A tensão entre EUA e China segue influenciando o mercado da soja em meio à falta de novidades sobre a oferta e demanda globais.
Desde a semana passada, com a decisão de Donald Trump de aplicar tarifas sobre produtos chineses, o país asiático fez o mesmo e passou a aplicar taxas de até 15% sobre a soja norte-americana.
Com o produto americano mais caro, o mercado reforça expectativas de que a China compre mais soja do Brasil, o que vem garantindo prêmios mais altos para a soja no porto de Paranaguá.
Nesta terça-feira, a soja para embarque entre abril e maio em Paranaguá, um momento ainda de pico na oferta, tinha prêmio de até 60 centavos de dólar por bushell acima da Bolsa de Chicago, que é a referência internacional.
Segundo a especialista da agência de preços Argus Media, Nathalia Gianetti, desde a semana passada o indicador do chamado paper market vem atingindo os níveis mais altos desde 2022, época em que os prêmios dispararam em função da fase inicial do conflito entre Rússia e Ucrânia, que trazia preocupações com o fornecimento global de grãos.
Pelo indicador da Argus, antes de entrarem em vigor as tarifas da China, no dia 28 de fevereiro, o prêmio da soja estava em 40 centavos de dólar acima de Chicago. Na quarta-feira de cinzas, chegou a 90 centavos, ou seja, uma alta de 125% somente nos dias do carnaval em que era feriado no Brasil mas o mercado mundial da soja seguia operando.
Apesar dos prêmios suportados, analistas ouvidos pelo AgFeed não acreditam que haja uma alta significativa na demanda chinesa pela soja brasileira.
Ismael Menezes, da MD Commodities, explica que mesmo antes das tarifas a soja dos EUA já era mais cara do que o Brasil para chegar na China. Enquanto aqui custava US$ 420 por tonelada, no mercado americano saía por US$ 460. É possível que a diferença entre os dois países fique ainda maior com a taxação, chegando a US$ 60.
Em 2024, a China importou um total recorde de 105,03 milhões de toneladas de soja, um aumento de 6,5% em relação ao ano anterior.
Dos EUA, os chineses compraram 22,13 milhões de toneladas em 2024, uma redução de 5,7% em relação a 2023. No mesmo período a China importou 74,65 milhões de toneladas do Brasil.
Fontes de corretoras internacionais ouvidas pelo AgFeed calculam que poderá haver um acréscimo de até 6 milhões de toneladas – de soja brasileira comprada pela China – em função da guerra comercial.
A maioria, porém, acredita que é muito difícil fazer esse cálculo porque não se sabe quanto tempo as tarifas devem ficar em vigor. Muitos acreditam que a posição dos dois países ainda é considerada branda e que poderá haver um acordo comercial, conforme já ocorreu em 2018, no primeiro governo Trump.
Outro aspecto nessa avaliação é o fato de a China comprar soja dos EUA no período de entressafra do Brasil. Segundo Ismael Menezes, o país asiático já estaria abastecido para essa entressafra, entre setembro e novembro deste ano. Portanto um impacto mais significativo só poderia ser visto em 2026, se as tarifas durarem até la.
Relatório do USDA traz poucas alterações
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou nesta terça-feira seu relatório mensal de oferta e demanda, que costuma influenciar o mercado da soja.
As previsões para a safra da América do Sul foram mantidas. A agência americana prevê que a safra de soja do Brasil 2024/2025 seja de 169 milhões de toneladas, uma estimativa muito próxima do que vem sendo apontado por consultorias privadas, apesar da quebra na produção do Rio Grande do Sul. Na Argentina, foi mantida a previsão de uma colheita de 49 milhões de toneladas de soja.
Globalmente, o USDA baixou a expectativa para os estoques finais de soja. de 124,34 para 121,41 milhões de toneladas. O consumo global da oleaginosa foi elevado pelo de 406,18 milhões para 409,16 milhões de toneladas.
Apesar disso, como todos os indicadores para a safra americana foram mantidos, não houve reflexo significativos nos preços. A soja com vencimento em maio na Bolsa de Chicago fechou praticamente estável, em US$ 10,11 por bushel.