Muitas vezes alvo de críticas e cobiçada por governos que buscam arrecadar mais, a cadeia produtiva da soja se apressou em divulgar um estudo sobre a importância do setor para a economia do país.

A principal conclusão é que cresceu a participação da soja no PIB brasileiro, refletindo também em mais empregos. O número de ocupações geradas nas cadeias da soja e do biodielsel somadas chegou a 2 milhões de pessoas, um avanço de 80% em relação a 2012, início da série histórica.

A pesquisa foi feita pelo Cepea, Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada em parceria com a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais, a Abiove.

Os dados mostram que o PIB –Produto Interno Bruto - da cadeia produtiva da soja e do biodiesel chegou a R$ 673,7 bilhões em 2022, cerca de 27% de todo o agronegócio nacional e 7% do PIB do país.

"Desde as discussões sobre a mudança no percentual de mistura do biodiesel, vimos que era necessário ter mais dados sobre o setor, por isso resolvemos fazer este estudo, que vai nos ajudar a propor políticas públicas e também ajudar o próprio governo a avaliar políticas que afetem o segmento”, disse ao AgFeed o diretor de Economia e Assuntos Regulatórios da Abiove, Daniel Furlan.

O patamar atual de geração de riqueza pela cadeia da soja está bem acima do que era registrado há 12 anos, segundo o estudo, quando a oleaginosa e seus derivados, representavam 9% do PIB do agronegócio.

A metodologia considera não apenas as atividades "dentro da porteira", do cultivo até a colheita, mas também as etapas de comercialização e agroindústria, além do que o Cepea chama de "agrosserviços", atividades diretamente relacionadas, como o transporte e o armazenamento.

De 2010 a 2022, o PIB da cadeia produtiva expandiu da soja teve expansão de 58%. No mesmo período, segundo o estudo, o agronegócio cresceu 8% e a economia, 12%. "Isso indica um aumento consistente da disponibilização de produtos ao consumidor final pela cadeia produtiva", destaca o relatório.

Daniel Furlan disse que entre os dados que surpreenderam o setor foram os efeitos indiretos dos serviços no PIB e também na geração de empregos. A maior parte da população ocupada na cadeia está nos agrosserviços, com 1,35 milhão de empregos, alta de 70,5% em relação a 2012.

A pesquisa mostra que a capacidade de geração de empregos indiretos quando a soja é processada, nas agroindústrias, é maior do que se for apenas for colhida e exportada. A agroindústria gerou em 2022 mais de 767 mil empregos indiretos e a produção de soja dá origem a 585 mil ocupações indiretas, relacionadas a serviços.

"Imagina se o percentual da produção que processamos internamente deixasse de ser 1/3 e passasse para 2/3 na safra total do país, certamente teria um efeito muito positivo", afirmou Furlan.

A Abiove prevê que este ano seja processadas 53 milhões de toneladas de soja nas indústrias brasileiras, de uma safra total estimada em 155 milhões de toneladas na temporada 2022/2023. No ano passado o volume esmagado foi de 51 milhões de toneladas, mas a produção total, em função dos problemas climáticos na região Sul, ficou em 128 milhões de toneladas.

Furlan afirma que, se houver maior demanda, ou do mercado externo, ou pelo aumento de mistura de biodiesel no diesel, é possível processar até 66 milhões de toneladas sem que seja necessário investir na ampliação das unidades, somente com a a capacidade já instalada.

Para isso o setor espera com ansiedade o início das exportações de farelo de soja para a China. Um acordo sanitário foi assinado entre os governos do Brasil e da China em 2022, mas os negócios ainda não iniciaram. A principal barreira, segundo Furlan, é uma tarifa de 5% aplicada pelos chineses sobre o farelo brasileiro, enquanto a soja em grão é onerada em 2%.