Com o calor intenso, chuvas irregulares e problemas climáticos em diferentes regiões, a equipe da Agroconsult, uma das principais consultorias de mercado do País, vem revisando quase que semanalmente as projeções para a safra que são apresentadas aos seus clientes.
Os números mais recentes, já considerando as chuvas do último fim de semana, foram apresentados hoje pelo presidente da Agroconsult, André Pessôa, durante um evento de Previsão de Safra promovido em São Paulo pela Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (ANEC).
"Verificamos um replantio de 500 mil hectares de soja, a maior parte disso em Mato Grosso, e consideramos este um número expressivo já que poucas vezes vimos um replantio acima de 1% da área estimada para a safra”, afirmou Pessôa.
O motivo do replantio foi a irregularidade das chuvas em Rondônia, Sudoeste de Goiás, Norte de Mato Grosso do Sul e principalmente nas regiões Oeste e Sudeste de Mato Grosso.
Outra marca desta safra tem sido o ritmo mais lento da semeadura, devido ao atraso das chuvas que faz boa parte dos produtores esperar mais para avançar com os trabalhos em campo. Ainda assim, segundo a Agroconsult, "o descompasso não é tão grande em relação à media histórica, porque não ocorre em todas as regiões de forma tão intensa”.
O maior problema realmente deve ser o efeito do clima sobre a produtividade das lavouras. Em Mato Grosso, do início de outubro até 20 de novembro, 71% das áreas tiveram de 30 a 40 dias sem chuva (não necessariamente dias seguidos), segundo uma ferramenta usada pela consultoria.
Neste cenário, a Agroconsult cortou de 169,1 milhões de toneladas para 161,6 milhões de toneladas a estimativa para a produção de soja do Brasil na safra 2023/2024. Se confirmado, o volume será recorde, ficando acima da última temporada, quando foram colhidas 159,7 milhões de toneladas da oleaginosa.
Um dos fatores que contribui para manter o crescimento é o avanço de área. Devem ser cultivados 45,7 milhões de hectares de soja nesta safra, um aumento de 2,9% em relação ao ano anterior.
André Pessôa também alertou para o aumento expressivo na produção de soja da América do Sul, já que o El Niño deve trazer de volta a produção argentina aos patamares históricos. Na safra passada a soma da produção do Brasil, Argentina, Paraguai, Bolívia e Uruguai foi de 193,7 milhões de toneladas. Agora a estimativa é de que os 5 países juntos possam colher 228,6 milhões de toneladas.
Nas exportações o Brasil deve manter em 2024 praticamente os mesmo volumes embarcados este ano, que chegariam a 100,9 milhões de toneladas, 0,2% a menos se comparado a 2023.
Cenário confirma área, colheita e exportações menores para o milho
Para o milho, a Agroconsult prevê que a queda na área plantada total (que inclui a primeira e a segunda safra) deve ficar em 5,1%. Na safra de verão o cultivo diminiuiu em mais de 10%, já na safrinha (maior do País), a redução estimada no momento é de 3,4%.
O principal fator que está influenciando a decisão dos produtores é a rentabilidade "quase zero” no milho, segundo André Pessôa. No mesmo período do ano passado, quando se tomava a decisão de comprar os insumos para a segunda safa, era possível obter uma margem de 30%.
Pessôa disse ao AgFeed que a melhora recente nos preços do milho – que poderá se estender em dezembro – pode sim fazer com que alguns produtores retomem a intenção de plantar milho. "Mas isso já na nossa conta, se não considerássemos isso, a queda prevista seria ainda maior”, afirmou.
O atraso no plantio da soja e o consequentemente aumento do risco climático para segunda safra é outro fator que vem retardando a compra de insumos para o milho.
Segundo a Agroconsult, nesta época do ano, em 2022, Mato Grosso já havia comprado 98% das sementes de milho da segunda safra. Mas até agora só foram vendidas 74%.
Nos fertilizantes o atraso nas compras no estado é maior, 17 pontos percentuais atrás do ano passado. Já nos defensivos o quadro piora: 47% comprados até o momento em Mato Grosso, ante 97% na safra passada.
Neste cenário, a previsão da Agroconsult é que o Brasil produza 128,7 milhões de toneladas de milho, bem abaixo das 138,4 milhões de toneladas da safra 2022/2023.
As exportações devem cair de 55 milhões de toneladas este ano para 45 milhões de toneladas em 2024, mas a perspectiva no longo prazo, com a participação crescente da China no mercado, é de uma recuperação.