De importador há 30 anos, a exportador de até 40% da oferta de carne bovina. De um modelo de compra da mão para a boca, para contratos fixos e fidelização com os pecuaristas.
Esse é o novo cenário da pecuária brasileira de acordo com representantes do setor e da indústria que participaram do Fórum Pecuária Brasil, nesta quarta-feira, 17 de setembro, em São Paulo.
Na abertura dos painéis, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, destacou a evolução da indústria processadora, com seguidos recordes nas exportações. “A indústria tem evoluído, tem conquistado o mercado”, disse Perosa, citando a alta de 26% nas vendas externas no ano passado.
O executivo classificou 2025 como um “ano sensacional”, mesmo com o tarifaço dos Estados Unidos que elevou a taxação a 76% sobre a carne bovina brasileira e derrubou as vendas de 30 mil para entre 7 mil e 9 mil toneladas mensais.
Ou seja, o Brasil segue exportando aos norte-americanos por conta da competitividade e busca outros mercados.
“A despeito das tarifas e das questões geopolíticas, o brasileiro, principalmente o setor da pecuária, tem muita capacidade de articulação, de realocação dos seus produtos”, afirmou o presidente da Abiec.
Mesmo com a queda nas vendas para os Estados Unidos, a Abiec estima um aumento de 12% a 14% no volume físico e até de 16% no volume financeiro em 2025 com as vendas externas.
Até o próximo ano, a expectativa é de abertura de novos e importantes mercados, Japão, Coreia do Sul e Turquia. “São mercados altamente rentáveis”, disse Perosa.
Segundo projeções da Datagro, as exportações brasileiras devem representar 37,5% da produção total estimada de 10,46 milhões de toneladas de 2025 e atingir 39,5% sobre a oferta total de 9,75 milhões de toneladas previstas para 2026.
Guilherme Jank, analista da Datagro, avalia que os desafios do setor passam pela queda no dólar no Brasil e na demanda per capita de 5% em 2025 e até 9% em 2026.
Por outro lado, a oferta de carne bovina no Hemisfério Norte, maior região consumidora, deve ser equilibrada à demanda este ano e há uma previsão de déficit de 1,5 milhão de toneladas no próximo ano, o que abre espaço para o Brasil.
Para Eduardo Pedroso, diretor executivo de originação da Friboi JBS, o perfil da pecuária brasileira já mudou para se adaptar ao crescimento de novos mercados. O maior deles, a China, tem como restrição para a compra animais de até 30 meses de idade.
“Isso despertou a produção baseada na integração de lavoura e pecuária e trouxe três revoluções para os animais de corte: terminação e recria intensivas e melhoramento genético de bezerro de corte para ter um animal jovem, pesado e com pouca gordura”, explicou Pedroso.
Segundo ele, o dinamismo do mercado desafia, com as variações de oferta e demanda, o setor a se reinventar.
“A gente percebe que o cenário global é um cenário de estoque de gado comercial caindo, população crescendo, uma demanda por proteína muito sólida no mundo e um desafio de equilibrar nível de exportação com o volume destinado ao mercado doméstico”.
Para que o mercado permaneça abastecido em um cenário de oferta restrita, Pedroso avaliou que a indústria processadora tem optado cada vez mais por fidelizar os produtores por meio de parcerias.
“Antigamente, a gente comprava o boi quando ele estava gordo. Hoje, a gente compra o boi, muitas vezes, na barriga da mãe dele, ou seja, com meses ou anos de antecedência. Essa relação evoluiu muito. O nível de profissionalização da relação da indústria e do produtor está em outro patamar, isso nós não temos dúvida”, completou Pedroso.
Já para Alisson Navarro, diretor de exportação da Marfrig Global Foods, o Brasil ganha espaço no mercado global por ser “excessivamente cauteloso” e “rigoroso” nas regras sanitárias. “Indiscutivelmente, nesse ponto, o Brasil supera em muito o mundo”.
De acordo com o executivo, a fusão da Marfrig com a BRF cria uma dinâmica para a estratégia de exportação da carne bovina muito próxima da que acontece em suínos e frangos e abrirá novas oportunidades para a companhia com a integração em novos mercados.
Resumo
- Para Abiec, Brasil deve ampliar exportações de carne em até 16% em 2025, mesmo com tarifas dos EUA
- Segundo entidade, indústria tem conseguido realocar embarques e novos mercados como Japão, Coreia do Sul e Turquia podem ajudar a impulsionar o crescimento.
- Reinvenção do setor, com integração lavoura-pecuária, genética e fidelização de pecuaristas, tornou País fornecedor confiável