Às vésperas da COP 30, conferência do clima da ONU que começa na próxima semana em Belém, os consumidores do Pará começam a encontrar no varejo local o primeiro lote de carne produzida no Estado com origem totalmente rastreada.

A iniciativa é o primeiro resultado visível de uma articulação entre o governo do Pará e empresas privadas no âmbito do programa Pecuária Sustentável, lançado pelo Executivo estadual no fim de 2023, com participação do Grupo Carrefour Brasil, organização The Nature Conservancy (TNC), e frigoríficos como JBS, Rio Maria e Mafrinorte.

Nesta semana, duas lojas do atacarejo Atacadão, do Carrefour, situada em Belém (PA), receberam 12 toneladas de carne processada pela JBS e proveniente de animais que utilizaram brincos eletrônicos conectados ao Sistema de Rastreabilidade Bovídea Individual do Pará (SRBIPA), do governo estadual.

Assim, os bovinos foram monitorados individualmente ao longo de todo o seu ciclo de vida, garantindo que não passaram por áreas desmatadas, ainda um “calcanhar de aquiles” para a pecuária paraense. E agora os consumidores terão acesso a este produto diferenciado.

“A gente tentou correr um pouquinho para tentar entregar, casado com a COP 30, a primeira remessa de uma produção que foi 100% rastreada”, explica Marco Oliveira, CEO do Atacadão, em entrevista ao AgFeed.

A ideia de Oliveira é que “nos próximos nove meses” todas as dez lojas do Atacadão no Pará estejam comercializando os produtos com a certificação do programa estadual.

O executivo reforça que não haverá diferença de preço entre as carnes rastreadas e os produtos convencionais. Resolver essa equação, porém, é um desafio para toda a cadeia. “O difícil é entregar uma carne rastreada, com qualidade e toda a rastreabilidade garantida, com os mesmos economics de uma carne não rastreada”, reconhece Oliveira.

“É um desafio para toda a cadeia, para a JBS, para nós, que vamos comercializar, e também para o governo do Estado, que está investindo nesse processo. É um desafio para a gente fazer com que essa carne chegue para o consumidor sem aumento de preço.”

Os produtos estão chegando às unidades com identificação clara de que a carne passou sob processo de rastreabilidade, afirma Oliveira. “Mesmo não sendo mais caro, o consumidor poderá saber que tem uma qualidade adicional embarcada [na carne]”, diz.

Apesar do avanço no Pará, Oliveira evita cravar quando a oferta poderá ser ampliada para o restante do país, uma vez que o Atacadão possui 386 unidades no Brasil e, de acordo com o executivo, esse porte traz desafios a mais para a velocidade da expansão.

“Precisamos de uma escala muito superior para abastecer todas as lojas,. Por isso, ainda é difícil prever quando conseguiremos colocar a carne rastreada em 100%, ou parcialmente, em todas as lojas”, afirma.

Como no Pará existem apenas lojas com a bandeira Atacadão, é por essa razão que o Grupo Carrefour começou a vender apenas em lojas dessas unidades. Nada impede que, no futuro, lojas de outras bandeiras do grupo – que operam também as marcas Carrefour e Sam’s Club – possam comercializar carnes rastreadas.

“Quando isso realmente escalar muito mais e começar a sair do Pará, também, obviamente, pode ser implementado nas outras bandeiras do grupo”, diz Oliveira.

Dono do segundo maior rebanho bovino, com pouco mais de 25 milhões de cabeças, de acordo com o, perdendo apenas para Mato Grosso, o Pará está empenhado em terminar todo o processo de identificação individual de todo o rebanho do estado até dezembro de 2026.

Com a rastreabilidade, é possível saber com precisão em qual fazenda cada animal nasceu e por quais propriedades passou ao longo de seu ciclo de vida e, dessa vez, rastrear a movimentação do gado nos fornecedores indiretos, que são as fazendas por onde o animal passa nas fases de cria e recria.

“Esse é um avanço importante para toda a cadeia da pecuária. Ao apoiar os produtores na adoção das melhores práticas, reforçamos nosso compromisso com uma produção cada vez mais sustentável e transparente”, afirmou Renato Costa, presidente da Friboi, em nota.

O Pará começou a colocar a identificação nos bovinos em setembro do ano passado, quando o boi Pioneiro recebeu dois brincos – um de identificação visual e um botton elétrico.

O Carrefour aderiu à iniciativa em abril deste ano, com um investimento de R$ 10 milhões, mas já possuía medidas voluntárias de rastreabilidade anteriormente.

Ainda que não faça o acompanhamento de cada cabeça de gado em massa, o grupo já fazia a rastreabilidade por lote, utilizando a GTA (Guia de Trânsito Animal).

Em paralelo, o Carrefour também exige que seus fornecedores monitorem e não tolerem práticas de desmatamento, trabalho escravo ou infantil, embargos ambientais e invasões de terras indígenas e quilombolas e em áreas de preservação ambiental.

Além disso, especificamente para indústria da carne, o Carrefour exige que os frigoríficos sejam signatários do protocolo Boi na Linha, que possuam ferramentas de geomonitoramento, que possam permitir nova análise das propriedades por um sistema de monitoramento do próprio Carrefour e que tenham CAR (Cadastro Ambiental Rural) ativo e licença ambiental se necessário.

Resumo

  • Rede Atacadão, do Grupo Carrefour Brasil, recebeu no Pará as primeiras 12 toneladas de carne 100% rastreada individualmente
  • Iniciativa faz parte do programa Pecuária Sustentável, parceria entre a varejista, o governo do Pará e frigoríficos para identificação e rastreabilidade individual do rebanho
  • Ideia é expandir comercialização para todas as lojas do Atacadão no Pará nos próximos meses, sem diferença de preço ao consumidor