A expectativa por uma safra 2024/2025 recorde de soja no Brasil foi confirmada pela Agroconsult. Dados apurados pelo Rally da Safra, divulgados nesta quinta-feira, 27 de março, apontam oferta de 172,1 milhões de toneladas da oleaginosa, alta de 10,7% sobre a safra passada, de 155,5 milhões de toneladas, e de 6% sobre o recorde anterior, de 162,4 milhões de toneladas, em 2022/2023.

“A safra foi melhor que a encomenda, mas poderia ter sido muito melhor” afirmou André Pessoa, CEO da Agroconsult, durante a apresentação dos resultados do Rally.

O recorde só foi possível graças ao aumento na área cultivada, para 47,8 milhões de hectares, 6,2% superior à de 2022/2023 e 2,1% maior que a da safra passada. A produtividade atual, de 60,02 sacas por hectare, será menor que a de 60,08 sacas por hectare há duas safras.

Apesar de os dados divulgados em março terem ficado próximos aos das estimativas de fevereiro, de 171,3 milhões de toneladas, e de janeiro, de 172,4 milhões de toneladas, a Agroconsult apontou uma “troca” de 12,5 milhões de toneladas de soja entre as regiões brasileiras em três meses, graças às variações climáticas.

Com chuvas regulares e recordes de produtividade em Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Acre, Tocantins e Maranhão, a oferta da “metade para cima” do Brasil cresceu 6,1 milhões de toneladas de soja entre janeiro e março.

Por outro lado, a seca, principalmente no Rio Grande do Sul e em Mato Grosso do Sul, trouxe uma quebra de 6,4 milhões de toneladas ante o estimado em janeiro. Só nas lavouras gaúchas, a variação negativa foi de 5 milhões de toneladas entre janeiro e março.

Além dos recordes de produtividade, a Agroconsult destacou a oferta de soja em Mato Grosso, que superou 50 milhões de toneladas pela primeira vez, com 3,1 milhões de toneladas a mais entre as projeções. Mas a produção naquele estado poderia ser ainda maior.

“Mato Grosso teve lavouras precoces afetadas e as tardias com melhor desenvolvimento ano passado. Neste ano foi o inverso, nebulosidade e chuvas na colheita tiraram o potencial das lavouras tardias”, disse André Debastiani, coordenador-geral do Rally da Safra.

A Agroconsult espera que a exportação de soja em 2025 chegue a 106,3 milhões de toneladas, ante 97,8 milhões de toneladas no ano passado.

Segundo Pessoa, a guerra comercial entre Estados Unidos e China ainda tem pequeno reflexo nas vendas de soja brasileira, porque os orientais se anteciparam e fecharam a compra da oleaginosa norte-americana ainda em outubro do ano passado, antes da vitória de Donald Trump.

“O cenário para o futuro é melhor, já que as áreas de soja nos Estados Unidos e globalmente serão menores na próxima safra, e podem sustentar preços”, disse Pessoa. Mesmo com a oferta em alta, o CEO da Agroconsult apontou um cenário positivo de preços também aqui, graças à melhor produtividade e ao câmbio.

“Muitos produtores se preparam para vender a R$ 100 a saca e venderam entre R$ 105 e R$ 120, o que deu fluxo de caixa mais folgado do que o aperto esperado”, afirmou Pessoa.

Para a próxima safra brasileira, a partir de julho, a preocupação é com a disponibilidade de crédito. “Com a Selic caminhando para 15%, o juro de mercado será de 18%, no mínimo. Com margem relativamente apertada, o custo de dinheiro elevado e a rolagem da dívida passada, o risco elevado deve pressionar os limites de crédito”, explicou.

Otimismo no milho

Se o cenário da soja foi positivo, mas poderia ser melhor, para o milho o otimismo é muito maior. A Agroconsult estima uma oferta de 109,6 milhões de toneladas do grão em 17,9 milhões de hectares para a safrinha e uma oferta total potencial de 137 milhões de toneladas em 2024/2025, ante 128 milhões de toneladas em 2023/2024.

Mas para essa oferta potencial do cereal se concretizar, o milho depende das mesmas chuvas que ajudaram o cultivo da soja na maior parte do Centro-Oeste e também que o frio não estrague o cultivo, principalmente em Mato Grosso do Sul e no Paraná.

“A área cresce 6%, mas tem muita lavoura tardia que depende de chuvas na segunda quinzena de abril e na primeira de maio para se desenvolver”, disse Pessoa, já prevendo uma possível revisão para baixo na oferta.

A Agroconsult avalia que o cenário de preços do milho seguirá sustentado e positivo ao produtor, cerca de R$ 10 acima do ano passado, quando o piso foi de R$ 40.

Da oferta prevista, 22,3 milhões de toneladas devem ir para a indústria de etanol e outras 96 milhões de toneladas para o consumo doméstico.

“Mesmo se houver uma queda na oferta estimada para a segunda safra, a produção tem como atender o mercado doméstico e as exportações com sobras”, concluiu Pessoa.

Para as avaliações e os dados divulgados nas projeções, 17 equipes do Rally da Safra percorreram, durante 76 dias, 13 estados e Distrito Federal com 62 mil quilômetros rodados e 1.647 lavouras inspecionadas.