Um dos fenômenos mais notáveis da história humana, independente do período ou do local, é a insistência de governos em tomar decisões políticas contrárias aos seus próprios interesses. Essa é a constatação que Barbara Tuchman desenvolve em seu clássico A Marcha da Insensatez, editado há mais de 40 anos.

Por que os detentores de altas posições políticas frequentemente tomam decisões contrárias à razão e aos interesses de seu Estado? Decisões equivocadas que levam a consequências catastróficas?

É isso que marcou a história desde a Guerra de Troia até os tempos atuais. Tuchman relembra afirmação do ex-presidente norte americano John Adams que constatava, ainda no início do século XIX, o quanto avançaram as outras ciências nos últimos 3 mil anos em comparação aos poucos avanços na arte de governar.

O desgoverno resulta de quatro fatores ou da combinação entre eles. A tirania, a ambição excessiva, a incompetência ou decadência e a loucura junto da perversidade.

A loucura e perversidade são talvez as mais intrigantes das razões do fracasso de determinadas políticas e suas consequências desastrosas. Seguir políticas contrárias ao interesse da Constituição ou do Estado envolvido.

Se o interesse próprio é aquele que conduz ao bem-estar e às vantagens de um Estado em questão, a loucura ou insensatez seria a política contra produtiva aos interesses do Estado.

Para qualificar a loucura ou a política danosa deve-se seguir alguns critérios: que seja prejudicial no tempo em que foi realizada, já que não é recomendável julgar homens do passado com ideias do presente.

Em segundo lugar, uma alternativa ou outro curso de ação deve estar disponível quando determinada decisão for tomada. E, em terceiro lugar, a política em questão deve ser tomada por um grupo e não apenas um indivíduo, para que tenha seus afeitos nocivos além da vida de um determinado governante.

Por 2500 anos os filósofos da política como Platão, Aristóteles, São Tomás de Aquino, Maquiavel, Hobbes, Locke, Rousseau, Jefferson, Nietzsche, Marx e outros, dedicaram seu tempo aos temas da ética, soberania, contrato social, direitos do homem, corrupção do poder, confronto entre liberdade e ordem.

Poucos, com exceção de Maquiavel, se preocuparam com o governo como ele é, e não como deveria ser. Poucos se preocuparam com o fator insensatez e loucura nas decisões políticas. É notável como foi pouca a sabedoria com a qual o mundo foi e é governado até hoje.

O que se aprende com a história é que a loucura e a insensatez são filhos do poder. O poder corrompe. E alimenta a loucura.

O poder de comandar frequentemente causa falhas no pensamento. A responsabilidade do poder é governar o mais razoavelmente possível no interesse do Estado e dos cidadãos.

Se a mente de um governante está aberta para perceber que uma determinada política prejudica o interesse do Estado, tem confiança suficiente em si mesmo para reconhecer isso e sabedoria suficiente para revertê-la, então atingiu o ápice na arte de governar.

Aprender com os erros do passado e colocar em prática aquilo que foi aprendido é algo muito recente na história humana. Tuchman utiliza o exemplo do ex-presidente egípcio Anuar Sadat, que, ao abandonar a inimizade com Israel, desafiou seus vizinhos históricos para favorecer uma relação mais útil ao seu país. Utilizou de bom-senso e abandonou negações improdutivas.

Todo o desgoverno é contrário ao interesse do Estado no longo prazo embora possa fortalecer o regime temporariamente. O desgoverno passa a ser insensatez quando a sua persistência perversa se demonstra inviável e contra produtiva.

O Pacto Verde europeu é uma insensatez. É contraprodutivo porque reduz significativamente o bem-estar geral.

Já na terceira década do século XXI, a loucura e insensatez dos decisores europeus sobre a política agrícola e ambiental comuns das nações europeias respondem às mesmas características do passado de desgoverno, ausência de bom-senso e consequências catastróficas já tomadas por seus antepassados.

Agricultores de 17 países membros da União Europeia tomaram as ruas e estradas de seus países para tentar conter um processo irracional que vai contra os próprios interesses nas nações europeias.

Qual a utilidade de uma política que resulta em aumento simultâneo de preços dos alimentos e energia? Qual a racionalidade em pregar a redução da produção de alimentos para cumprir metas de emissão de gases de efeito estufa arbitradas por burocratas e certificadas sabe-se lá com que critério?

O Pacto Verde europeu é uma insensatez. É contraprodutivo porque reduz significativamente o bem-estar geral.

Há alternativas disponíveis para uma transição no uso da terra e na produção energética que utilizem novas tecnologias, sem que a atividade agrícola tenha que ser reduzida ou aniquilada.

E as decisões estão sendo tomadas de forma coletiva, seguindo políticas dogmáticas que poderão ter consequências irreversíveis para as gerações futuras.

Os efeitos nocivos de uma vida mais cara e de bem-estar geral menos acessível já estão sendo sentidos pela coletividade europeia.

Se os governantes europeus não forem sensíveis às reivindicações dos agricultores e não tiverem sabedoria para reverter o dogmatismo de suas decisões estaremos diante de mais uma loucura política com consequências desastrosas para o mundo todo.

Christian Lohbauer é cientista político e já foi diretor-executivo de diversas entidades representativas do agro como no setor de exportação de frango (Abef), suco de laranja (CitrusBR) e CropLife Brasil