Considerado o “ouro verde” da Alemanha, lúpulo é sinônimo de cerveja, responsável por seu amargor.

A HopfON, uma startup da terra da bebida e da tradicional Oktoberfest, a região alemã da Baviera, está trabalhando para que a joia germânica também seja uma estrela dos materiais de construção no futuro, trabalhando com circularidade para a obtenção de sua matéria-prima.

A ideia veio há dois anos. Marlene Stechl e Thomas Rojas, estudantes da Universidade Técnica de Munique, tomavam cerveja e tinham ouvido recentemente uma palestra sobre a utilização de fibras de bananeira na Colômbia para a fabricação de materiais de construção sustentáveis.

A ideia ficou martelando na cabeça e, então, eles se perguntaram: se os colombianos aproveitam as sobras das bananeiras, por que não fazer o mesmo com o lúpulo, que também deixa uma grande quantidade de resíduos?

Colhido no outono, o lúpulo é abundante na Alemanha, o maior produtor do mundo, com 20,3 mil hectares dedicados ao cultivo. A região de Hallertau, na Baviera, concentra a maior área cultivada de lúpulo no país.

Só que, ao ser colhido, o lúpulo também deixa uma grande quantidade de folhas, caules e galhos pelo caminho.

A cada quilo de lúpulo usado para a fabricação de cerveja, ficam para trás 3,5 quilos de biomassa.

Parte do resíduo pode ser utilizada para a produção de fertilizantes e biogás, mas a maior parte de toda essa biomassa é descartada, apodrece e, ao fermentar, pode até mesmo pegar fogo.

“Vimos um enorme potencial na matéria-prima e também no uso de um fluxo de resíduos que era negligenciado basicamente pela maioria das pessoas”, afirmou Maurício Fleischer Acuña, um dos sócios da startup, à Associated Press.

A HopfON - na verdade, um trocadilho com a palavra 'hopfen' (se pronúncia rópfêm), que significa lúpulo em alemão -- pega o resíduo do lúpulo, o seca, remove suas impurezas, pica essa matéria-prima e a transforma em painéis de isolamento acústico e térmico e placas de construção.

A startup já tem um projeto piloto sendo feito com um primeiro cliente, um coworking de Mannheim, no sudoeste da Alemanha, que encomendou painéis acústicos.

A ideia é, no futuro, ampliar o portfólio para agregar também alternativas ao drywall e aumentar a quantidade de matérias-primas para a fabricação dos produtos.

Enquanto os projetos da startup vão saindo do papel, a Sociedade de Pesquisa do Lúpulo está testando novas variedades de lúpulo com o objetivo de diminuir a quantidade de resíduo, para que, a cada quilo de lúpulo, reste apenas entre 1,2 quilo e 1,4 quilo de biomassa.

Palha de milho por aqui

No Brasil, onde o cultivo do lúpulo não é popular como na Alemanha, com o país tendo registrado apenas 88 toneladas colhidas no ano passado, uma startup, a GrowPack, vem conseguindo cheques no mercado de venture capital nos últimos anos com uma proposta semelhante - mas a partir de outra matéria-prima.

A empresa fabrica embalagens biodegradáveis usando palha de milho - que seria queimada - criando uma pasta moldável capaz de se transformar em diferentes recipientes.

Criada em 2018 na Argentina por Exequiel Bunge e transferida para o Brasil há três anos, a startup já desenvolveu invólucros para grandes clientes como Ambev, iFood e Colgate-Palmolive.

Em março deste ano, recebeu US$ 2,2 milhões em uma rodada de investimento no começo do ano, com participação da Oxygea Ventures, braço de investimentos da Braskem, Irani Celulose, da indústria de papel e celulose de mesmo nome, Wyda Embalagens, Draco Capital e FVC.

Com o investimento, a ideia da startup era aumentar sua capacidade de produção, de 150 mil embalagens por mês para até 2 milhões de embalagens. Em 2021, a empresa já havia recebido um aporte de US$ 1,2 milhão da Ambev e de um investidor argentino - país de origem da empresa.