia estratégica de levar tecnologia ao pequeno produtor, a todos os agricultores. Então, por isso, a gente não vai entrar nesse movimento de operar junto com esses grandes consolidadores.’”, recorda Savino.

“Fizemos, então, um movimento muito mais de defesa. Caso algum distribuidor nosso fosse incorporado, a gente tinha uma alternativa para não ser forçado a entrar nesse modelo. Esse era o movimento”, emenda o executivo.

Com a queda das grandes revendas – a Lavoro entrou em recuperação extrajudicial neste ano e a AgroGalaxy, em recuperação judicial há pouco mais de um ano – a Syngenta se sentiu mais à vontade para repassar operações a terceiros em regiões onde não via risco de consolidação.

“Ali a gente tem um modelo onde estamos muito bem servido com as cooperativas, com as revendas locais, e não vemos mais o risco da consolidação no sul do país”, explica Savino.

Resumo

  • Em entrevista exclusiva ao AgFeed, André Savino diz que Syngenta leva à COP 30 a ideia de sustentabilidade integrada ao negócio
  • O principal exemplo dessa estratégia, segundo Savino, é o programa Reverte, de recuperação de pastagens, que já chega a quase 300 mil hectares.
  • Apesar das dificuldades dos produtores rurais, Savino diz que o Brasil contribuiu para o crescimento de lucratividade apresentado no balanço global no terceiro trimestre