Os maiores bancos do país, como Banco do Brasil, BNDES, BTG Pactual, Caixa e Bradesco, aderiram ao leilão do Eco Invest Brasil, programa de hedge cambial do Tesouro Nacional, órgão do Ministério da Fazenda, com foco no financiamento à recuperação de áreas degradadas.
O Tesouro informou que o leilão teve a participação de 11 instituições financeiras, sendo que 10 delas foram contempladas, somando R$ 16,5 bilhões em “capital catalítico”.
É um dinheiro que sai por um custo mais baixo, geralmente ofertado por governos e instituições de fomento para acelerar projetos que exigem o chamado capital paciente, de longo prazo e que demora para dar retorno.
Os recursos são emprestados aos bancos a juro baixo, de 1%, e servirão para a restauração de cerca de 1,4 milhão de hectares, área equivalente a 9 vezes o tamanho da cidade de São Paulo.
Três bancos públicos ficaram com 58,1% do montante ofertado pelo governo no certame. O Banco do Brasil lidera a lista, com R$ 4,1 bilhões, seguido pelo BNDES, que receberá R$ 3,5 bilhões, e pela Caixa Econômica Federal, com R$ 2 bilhões.
Os pouco mais de 40% restantes representam o capital destinado a sete instituições privadas também aprovadas no certame, com destaque para o BTG Pactual, que ficou com R$ 2,1 bilhões, Bradesco, com R$ 1,97 bilhão, e Itaú Unibanco, com R$ 1,95 bilhão.
Também estão na lista dos bancos privados o banco Safra, com R$ 333 milhões, Rabobank, com R$ 200 milhões, Santander, também com R$ 200 milhões, e Banco Votorantim, com R$ 100 milhões.
O capital catalítico é só o primeiro passo para financiar a recuperação de pastagens degradadas. A ideia é que, a partir de agora, os bancos utilizem esse capital catalítico do governo, a juro baixo, para trazer novos investidores e fechar a conta.
Com isso, além dos R$ 16,5 bilhões aportados pelo governo, as instituições financeiras se comprometeram a mobilizar mais R$ 13,7 bilhões – sendo que R$ 8,25 bilhões serão captados no mercado externo (60,2% do total) e R$ 5,4 bilhões no mercado interno (39,4%) – como, inclusive, já previa o Tesouro Nacional no lançamento do leilão, em abril passado.
De acordo com as regras do certame, os bancos têm de alavancar em pelo menos 1,5 vez o recurso conseguido junto ao governo.
Assim, considerando os números do leilão do Eco Invest e a entrada de novos recursos, a expectativa é de um investimento total de R$ 30,2 bilhões, que serão desembolsados entre este ano e 2027.
O Banco do Brasil, além de ser a instituição que mais vai receber recursos do governo, também é a que pretende financiar a maior quantidade de hectares a serem recuperados (275 mil).
Logo em seguida, no entanto, a lista varia: a Caixa se compromete a financiar a recuperação de 230 mil hectares, seguida por Bradesco, com 203 mil hectares, Itaú Unibanco, com 202 mil hectares, BTG Pactual, com 164,1 mil hectares, e BNDES, com 163 mil hectares.
No fim da lista, estão Rabobank, com 62 mil hectares, Banco Votorantim, com 13,7 mil hectares, e Santander, com 10 mil hectares.
Chama a atenção o fato de que, por exemplo, o Santander, com 10 mil hectares, receberá R$ 200 milhões em capital catalítico, o mesmo valor do Rabobank, que se compromete a financiar a recuperação de um número de hectares bem maior.
"A relação entre o montante investido e a área recuperada depende de fatores como o tipo de atividade, as técnicas de resiliência hídrica empregadas e o custo final ao tomador", diz o Tesouro Nacional.
"O Eco Invest busca equilibrar qualidade dos projetos, volume de terras restauradas e custos compatíveis, reconhecendo que propostas de maior valor podem refletir desafios ambientais relevantes, maior valor agregado ou integração de sistemas produtivos com práticas de restauração ecológica”, esclarece.
O Tesouro também apresentou a distribuição da alocação de recursos por bioma.
O destaque ficou por conta do Cerrado, que concentrou cerca de R$ 17,2 bilhões em investimentos, com foco em projetos de transformação de áreas degradadas em culturas perenes, como fruticultura e cana-de-açúcar, que receberão 40% do montante, e de projetos focados em lavouras ou em pecuária, com 29% do total.
Em seguida, a Mata Atlântica foi contemplada com R$ 4 bilhões, com um mix de 36% dos investimentos previstos para projetos envolvendo culturas perenes, 32% para lavoura ou pecuária, e 21% para florestas ou restauração.
Na sequência, vem a Amazônia, que receberá R$ 3,5 bilhões. O Tesouro informa que os recursos obrigatoriamente precisam ser destinados a projetos de sistemas integrados (integração lavoura-pecuária-floresta e sistemas agroflorestais), recuperação e consolidação de pastagens e restauração natural ou enriquecida com espécies nativas.
Logo após, vem a Caatinga, que receberá R$ 3 bilhões, com foco em projetos de culturas perenes, de abordagens integradas (que podem ser sistemas agroflorestais e ILPF), e de lavouras ou pecuária.
Fechando a lista, estão os biomas Pampa e Pantanal, que foram contemplados com R$ 1,2 bilhão e R$ 1,1 bilhão, respectivamente, com foco de destinação de recursos principalmente para projetos de lavoura e pecuária.
Inicialmente, o certame do Tesouro não iria incluir projetos na Amazônia, mas as instituições financeiras pediram ao órgão do Ministério da Fazenda que inserisse o bioma no leilão.
O Tesouro pretende realizar um novo leilão do Eco Invest, focado exclusivamente na Amazônia, a ser lançado ainda neste ano.
O órgão ainda não divulgou mais detalhes sobre esse novo certame, mas a tendência é de que o foco esteja direcionado para projetos envolvendo bioeconomia e produtos baseados na natureza, segundo disse o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, ao AgFeed, no início de agosto.
Os planos do governo com a recuperação de pastagens também não param no leilão do Eco Invest. O certame é apenas uma parte de um plano maior, chamado Caminho Verde Brasil, que tem a ambição de transformar 40 milhões de hectares de áreas degradadas em dez anos.
Essa transformação exigirá uma grande quantidade de recursos. Por isso, o Ministério da Agricultura e Pecuária busca alternativas de financiamento, como explicou o assessor especial da pasta, Carlos Ernesto Augustin, durante a entrevista coletiva de lançamento do leilão do Eco Invest, em abril.
“Queremos pegar ‘outros dinheiros’. Temos a ideia de captar de alguns países que gostariam de ser donos de terra, mas eles não podem, nem a nossa legislação nos permite, mas eles gostariam de ser sócios de agricultores brasileiros. Isso parece ser uma coisa impossível e não é uma coisa impossível”, disse.
Resumo
- O leilão do Eco Invest Brasil mobilizou R$ 16,5 bilhões em capital catalítico contemplando 10 instituições financeiras, para recuperar 1,4 milhão de hectares.
- Além do aporte do governo, os bancos vão captar mais R$ 13,7 bilhões no mercado, elevando o investimento total para R$ 30,2 bilhões até 2027.
- O Cerrado concentrou a maior fatia dos investimentos previstos, com R$ 17,2 bilhões, seguido por Mata Atlântica, Amazônia, Caatinga, Pampa e Pantanal.