O primeiro mês de 2025 se encerrou com mais uma boa notícia para o mercado de proteína animal. Em janeiro, as exportações de carne bovina, suína e de aves registram alta e novos recordes para janeiro, indicando uma continuidade dos bons ventos que sopram sobre o setor desde o ano passado.
Na carne bovina, os embarques bateram novo recorde e fecharam o período em 209,2 mil toneladas, com receita de US$ 1 bilhão.
Esse volume representa um aumento de 2% em relação a janeiro de 2024, quando as indústrias exportadoras comercializaram 204 mil toneladas. Em faturamento, o crescimento foi ainda maior e chegou a 11,4%.
A alta do dólar frente ao real e o aumento do preço médio da carne bovina brasileira no mercado internacional, da ordem de 9,4%, contribuíram para esses resultados.
Os dados foram divulgados nesta segunda-feira, 10 de fevereiro, pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadores de Carnes (Abiec), com base no levantamento feito pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Com esses resultados, janeiro de 2025 consolida-se como o melhor mês de janeiro para a carne bovina desde o início da série histórica..
Esse desempenho representa os bons resultados que o setor vem conquistando graças ao trabalho de abertura de novos mercados e ampliação dos embarques para mercados já existentes. Trabalho esse que se intensificou com a chegada de Roberto Perosa à presidência da Abiec, em dezembro passado.
Em entrevista ao AgFeed em janeiro, Perosa afirmou que o trabalho da nova gestão tem como prioridade a abertura de novos mercados até o final do ano, especialmente o Japão, Coreia do Sul, Turquia e Vietnã, que pagam mais pela carne.
“Esses são mercados estratégicos, que representam quase 30% de toda a carne bovina consumida no mundo e o Brasil ainda está de fora”, declarou, na ocasião.
O executivo está no Japão nesta semana, justamente para tratar sobre as negociações para abertura daquele mercado.
Para o executivo, os esforços do setor privado e do governo na negociação do shelf-life dos produtos brasileiros foram determinantes para abrir novas oportunidades para a indústria nacional, favorecendo o aumento dos embarques.
Os embarques de carnes de frango também cresceram 9,4% no mês e chegaram a 443 mil toneladas, enquanto a receita aumentou 20,9% e fechou o mês em US$ 826,4 milhões ante US$ 683,6 milhões.
De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal, (ABPA), que divulgou os dados também nesta segunda-feira, o volume de carne de frango embarcada em janeiro é o maior de toda a série histórica para o mês.
O recorde também foi registrado nos embarques da carne suína, que pela primeira vez romperam a marca das 100 mil toneladas em janeiro e fecharam o primeiro mês do ano com 106 mil toneladas, alta de 6,4% em relação às 99,6 mil toneladas de janeiro de 2024.
Em receita, a alta foi de 19,6% com US$ 238 milhões de saldo, ante US$ 199 milhões registrados no mesmo período do ano passado.
Principais destinos
Se por um lado o apetite chinês pela carne bovina diminuiu em janeiro em relação a dezembro, por outro a fome do gigante asiático por carne de frango cresceu 15% e fechou o período com 44,3 mil toneladas.
“A China, as Filipinas e outros mercados têm mantido fluxo relevante positivo de importações do produto brasileiro, reforçando perspectivas positivas quanto ao comportamento destes mercados ao longo do ano”, avalia o presidente da ABPA, Ricardo Santin.
“Para o próximo mês são esperados resultados positivos de outros mercados com avanços recentes, como é o caso do México, com a renovação do programa de segurança alimentar que influenciou positivamente a compra de produtos brasileiros”.
No caso da carne suína, a China continua sendo a principal compradora, embora o volume tenha diminuído 14% em relação a janeiro de 2024, fechando o período com 19,8 mil toneladas.
Na sequência estão Filipinas, com 19,5 mil toneladas (+58%), Hong Kong, com 9,5 mil toneladas (estável), Japão, com 8,1 mil toneladas (+87%), Chile, com 7,7 mil toneladas (-29%), Singapura, com 6,5 mil toneladas (+26%), Estados Unidos, 4,7 mil toneladas (-9%), Argentina, com 4,4 mil toneladas (+379%), Uruguai, com 3,7 mil toneladas (+1%), Costa do Marfim, com 3,3 mil toneladas (+103%) e Vietnã, com 2,8 mil toneladas (+127%).
“Os mercados da Ásia, liderados pelas Filipinas, estão ampliando a presença entre os principais destinos das exportações brasileiras, sustentando as tendências positivas e de maior capilaridade de mercados registradas desde o segundo semestre do ano passado”, afirma Santin.
No caso da carne bovina, houve uma pequena retração nos embarques para a China, com 92.797 toneladas e receita de US$ 452 milhões.
Os embarques de carne bovina para os Estados Unidos, segundo maior comprador do produto, também recuaram 8,5% em relação a janeiro de 2024 e ficaram em 18.974 toneladas, com faturamento de US$ 106,6 milhões.
Por outro lado, a União Europeia aumentou suas compras em 82,6% na comparação com dezembro, atingindo 9.270 toneladas e movimentando US$ 69,7 milhões.
Outro destaque do mês foi a Argélia, que registrou um crescimento expressivo de 204% no volume importado, totalizando 8.059 toneladas e um faturamento de US$ 42,9 milhões.
Sobre a queda das compras norte-americanas e o aumento expressivo das exportações para a Europa, Perosa destaca que esse movimento reflete as dinâmicas naturais do mercado.
“Os Estados Unidos tiveram um maior estoque de carne interna neste início de ano, o que naturalmente reduziu sua demanda por importação. Além disso, o comportamento de consumo global está sempre sujeito às condições econômicas e às estratégias comerciais de cada país”, analisa.
“No caso da União Europeia, observamos um aumento das compras devido à reposição de estoques e à disponibilidade e competitividade do produto brasileiro”, afirma o presidente da Abiec.
Exportações x Mercado Interno
Os aumentos dos embarques de proteína animal para abastecer outros mercados são um reflexo do crescimento da indústria brasileira nos últimos anos.
Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab),a produção de carne bovina, suína e de aves está estimada em 31,57 milhões de animais em 2024, maior número já registrado desde o início da série histórica.
“As exportações cresceram 26% em um ano e sem deixar de abastecer o mercado interno, que consome 70% da carne produzida. Nenhum outro setor cresceu tanto quanto a carne bovina brasileira”, afirmou Perosa na entrevista recente ao AgFeed.
Um dos aspectos que permite ao Brasil estar na dianteira das exportações é o fato de que os cortes fornecidos para os demais mercados são, em geral, pouco demandados pelo consumidor brasileiro, como é o caso dos miúdos e língua.
Em contrapartida, o consumidor brasileiro demanda cortes da parte dianteira do boi, como acém, paleta, músculo e peito. Dessa forma, os produtores conseguem atender tanto ao mercado interno quanto o externo.