O tempo em que diferentes estados brasileiros lançavam um "plano safra” regional a cada ano vem ficando para trás, com a escassez de recursos nos cofres públicos. Mas alguns governos, como o estado de São Paulo, já descobriram a saída: recorrer ao mercado de capitais, por meio do tão falado Fiagro, que pode ajudar a financiar a produção agrícola.

A primeira iniciativa neste sentido foi anunciada este mês pelo governo paulista, que fechou uma parceria com a Suno Asset Management. O objetivo é criar um Fiagro – fundo de investimento em cadeias agroindustriais – para o estado, com foco no financiamento aos pequenos produtores rurais, com juros mais vantajosos.

E outras quatro unidades da federação estudam movimento semelhante, segundo confirmou ao AgFeed o diretor de agronegócio do Grupo Suno, Octaciano Neto.

No sistema anunciado em São Paulo, o governo colocará seus recursos na Desenvolve-SP, a agência de fomento do estado, e esta, por sua vez, aplicará no Fiagro, que deve ser lançado. Na visão do presidente da agência de fomento, Ricardo Brito, o fundo tem como objetivo “trazer mais um tipo de recurso para o produtor”.

Ex-secretário de Agricultura do Espírito Santo, Octaciano Neto conhece as dificuldades dos cofres públicos. Ele aponta que a grande vantagem desse novo tipo de financiamento, que pode ser considerado como o chamado blended finance – quando diferentes organizações unem capital para investir de forma conjunta – é o fato de ajudar a preservar os recursos do tesouro estadual.

Dentro do fundo, o governo do estado, portanto, será o cotista sênior, enquanto as empresas que participarem serão as cotistas subordinadas. “Quem gera o crédito protege o capital do estado para trazer o privado para subordinar”, diz Octaciano.

No modelo que está sendo estudado, se houver inadimplência, por exemplo, quem sairá prejudicado é o cotista subordinado, que no caso são as empresas privadas.

Segundo Octaciano Neto, essas empresas poderão ser tanto indústrias quanto cooperativas que vendem aos produtores. “A cada quatro reais que o governo investir, o setor privado entra com um”, comenta o executivo.

“Esse modelo que estamos criando junto com o governo cumprirá o mesmo objetivo do Plano Safra que é implementado anualmente pelo governo federal, com as taxas competitivas na ponta para o produtor. O diferencial é que o dinheiro irá retornar para o governo estadual”, afirma Octaciano, da Suno.

Com isso, existe uma tendência de que os clientes trazidos para o investimento tenham os interesses alinhados. “Só vai ter cheque bom”, brinca o diretor da Suno.

Na ponta do produtor, Brito, da Desenvolve-SP, afirma que quem receberá os aportes não tem um perfil específico. “O princípio é que seja uma atividade produtiva, eficiente, ou seja capaz de prosperar e gerar renda no estado, em culturas nas quais São Paulo tenha melhor potencial”, comenta.

Os principais produtos agrícolas cultivados no estado atualmente são: café, laranja, arroz, amendoim, cana-de-açúcar, milho e soja. Dentre as propriedades agropecuárias de São Paulo, 78,46% possuem até 50 hectares.

É só o começo

Octaciano Neto revelou ao AgFeed que mais quatro estados brasileiros já estão em processo de estudo para a criação de um Fiagro nos moldes do paulista, seja por meio de conversas com secretários de agricultura, gabinetes e até mesmo visitas presenciais. Sem dizer nomes, o diretor afirmou que dois são da região Sul do Brasil, um do Norte e o outro do Sudeste.

“Os estados estão empolgados com essa possibilidade, é um investimento em que o dinheiro retorna para o caixa, além de ajudar o produtor rural com uma taxa diferenciada”, finaliza.