Salvar vidas é a prioridade no Rio Grande do Sul. E ainda não é possível contabilizar os prejuízos humanos e materiais deixados pela maior catástrofe ambiental vivida pelo estado.
No entanto, é possível ter um cenário prévio do que está acontecendo com o agronegócio gaúcho. No caso mais específico da produção de proteína animal, o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, tem informações sobre 10 plantas de processamento de aves, suínos e ovos atingidas pelas enchentes.
Santin é gaúcho, e está em Buenos Aires, capital da Argentina, para participar de um congresso internacional sem conseguir voltar a Porto Alegre, já que o aeroporto Salgado Filho está fechado.
“Tenho conversado muito com as empresas e produtores por mensagens e por telefone. Não é possível ter informações muito conclusivas agora, mas já sabemos que 10 plantas de aves, suínos e ovos foram atingidas”, afirma Santin.
Segundo Rogério Kerber, diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Rio Grande do Sul, o estado teve cinco plantas de carne suína afetadas pelas enchentes, pertencentes a BRF, JBS, Dália Alimentos, Cooperativa Santa Clara e Cooperativa Ouro do Sul.
Essas cinco unidades representam cerca de um terço de todo o abate de suínos no Rio Grande do Sul. A média de abate mensal no estado é de 730 mil animais por mês. Há notícias de retorno parcial nesta terça das plantas da BRF, JBS e Ouro do Sul. As outras duas seguem paralisadas.
“A grande dificuldade para retomar a atividade é a falta de mão de obra. As plantas chegam a buscar seus funcionários em 10 municípios. Alguns locais já foram abertos, mas só para quem cuida da segurança e para levar alimentos para a população”, conta Kerber.
Ele conta que ainda não é possível saber qual o tamanho dos prejuízos para os criadores de suínos, já que as empresas seguem sem conseguir contato com pelo menos 40% das propriedades, principalmente pela falta de energia elétrica.
A Cooperativa Dália, que produz carnes e laticínios, depois das enchentes de setembro do ano passado, precisou elevar suas máquinas a um metro do chão para evitar danos.
“Mas agora, foi muito pior, com a água atingindo uma altura muito grande. Sei que eles já começaram a limpeza, depois que a chuva deu uma trégua. Mas como falta energia, a limpeza também fica prejudicada”, afirma o presidente da ABPA.
Santin afirma que as empresas estão tentando se ajudar. “A Seara e a BRF têm trocado rações, uma alimentando os animais da outra, por conta da localização das fábricas, que ficam separadas por uma ponte que cedeu”.
Sobre a BRF, as informações que chegam é que das cinco fábricas que a companhia possui no Rio Grande do Sul, quatro voltaram a operar nesta segunda-feira, dia 6. A quinta planta tem previsão de voltar a funcionar na terça-feira, dia 7.
Um dos grandes problemas enfrentados pela BRF, e por todo o estado, é a questão logística. Santin afirma que as várias estradas alagadas e fechadas devem levar a um desabastecimento para a população.
“Alguns caminhões que estavam a caminho de um certo destino pararam e começaram a fornecer a carga para alimentar a população de algumas cidades que estão basicamente isoladas”, conta o presidente da ABPA.
Santin conta que uma tentativa é utilizar o sistema rodoviário da região de Lajeado, que fica a cerca de 140 quilômetros de Porto Alegre.
Mas a situação é tão séria, que ao pesquisar no Google sobre o trajeto de carro entre as duas cidades, que normalmente levaria pouco mais de duas horas, tem um tempo estimado de 12 horas nesta segunda, por conta das estradas fechadas.
Segundo relatório do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), os produtores gaúchos relatam dificuldades não só para transportar a carga, mas também para adquirir insumos.
“Relatos de agentes consultados pelo Cepea também indicam que algumas propriedades de produção suinícola e avícola foram danificadas e agentes ainda estão à espera de que a situação seja normalizada para que os prejuízos sejam calculados”, diz o relatório.
Os produtores de leite do estado também sofrem, principalmente com o isolamento provocado pelas chuvas. O presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang, informa que muitos produtores não têm recolhido leite por conta do isolamento, com os impactos começando a chegar na indústria.
"Sei de propriedades, com grande número de vacas, que estão ordenhando uma vez ao dia só porque têm pouquíssimo combustível. Os produtores estão fazendo alguns trajetos a pé, pegando óleo em pequenas quantidades, enquanto for possível. Temos relatos de uma enorme diminuição de ração para os animais, pois faltará o produto em alguns estabelecimentos", reforça Tang.
No caso da pecuária de corte, o Cepea relata que o grande problema dos criadores é transportar os animais para as unidades de abate, por conta da situação das estradas.
Em nota, a BRF afirma que “acionou o seu plano de contingência no Rio Grande do Sul desde a semana passada, após as fortes chuvas que ocorrem na região".