O orçamento de custeio da Empresa de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) atingiu R$ 364 milhões em 2025. É mais que o dobro dos R$ 176 milhões aprovados em 2024 e 143% superior aos R$ 150 milhões efetivamente empenhados. Mas ainda é abaixo dos R$ 500 milhões desejados pela diretoria da estatal para recompor os cortes ocorridos ano a ano.

Com alívio no caixa e o reforço nas receitas, a estatal, que enfrenta grave crise financeira há quase uma década, anunciou o descongelamento de novas pesquisas para o setor. Essas pesquisas estavam aprovadas e as chamadas para o início dos projetos dependiam dos recursos.

“Foi um incremento considerável e nos dá um grande alívio para trabalhar e retomar os novos projetos”, disse ao AgFeed a diretora de Administração da Embrapa, Selma Beltrão.

Segundo ela, durante a estiagem de recursos, principalmente no ano passado, a estatal “priorizou ações em campo e em laboratório”, enquanto as novas pesquisas aprovadas precisaram ser seguradas.

“Aguardamos a programação orçamentária para que o fluxo da liberação de recursos entre no ritmo normal”, explicou Selma.

De acordo com a diretora da Embrapa, o “orçamento turbinado” de 2025 é fruto da articulação junto ao Ministério da Agricultura e o compromisso do governo federal para injetar mais recursos na instituição de pesquisa.

Do total aprovado, R$ 29 milhões serão de emendas individuais de parlamentares, valor que será dividido para projetos específicos entre mais de 30 unidades de pesquisa da Embrapa.

Fundo misterioso

Paralelamente à votação da lei orçamentária de 2025, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) anunciou à presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, a intenção de criar um fundo de R$ 100 milhões anuais para dar suporte às pesquisas da estatal.

O fundo seria capitaneado pelo ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, um dos integrantes do grupo de notáveis que apresentou à Embrapa um plano de reestruturação. Procurado, o ex-ministro não se manifestou.

Segundo a diretora de Administração da Embrapa, ainda não há detalhes de como será o modelo do fundo.

“Pode ser um fundo patrimonial, aí é preciso passar pelas aprovações do Executivo e Legislativo, ou na linha do que já temos com o setor privado, como a Bayer, sem muita burocracia”, explicou

A CNA informou, por meio da assessoria de comunicação, que não está se manifestando sobre o tema.

Nos bastidores, uma das alternativas para abastecer o tal fundo seriam os recursos captados para o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). No entanto, o presidente da CNA, João Martins, tem procurado representantes do agronegócio para pedir a colaboração para a arrecadação.

“Não sei se seria do Senar. Quando fala CNA, a gente está entendendo que é do conjunto, o presidente da CNA convidou outras áreas empresariais a também contribuir, e esses R$ 100 milhões já são um início que a CNA está colocando para esse trabalho com a Embrapa”, explicou a diretora, que destacou a necessidade de o projeto ser perene e “não para um ano só”.

Ainda de acordo com Selma, as outras formas de captação de recursos para a Embrapa, como a tributação do agronegócio ou o lançamento de Fundos de Investimentos nas Cadeias Produtivas do Agronegócio (Fiagros) seguem em discussão.

Essas alternativas, bem como os fundos patrimoniais, foram reveladas pelo AgFeed após relatório do grupo de trabalho da estatal criado para discutir a captação de recursos para a Embrapa.

Concurso

Com 7.486 funcionários, que custam R$ 4 bilhões aos cofres públicos, a Embrapa espera ampliar o quadro ainda este ano. As provas do concurso para 1.027 novas vagas foram realizadas no último domingo, 23 de março, com 280 mil inscritos para 189 perfis de carreiras.

A previsão da estatal é homologar o concurso no segundo semestre e iniciar a contratação, segundo a diretora. A estatal já teve 10.800 funcionários, mas estava há 15 anos sem realizar o processo seletivo.