A Generation Investment Management é uma das gestoras mais badaladas dos Estados Unidos atualmente. Com cerca de US$ 44 bilhões em ativos sob gestão, a empresa tem como sócio o ex-vice-presidente americano e ativista ambiental Al Gore e é uma das pioneiras e que atua com mais robustez quando o assunto é sustentabilidade.

No mês passado, a Gerenation completou 20 anos, atuando em várias frentes. Uma delas, criada em 2021 é a Just Climate, gestora que tem como foco investir em empresas que atuem na descarbonização de algumas cadeias. Nos seus primeiros anos de vida, por exemplo, o fundo Climate Asset Fund I levantou US$ 1,5 bilhão para atuar no segmento pelo viés industrial.

Agora, a Just Climate olha com muita atenção para o agronegócio e deve captar recursos para novos investimentos no setor. E, então, seu olhar se volta imediatamente para a parte Sul das Américas.

“Não se pode consertar o clima sem o Brasil”. A frase é Eduardo Mufarej, ex-sócio da Tarpon e fundador da Good Karma Partners e resume bem o que esperar da firma para os próximos meses e anos. Mufarej é agora também responsável por liderar a estratégia de soluções climáticas naturais (NCS, na sigla em inglês), na Just Climate.

Essa nova estratégia foi apresentada por Mufarej e outros sócios na Just Climate, Clara Barby e Schaun Kingsbury, CIO da empresa para a parte industrial, em um encontro com jornalistas em São Paulo. A cidade acaba de receber o segundo segundo escritório da firma - a primeira fica em Londres.

Durante a conversa, eles destacaram dois temas que chamam a sua atenção quando o assunto é agro: reflorestamento e uso de insumos biológicos. De acordo com Mufarej, tudo isso está relacionado a um bom uso da terra.

O grande questionamento dos sócios está em como produzir de forma eficiente em termos climáticos, com menos emissões de carbono. É a partir dele que a Just Climate iniciam a busca de potenciais investimentos no Brasil.

Nos biológicos, por exemplo, o sócio da Just Climate vê uma boa oportunidade de atuar com empresas que atuam exclusivamente nessa categoria de insumos, sem nenhum modelo de negócio voltado aos químicos tradicionais.

“Apoiaremos empresas que nos vão ajudar a abrir caminho para uma nova forma de produção sustentável. E essas são empresas que não têm herança ou conflito, realmente focados em trazer esse esforço de descarbonização”, afirmou.

Segundo Mufarej, essas são empresas que precisam de capital para crescer ou para construir fábricas capazes de lhes dar mais escala na produção.

“A penetração dos biológicos no Brasil há cinco anos era quase zero, agora é cerca de 7%. Podemos ajudar esse valor a chegar a 20% via financiamento, capital ou construindo algo?”, indagou Mufarej.

A firma de investimentos vê com bons olhos o tema do reflorestamento e restauração de florestas, mas com algumas ressalvas. O assunto, avaliam os sócios, tem chamado muita a atenção de fundos e investidores globais, principalmente os interessados em compensações de emissões.

Mufarej cita que vê algumas empresas já atuando nesse mercado, mas acredita que estão “num estágio muito inicial da indústria”. “Acreditamos que estes modelos podem ser importantes e podem ser relevantes, mas ao longo do tempo”, diz.

“Algumas pessoas estão presumindo que esta indústria já existe, mas é algo que leva 20 anos para se consolidar. O que vemos, hoje, é uma intenção de certas empresas que adorariam comprar os créditos da remoção de carbono”, afirma Mufarej.

Nesse cenário, ele não vê a Just Climate investindo em empresas que possuam modelos de restauração em que a única fonte de receita sejam os créditos de remoção de carbono.

Na contrapartida, vê com mais carinho empresas que atuem com culturas “brasileiras”, como cacau, café e açaí, sendo cultivadas “de forma mais sustentável”.

“Existem pressões de empresas de bens de consumo para descarbonizar a forma que o cacau é produzido, por exemplo. Isso é algo que vemos de forma mais tangível para apoiar a transição de manejo”, afirmou.

Dentro de todas essas premissas, a empresa que possa a vir receber capital da Just Climate precisa fornecer ao produtor uma vantagem econômica, seja de redução de custos ou com mais produtividade.

Mufarej acredita que a firma deve anunciar algum investimento na área de soluções climáticas naturais ainda esse ano.

Como o fundo é global, as empresas que podem receber os investimentos podem estar tanto no Brasil como ao redor do mundo, desde que tenham escalabilidade e possam entrar no País, condição relevante quando se fala em agricultura.

Clara Barby pontuou que as oportunidades para soluções climáticas naturais são enormes no Brasil. “A inovação também vem daqui, o que é muito interessante. isso coloca o Brasil em um lugar fundamental na nossa estratégia”, afirmou a sócia sênior da Just Climate.

“A agricultura representa um quarto do problema e um terço das soluções. O Brasil, como maior país agrícola, não tem como ficar de fora”, afirmou Mufarej.

Descarbonizando a indústria

Os sócios pontuaram, durante a conversa, que a ideia do Just Climate é entender a origem das principais emissões no planeta e atacar o problema de frente, seja no segmento que for.

Clara Barby afirmou que 60% das emissões globais são originadas do setor industrial e do setor agroflorestal somados. Apesar disso, grande parte dos investimentos em soluções climáticas vai para outras partes da cadeia, como por exemplo, em energias renováveis e carros elétricos.

“Precisamos mudar o foco da atenção e é por isso que projetamos a Just Climate”, afirmou. “Nossa proposta é atuar onde as emissões estão”, acrescentou Kingsbury.

Até agora, a Just Climate já destinou os US$ 1,5 bilhão captados para cinco investimentos em empresas com soluções para reduzir as emissões de carbono no setor industrial.

O dinheiro foi levantado em uma rodada com fundos de pensão nos EUA e Canadá, além de endowments de fundações e universidades, fundos soberanos de países da Ásia e family offices.

Kingsbury é um executivo com experiência no mundo da energia limpa. “Construí empresas de energia limpa há cerca de 25 anos, quando esse mercado estava apenas começando. Passei a ser embaixador e liderei empresas de private equity que investem em energia renovável por muitos anos”, contou.

Além disso, criou o Banco de Investimento Verde do Reino Unido, o primeiro do tipo no mundo. Ele se juntou à Just Climate há três anos.

Já Clara Barby, que está na firma desde 2022, possui uma vasta experiência em empresas de investimento focadas em soluções energéticas e ambientais em países do chamado “sul global”. “Estou confortável com geografias difíceis”, afirmou, durante a conversa com jornalistas.

Dentre os investimentos feitos na parte industrial, a empresa aportou capital na H2 Green Steel, startup sueca que atua na descarbonização da indústria siderúrgica.

Basicamente, a empresa substituiu o carvão tradicional usado na produção de aço por hidrogênio verde, que é alimentado por uma fonte elétrica renovável. Esse processo não emite CO2 na atmosfera.

A H2 Green Steel está criando a primeira usina siderúrgica verde e em grande escala da empresa no norte da Suécia. Segundo Kingsbury, projetos como esse podem chegar ao Brasil nos próximos anos.

Na visão da Just Climate, além de o País abrigar gigantes do segmento minerador e siderúrgico, possui uma “combinação de energia renovável (elétrica e eólica) interessante”.

“Existem três locais ao redor do mundo em análise para uma próxima fábrica. O foco, nos próximos dois anos, está na conclusão da construção na Suécia. Em próximos projetos, o Brasil é um forte candidato”, afirmou Schaun Kingsbury.

Outra empresa que recebeu aporte da Just Climate foi a Ascend Elements, que atua reciclando baterias de veículos elétricos. Além delas, a firma de investimentos aportou na Meva, que produz gás natural sem uso de combustíveis fósseis e na Infinitum, que busca aumentar a eficiência de motores de qualquer tipo.

Por fim, a empresa também participou de uma rodada de captação da ABB E-mobility, braço de mobilidade elétrica da ABB, multinacional suíça.