Privilegiado, o setor de suco de laranja brasileiro avalia ter escapado do tarifaço de 50% dos Estados Unidos “por tabela”, pois a medida foi uma “concessão” do governo norte-americano à indústria local da bebida.
Na avaliação da Associação Nacional das Indústrias Exportadoras de Sucos Cítricos (CitrusBR), a decisão e manter o setor na lista de exceções, com 10% de tarifa ocorreu pela pressão da indústria local e pelo fato de o governo levar em conta a interdependência dos dois países na produção do suco.
“A gente sabe que a medida significa uma grande concessão do governo americano, obviamente uma concessão para a indústria americana, e fomos protegidos por tabela. Isso reforça o compromisso de seguir abastecendo o mercado da melhor forma possível”, afirmou ao AgFeed Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR.
Netto admitiu estar “muito aliviado” após Donald Trump assinar a ordem de antecipação da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros para esta quarta-feira, 30 de julho.
Antes concorrentes do Brasil, os Estados Unidos se tornaram dependentes do nosso suco de laranja para abastecerem a indústria e, consequentemente, o varejo local. Com os pomares da fruta dizimados pelo greening, principal doença da citricultura e que não tem cura, as safras locais são as menores da história e a oferta da bebida só é garantida pelo Brasil.
Na safra 2024/2025, encerrada há um mês, os Estados Unidos foram o segundo principal destino do suco brasileiro, com 41,7% de participação, atrás apenas da Europa. Foram exportadas 307.673 toneladas com receita total de US$ 1,31 bilhão.
Além disso, entre os poucos produtores locais de suco de laranja, os maiores são as brasileiras Cutrale e Citrosuco, que mantêm indústrias e pomares na Flórida. Isso teria ampliado a pressão ao governo norte-americano para se poupar a bebida no tarifaço.
Entre os grandes setores do agronegócio, a lista de exceções livrou apenas o suco e a celulose. A nativa castanha do Brasil completa a lista de produtos agropecuários cuja tarifa segue em 10% juntamente com a dos outros dois setores.
Com a tarifa em 10%, o impacto deve atingir cerca de US$ 100 milhões por ano, ou R$ 560 milhões, se considerando o câmbio de R$ 5,60 por dólar.
Esse valor se soma aos tributos já incidentes, como a tarifa aplicada há décadas, de US$ 415 por tonelada, custou US$ 86 milhões no ano passado. Somando-se as tarifas atuais e a nova medida, o total de impostos é estimado em US$ 200 milhões anuais, ou aproximadamente R$ 1,12 bilhão.
A conta poderia ser mais azeda ao setor se o suco de laranja não fosse poupado por Trump.
Nesta terça-feira, 29 de julho, a CitrusBR informou que o impacto anual poderia atingir US$ 792 milhões, ou R$ 4,3 bilhões com a taxação de 50% e a tarifa fixa de US$ 415 por tonelada para exportar aos Estados Unidos.
Resumo
- CitrusBR avalia que a manutenção da tarifa de 10% ao suco brasileiro foi “concessão” dos EUA à sua própria indústria, altamente dependente das importações do Brasil.
- Com a tarifa mantida em 10%, o impacto anual será de cerca de US$ 100 milhões, bem abaixo dos US$ 792 milhões estimados caso ficassem em 50