O reporte do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) sobre a oferta e demanda mundial de grãos reacendeu as expectativas para os produtores brasileiros, porque se alinham às condições que começam a emergir mais claramente da safra nova daqui.
Para além dos cortes na produção e estoques americanos de soja e milho, como foi divulgado na quinta-feira, 12 de outubro, em temporada correndo sob seca e calor na maior parte do tempo entrou no radar do mercado as preocupações com a oferta do Brasil podendo ser menor do que a prevista.
O caso da soja é mais explícito, porque o plantio está ficando atrasado no Sudeste e Centro-Oeste, onde a ocorrência de chuvas segue muito baixa e irregular, ainda que o Sul esteja se beneficiando da chuvarada. E com super El Niño podendo acentuar esse desequilíbrio.
Assim, a produção dos Estados Unidos, limada de 112,8 milhões de toneladas para 111,70 (lembrando que a expectativa lá atrás chegou a 122 milhões) e estoques em 5,98 milhões de toneladas ante estimativa de 6,34, não deverão ser mais compensadas pela safra brasileira.
“Já não se acredita que o Brasil vá passar das 160 milhões de toneladas, porque toda a área de São Paulo para cima está muito abaixo do plantio necessário para não perder a melhor janela e comprometer a produtividade”, diz o consultor Vlamir Brandalizze.
O The World Agricultural Supply and Demand Estimates (WASDE) do USDA manteve os Brasil com 164 milhões de toneladas, mas há um evidente atraso entre o levantamento e a elaboração do documento.
Informações colhidas pelo AgFeed com grandes produtores brasileiros ilustram esse cenário. Jonadan Ma, do grupo Ma Shou Tao, do Triângulo Mineiro, não vê a área plantada nem em 5%, desde o fim do vazio sanitário, em 15 de setembro.
Mozart Carvalho Assis, do Sul de Goiás, parou de plantar em outubro e teme perder o que foi semeado em setembro, quando a ocorrência de chuvas foi melhor. Marcos da Rosa, ex-presidente da Aprosoja Brasil, não está plantando no Leste mato-grossense.
Ainda há visões mantendo otimismo sobre a oferta nacional na temporada 23/24, como a da StoneX. A analista de inteligência de mercado Ana Luiza Lodi diz manter as 164 milhões de toneladas como foi descrita no relatório mensal de 2 de outubro. “Ainda há tempo de recuperar o atraso, mas, sim, estamos monitorando a situação climática até o próximo relatório de 1º de novembro”.
Voltando a Brandalizze, da Brandalizze Consulting, a avaliação é de que o tempo já joga contra. “Se voltar a chover, ainda é necessária uma semana para a umidade pegar bem e não comprometer as sementes”, lembra.
Como diz Marcos da Rosa, lá de Canarana, A janela ideal vai até final do mês. E já estamos no dia 13.
Como já se desconta aqueles produtores que arriscaram a “plantar no pó”, se espera uma revisão geral das estimativas, o que deverá ser combustível para melhores preços com o alinhamento que Vlamir Brandalizze acredita virá no WASDE de novembro: uma nova baixa na oferta dos Estados Unidos.
O único ponto a balançar o cenário é em relação à demanda. Ainda é um ponto a limitar as altas, como ocorre nesta sexta, 13, com os vencimentos em Chicago em leve baixa.
Os dados semanais (até 5 de outubro) e acumulados do ano, do USDA, anunciados pela manhã, mostram exportações americanas menores. Desde janeiro, 31% abaixo na comparação anual, deixando as projeções gerais pouco menores, para cerca de 47 milhões de toneladas.
Milho está melhor na foto
Em relação ao milho, o clima e a rentabilidade entram no radar. O clima pressiona a safra de verão, porém esse primeiro ciclo das duas safras anuais é pequeno. Já a rentabilidade veio mais esmagada que a soja este ano, em até 30% a menos, segundo o Cepea, de modo que muitos produtores já planejaram a safrinha de inverno um pouco menor.
A SLC Agrícola, por exemplo, já avisou, em fato relevante dias atrás, que cortará 20% da área com o cereal, trocando-a por mais algodão.
Roberto Carlos Rafael, da Germinar Corretora de Grãos, estima uma baixa no ciclo de verão, embora ainda mantenha certa dúvida se os produtores cortarão alguma coisa na safra de inverno ou se descontarão em menor uso de tecnologia, o que implica diretamente na produtividade.
A consultoria StoneX previu, na pesquisa do começo do mês, uma redução de quase 3% na produção almejada, para 27,5 milhões de toneladas na safra de verão.
Não há uma projeção acabada para o ciclo de inverno (março a julho), mas as estimativas de aumento da demanda, mais uma revisão menor da safrinha passada, de 109 para 108,3 milhões de toneladas, também alentam as cotações se cotejadas com o relatório do USDA de outubro.
Na comparação com a soja, este veio até mais altista. A produção americana perdeu quase 2 milhões de toneladas, devendo ficar em 382,6 milhões de toneladas; os estoques finais cederam de 56,4 para 53,6 milhões de toneladas; e as exportações subiram para 52,07 ante 51,4 milhões de toneladas do WASDE de setembro.
O desbalanço parece caminhar, juntando tudo, para se acentuar. De novo segundo Vlamir Brandalizze, virão mais cortes em novembro e exportações mais robustas.
O que está para se saber vem na carona da potencial tragédia no Oriente Médio, se a guerra de Israel escalar fora da Faixa de Gaza.
Na visão de Rafael, da Germinar, o petróleo pode disparar a um patamar beirando os U$ 100 o barril, o que certamente puxará os preços da energia como um todo, incluindo o etanol de milho, sobretudo nos Estados Unidos.