O potencial gigantesco da safra de soja do Brasil, à medida que o ano avança e o clima surpreende, aos poucos vai sofrendo cortes na previsão dos analistas.
Nesta quarta-feira, 19 de fevereiro, o Rally da Safra, expedição que percorre as áreas produtoras, organizada pela consultoria Agroconsult, divulgou sua primeira revisão nos números.
No mês de janeiro quando equipes começariam as visitas em campo a expectativa era de que o Brasil produzisse uma safra de 172,4 milhões de toneladas de soja, 10,8% a mais que na temporada anterior. Na época, a pouca chuva no Rio Grande do Sul e parte de outros estados, como Mato Grosso do Sul, já começava a preocupar.
Porém, no caso dos gaúchos, como o plantio ocorre mais tarde e a fase crucial das lavouras ainda não tinha chegado, não era possível cravar o tamanho da perda no estado.
“O Rio Grande do Sul enfrentou um período de pelo menos 30 dias consecutivos sem chuvas e temperaturas acima de 40 graus. A situação, que já era crítica na metade Sul do estado, acabou se espalhando para outras regiões e a estimativa de produtividade caiu para 39 sacas por hectare”, destacou a consultoria em comunicado divulgado hoje.
Em janeiro se esperava 49,5 sacas por hectare de produtividade média no Rio Grande do Sul, o que levaria a uma safra ainda quase igual ao ano passado, em 20,3 milhões de toneladas. Agora, com a estiagem e calor extremo, a safra gaúcha é projetada em 16 milhões de toneladas.
Poderia ser uma catástrofe para a safra brasileira, afinal, segundo a equipe do Rally, também registram perdas de produtividade pelo clima mais quente e seco os estados de Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo e Santa Catarina. Somados com o RS, eles “retiraram” 6,2 milhões de toneladas da produção nacional.
A perda em nível nacional, no entanto, será bem menor. Isso porque a Agroconsult revisou para cima a expectativa de produção em Mato Grosso, Goiás, Bahia, Minas Gerais e na região do Matopiba, que estão “acrescentando” 5 milhões de toneladas em relação ao que era previsto.
Com isso, a estimativa agora é que o Brasil produza 171,3 milhões de toneladas, o que ainda configura uma safra recorde, mas representa uma redução de 1,1 milhão de toneladas sobre o número pré-Rally, de 16 de janeiro. Na comparação com o ano passado, são 15,8 milhões de toneladas a mais.
A Agroconsult também ampliou em 100 mil hectares a área plantada no país, que passa a ser de 47,6 milhões de hectares - 1,7% acima da última temporada - a partir da avaliação de área por imagem de satélite da safra 24/25 realizada pelo Cropdata. Pela projeção, a produtividade média brasileira é de 60 sacas por hectare, pouco abaixo das 60,5 sacas vistas em janeiro.
Para chegar aos números, as equipes já percorreram 36 mil quilômetros em seis estados, avaliando as lavouras de soja.
O coordenador do Rally da Safra, André Debastiani, disse ao AgFeed que as principais alterações realmente ocorreram no RS e em Mato Grosso do Sul.
No caso gaúcho, em janeiro ainda havia previsões de chuva para o estado, mas de fato “semana após a semana, elas acabaram não acontecendo, então aquela situação que era muito mais crítica na metade sul do estado e na região das Missões, se alastrou para as demais regiões também, como o Planalto que também está sofrendo muito”, explicou.
Ele lembrou que nos últimos dias voltou a chover no Rio Grande do Sul, mas garantiu que a combinação de muitos dias sem chuva até agora, com temperaturas bastante elevadas, “geraram perdas irreversíveis”.