A FS Agrisolutions, uma das maiores empresas de etanol de milho do Brasil, comemorou esta semana a conquista de uma certificação internacional que atesta seu processo produtivo para atender os requisitos globais para a produção de SAF, sigla em inglês para Sustainable Aviation Fuel, ou Combustível Sustentável de Aviação.

A empresa é a primeira indústria brasileira de etanol de milho a receber a ISCC (International Sustainability & Carbon Certification). É um sistema global de certificação que abrange matérias-primas sustentáveis, incluindo biomassa agrícola e florestal, resíduos biogênicos, materiais circulares e energias renováveis para diferentes mercados.

O certificado ISCC CORSIA é baseado em critérios estabelecidos pela ICAO, Organização Internacional de Aviação Civil. O reconhecimento se refere ao etanol e óleo de milho para a produção de SAF.

Ao mesmo tempo, a FS informou ter sido a primeira produtora de etanol do mundo a obter a certificação chamada “ Low LUC Risk” , em colaboração com um de seus fornecedores de milho de segunda safra, o Grupo GGF.

Segundo a empresa, ter “iLUC zero” significa que um biocombustível, como o SAF, foi produzido de forma que não gera emissões de GHG relacionadas ao Impacto Indireto do Uso da Terra (iLUC, na sigla em inglês).

Na prática, é um atestado relacionado às mudanças indiretas no uso da terra quando áreas significativas são deslocadas para a produção de matérias-primas para biocombustíveis, levando em conta se houve desmatamento ou conversão de terras agrícolas.

“Tal certificação reduz ainda mais a pegada de carbono do nosso etanol, tratando-se de um importante reconhecimento e validação de que o etanol de milho de segunda safra brasileiro é uma matéria-prima de baixo carbono, se enquadrando como uma ótima solução para a produção de biocombustível e contribuindo para a descarbonização em diversos setores, principalmente, o de aviação”, declarou o CEO da FS, Rafael Abud, ao AgFeed.

O executivo explicou que, caso o biocombustível da FS seja utilizado em processos submetidos a um mercado de carbono, como ocorre com a aviação dentro do CORSIA, “as emissões oriundas da queima do combustível são significativamente menores quando comparadas ao combustível fóssil, o que pode atender a meta de redução de emissão deste processo, sem mesmo necessitar compensação de emissões”.

Abud destacou que o mercado de SAF “é bastante promissor, com enorme potencial”. Lembrou que uma estimativa da IATA (Associação Internacional de Transportes Aéreos) prevê a utilização de 5 bilhões de litros de SAF em 2025, podendo chegar a 20 bilhões em 2030.

“O aumento da demanda por biocombustíveis, que têm papel essencial na transição energética, proporciona uma grande oportunidade para o Brasil, que está apto a fornecer o etanol”, afirmou.

A FS destaca que o recebimento do certificado ISCC Corsia com Low LUC risk atesta a companhia como apta a fornecer matéria-prima de baixo carbono para produção de combustível sustentável de aviação, de acordo com os padrões da ICAO.

A condição também considera “zero emissões de impacto indireto de uso da terra para o milho de segunda safra rastreado”, segundo o CEO, “corroborando que mesmo com crescimento por demanda adicional para etanol, não existe pressão por desmatamento, tanto no seu efeito direto quanto indireto”.

A empresa informou que, para se obter um certificado de CORSIA, os critérios de sustentabilidade devem ser atendidos, e entre eles aparece um de elegibilidade, que não permite áreas com conversão após 2008.

O processo de certificação do etanol da FS demorou dois anos, segundo a empresa, porque incluiu desde a fase agrícola e seus insumos, passando pela produção do biocombustível até o transporte ao produtor de SAF.

Na produção agrícola, houve participação de um de seus fornecedores, a fazenda Água Santa, parte da GGF. “Desta forma, além de verificar a pegada de carbono do combustível desde sua fase agrícola, foi atestado que o Impacto Indireto do Uso da Terra do milho de segunda safra foi zero, adicionando à Certificação ISCC CORSIA o atributo de Low LUC risk. Este foi o primeiro registro de Certificação de Low LUC risk verificado em todo o mundo”, disse a empresa em comunicado.

A companhia diz que precisou apresentar registros de produtividade e documentos de um período de mais de 10 anos, para demonstrar as melhorias nas práticas agrícolas.

“Escalar uma certificação destas para centenas de produtores, inclusive pequenos produtores, é extremamente trabalhoso e se faz necessário flexibilizar algumas regras e comprovações para a realidade dos produtores rurais.”, argumentou o vice-presidente de Sustentabilidade e Novos Negócios da FS, Daniel Lopes.

A certificação ISCC Corsia já havia sido conquistada por empresas como Raízen e BP Bunge, mas ambas relacionadas à produção de etanol a partir de cana-de-açúcar e sem o reconhecimento sobre o uso da terra.

A FS utiliza milho de segunda safra em 100% da produção e possui três unidades, todas no estado de Mato Grosso.

A empresa tem capacidade para produzir cerca de 2,2 bilhões de litros de etanol por ano e também se destaca em produtos para nutrição animal, conhecidos pela sigla DDG (Dried Distillers Grains), além de óleo de milho e bioeletricidade.

A companhia é controlada pelo fundo Summit Agricultural Group e está em processo de expansão que visa a atingir capacidade produtiva de 5 bilhões de litros de etanol por ano.

A expectativa é de que possa atender a demanda internacional por SAF, exportando o biocombustível. Em maio do ano passado a Summit Ag anunciou a construção “da maior planta do mundo de combustível de aviação à base de etanol”, nos Estados Unidos e destacou a possibilidade de ter o fornecimento a partir da unidade brasileira.

Em entrevista recente à agência Reuters, Rafael Abud disse que as usinas brasileiras, sendo elas de etanol de milho ou de cana, conseguem se destacar em relação a concorrentes dos Estados Unidos no item emissões, porque lá as empresas usam gás natural como fonte de energia.

Além disso, as fábricas de etanol norte-americanas, disse ele na entrevista, também sofrem desvantagem em relação ao uso da terra, na disputa pelo mercado de SAF, já que em geral o produtor dos EUA só consegue fazer uma safra, de milho ou soja, na mesma área.

Os planos da FS no mercado de carbono são ousados. Durante o evento chamado “Zero Summit”, em 2023, apresentou detalhes do projeto com a tecnologia BECCS (Sistemas de Bioenergia com Captura e Armazenamento de Carbono, na sigla em inglês).

A ideia é produzir um etanol de milho com pegada de carbono negativa. O AgFeed apurou que o projeto, que prevê investimentos de R$ 330 milhões, segue “em fase de testes” e que a primeira unidade de captura e injeção de carbono poderá ser concluída até julho de 2024.