Um levantamento feito pelo National Council of Real Estate Investment Fiduciaries (NCREIF, na sigla em inglês), associação que reúne representantes de fundos imobiliários nos Estados Unidos, mostra que o apetite de investidores americanos por terras agrícolas tem crescido de forma consistente nos últimos anos.

De acordo com o estudo, publicado pelo Financial Times, o valor das áreas produtivas hoje sob gestão desses fundos atingiu, no final de 2023, US$ 16,6 bilhões (o equivalente a R$ 83 bilhões), mais que o dobro dos US$ 7,4 bilhões (R$ 37 bilhões) apurados em 2020 e quase dez vezes os US$ 1,8 bilhão (R$ 9 bilhões) de 2008.

As cifras recordes resultam da combinação de mais investimentos com o aumento do preço das terras agrícolas no país. No final do ano passado, um acre (equivalente a 0,4 hectare) custava em média US$ 5.460, mais de quatro vezes os US$ 1.270 que valia em 1997.

Mesmo com o interesse crescente de investidores, a porção de terras sob propriedade dos fundos ainda é ínfima, variando entre 1% e 3% de um mercado estimado em US$ 3,4 trilhões.
Cerca de 95% das propriedades rurais dos EUA permanece sob controle de famílias ou empresas familiares, de acordo com dados do Departamento de Agricultura (USDA).

Mas para organizações de agricultores, no entanto, os modelos atuais de produção e o desinteresse das populações mais jovens pela atividade rural ameaçam mudar rapidamente esse quadro, favorecendo uma onda de aquisições por investidores.

Segundo o USDA, a idade média do agricultor americano é de 58 anos. Para Jordan Treakle, da National Family Farm Coalition, isso indica que cerca de 400 milhões de acres (160 milhões de hectares) de terras agrícolas podem mudar de mãos na próxima década ou mais, segundo disse ao FT.

"Há uma preocupação significativa de que essas empresas vão controlar a base de terras agrícolas neste país", disse ele.

Um dos principais motivos para a valorização recente das terras nos EUA foi a desorganização das cadeias de abastecimento globais durante a crise da Covid-19, seguida da guerra na Ucrânia. A percepção da importância estratégica de controlar a produção de commodities impulsionou o mercado de propriedades rurais, tornando-as mais atraentes para investidores.

O impacto dessas crises diminuiu, mas os apetite ds fundos, não. "As tendências seculares são extremamente atrativas", declarou Antoine Bisson-McLernon, diretor-executivo da Fiera Comox, subsidiária da Fiera Capital, que possui cerca de US$ 2 bilhões em ativos agrícolas sob gestão.

"Se você tem uma visão de longo prazo do mundo, possuir terras de qualidade, com acesso à água, é um bom lugar para estar".

Essa visão se fortaleceu nos EUA após a crise financeira de 2008, quando grandes fundos de pensão passaram a olhar com mais atenção para o mercado de terras como forma de se proteger de investimentos em mercados mais voláteis, como o de ações.

Isso foi visto novamente no pós-Covid, quando ações e títulos sofreram desvalorizações, enquanto as propriedades rurais ganhavam valor.